O presidente do grupo Vila Galé vive em Lisboa e não se incomoda com a enchente de turistas na capital. O que é que o deixa irritado? As taxas turísticas.
Se é certo que é preciso que empresários e políticos se articulem para que o turismo nacional seja sustentável e não colida com quem cá vive, é também certo que as perspetivas para os próximos tempos “são boas”. O setor visto por Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé, o segundo maior grupo hoteleiro do país, em entrevista ao ECO.
Como vê a evolução do turismo nacional?Temos de consolidar o nosso turismo. Isto é tudo efémero. Um dos grandes entraves em Portugal é que há muita gente invejosa. E há dois tipos de inveja: uma inveja saudável, que é olhar para alguém e dizer “esta pessoa tem tido um êxito tremendo e eu quero é ser como ela”. É a inveja americana. Em vez de desejar mal ao outro, tenta-se imitar o outro.
Em Portugal, diz-se logo “há ali qualquer coisa estranha, isto mais tarde ou mais cedo vai rebentar”. Há uma tendência para puxar para baixo, em vez de tentarmos ir atrás das pessoas que estão bem na vida. Temos uma dor de corno tremenda e só ficamos felizes no dia em que essa pessoa cair. Este é o sentimento que nos dá cabo do país.
Temos uma dor de corno tremenda e só ficamos felizes no dia em que essa pessoa cair. Esse é o sentimento que nos dá cabo do país.
Mas o turismo, curiosamente, teve um extraordinário efeito mobilizador do país. Nós nunca conseguimos mobilizar este país para nada, a não ser para a seleção. Mas o turismo mobilizou e as perspetivas estão boas. Eu próprio achei que o que estava a acontecer em Portugal se devia muito aos problemas de outros mercados, como o Egito, a Turquia ou a Tunísia, que vivem momentos de grande instabilidade. E também é. Mas, em Portugal, há uma motivação para o turismo. Nós somos um país pequenino, a indústria já não é o nosso forte. O que é que podemos fazer hoje? Temos a área do turismo, que também não pode crescer excessivamente, porque não há espaço para isso e porque também se torna numa coisa desagradável. A partir do momento em que o turismo comece a colidir com quem cá vive, começa a ser complicado.
Ainda não chegámos a esse ponto?Não.
Mesmo em Lisboa?Com o que não se convive é com um desemprego brutal, não é com um bocado de turismo a mais.
Moro no Restelo e vou muitas vezes caminhar até Belém. Lembro-me de ir ali na época baixa e não ver ninguém. Agora, mesmo no inverno, com chuva, vê-se fila nos pastéis e nos Jerónimos. Nós não estávamos habituados a isso. Mas com o que não se convive é com um desemprego brutal, não é com um bocado de turismo a mais. O que também temos de fazer é empurrar os turistas para o resto do país, dispersá-los, por exemplo, para o Alentejo. No futuro, nem precisávamos de fazer muito mais coisas. Estes canteiros todos que o Fernando Medina mandou colocar vão florir a cidade. Isto é uma coisa fabulosa para Lisboa. Para os turistas, sim, mas, antes de mais, é para nós. Só continuam a irritar-me as taxas turísticas.
Mesmo agora, em que já há resultados, em que já se sabe que as receitas com estas taxas vão servir para pagar 18 milhões de euros em investimentos na cidade?As câmaras, quando lhes falta dinheiro, não tem problema nenhum: taxam.
Continuo, por princípio, a ser contra. Os municípios, se têm dificuldades de dinheiro, têm de fazer, saudavelmente, o que as empresas fazem. Se estiver numa empresa em que as contas estão apertadas, tem de se puxar pela imaginação para gastar menos dinheiro, para reestruturar. As câmaras não, as câmaras vão ao pelo dos cabelos. Falta-lhes dinheiro, não tem problema nenhum: taxam.
Mas, sendo inevitáveis, concorda com a forma como as taxas estão a ser aplicadas?Não. Não concordo minimamente. Só há uma atenuante nisso tudo, em que o Medina se limpou perante mim, que foi destinar o dinheiro à recuperação do Palácio da Ajuda.
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“Temos de consolidar o nosso turismo. Isto é tudo efémero”
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