O ECO recolheu a opinião de 25 CEO de grandes empresas sobre os temas que vão marcar o próximo ano e os riscos e oportunidades que antecipam para os seus setores. Confira as respostas.
Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal
Que fatores vão marcar a economia no próximo ano e que riscos e oportunidades antevê para o seu setor?
Os relatórios de Mario Draghi e Enrico Letta, publicados recentemente, apontam a infraestrutura digital como um fator crucial para o relançamento da economia europeia. Da indústria transformadora aos cuidados de saúde, dos transportes aos serviços públicos, da investigação às PME, acreditamos que a prosperidade da Europa e o seu futuro assentam em infraestruturas e serviços digitais de ponta. Este caminho traz-nos inúmeros desafios, mas gostaria de realçar dois que considero basilares: o investimento e a regulação.
Após o quadro desenhado pelos relatórios referidos, conseguimos identificar que o atual cenário político e regulatório europeu não está a promover a inovação, trava o investimento e não permite que o espaço europeu lidere num mundo cada vez mais tecnológico. A Europa enfrenta neste momento um quadro regulamentar rigoroso e vê-se confrontada – assim como em Portugal – com uma fragmentação do mercado, o que continua a ser um forte obstáculo para a competitividade e inovação.
Por outro lado, temos sempre o risco da inflação que é consequente do cenário geopolítico internacional e que impacta veementemente na economia global.
No entanto, 2025 ficará marcado por um Parlamento Europeu renovado e uma nova Comissão Europeia, o que poderá trazer uma nova oportunidade para a Europa. Tendo o diagnóstico feito dos principais desafios deste setor, é tempo de agir e de fazer com que a Europa lidere a próxima revolução digital e já temos vários sinais positivos que nos chegam da Comissão Europeia. A Presidente Von Der Leyen comprometeu-se a “facilitar a atividade empresarial no mercado único, investir massivamente na competitividade sustentável e (…) colocar a inovação no centro da nossa economia”. Henna Virkkunen, Vice-Presidente Executiva, referiu que a próxima Lei das Redes Digitais será uma “oportunidade para reduzir a burocracia e garantir que a Europa seja um local atrativo para os investimentos”. Esta visão vai ao encontro da que temos e que foi recentemente subscrita por vários CEO europeus, culminando em quatro pontos fundamentais onde é preciso atuar:
Simplificação e desregulamentação no centro do Digital Networks Act: Todos os cidadãos devem ter acesso a redes gigabit e o setor das telecomunicações deve voltar a ser um setor orientado para o crescimento. Isto exige uma reforma urgente do atual quadro regulamentar com o próximo DNA, visando, em geral, uma mudança do controlo ex-ante para o controlo ex-post, tal como proposto pela Comissão Europeia no seu Livro Branco, bem como no relatório de Mario Draghi. Nas suas palavras, deveríamos “aumentar a segurança jurídica e reduzir os encargos regulamentares e administrativos, assegurando a existência de menos regras, mais claras, mais adequadas à sua finalidade, preparadas para o futuro e coerentes”.
António Brochado Correia, presidente da PwC Portugal
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Incerteza e ansiedade sobre o futuro é o que tem marcado o mundo nos últimos anos, com efeitos ao nível da saúde mental dos cidadãos, e irá continuar. Incerteza na geopolítica, na economia, na tecnologia e na qualidade de vida das pessoas. Dado este enquadramento, temos de incorporar as mudanças na nossa rotina, pessoal e empresarial, nunca sabendo o que nos espera, mas sabendo que temos de estar preparados. Termos as competências técnicas necessárias, mas são sobretudo as competências humanas as mais escassas e mais determinantes num mundo onde o estabelecimento de pontes e relações será cada vez mais relevante. Olharmos o mundo e compreendermos as tendências, de mercado, de crescimento, de setores, ganhando competitividade e afirmando a nossa estratégia. Apesar dos riscos associados à Europa e aos movimentos globais, as economias global e nacional continuarão a crescer, em regiões e setores que vão alternando, tendo nós que fazer boas escolhas e, sobretudo, implementar bem, concretizando o potencial do país e das pessoas, sempre com esperança e confiança no futuro, numa cumplicidade de competência coletiva.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
No nosso setor, o risco advém sobretudo de duas áreas: o mercado e a confiança dos agentes económicos; e a regulação associada ao que fazemos. Contudo, ambos são igualmente oportunidades: do mercado, sempre que conseguimos capturar mais valor e entrar em novos produtos e serviços, como são os casos do digital e da necessária consolidação empresarial; e da regulação, onde o volume e a complexidade precisam de um bom “tradutor” que dê o conforto necessário ao seu cumprimento. Pelo que, atendendo às várias circunstâncias e ao trabalho interno que temos vindo a desenvolver, olho para o próximo ano com otimismo.
António Lagartixo, CEO e Managing Partner da Deloitte
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Os fatores que podem marcar a economia nacional e global no próximo ano incluem uma combinação de tendências estruturais, dinâmicas de mercado e eventos de elevada complexidade. O início de 2025 será particularmente importante, desde logo com a tomada de posse do novo presidente norte-americano, cuja agenda programática poderá implicar mudanças geopolíticas e geoeconómicas relevantes.
Se por um lado, existe a esperança de que possa existir um recuo na escalada dos conflitos militares, por outro, na esfera económica, um dos principais pontos de interrogação será o impacto das políticas protecionistas, que deverão ganhar maior preponderância com a nova Administração dos EUA.
A possibilidade de implementação nos EUA de políticas mais restritivas, de natureza universal ou específica para as importações de algumas zonas do Globo, pode conduzir a uma escalada nos preços, com impacto no comércio, crescimento económico e política monetária à escala global.
Neste contexto é relevante destacar a complexidade que a economia global hoje apresenta, pois é incontornável referir a evolução ao longo das últimas décadas, onde a China tem vindo a ganhar maior preponderância, e assumindo-se hoje como o principal parceiro comercial de um conjunto alargado de países.
Desde o arranque do milénio a China tem reforçado esta aposta de forma consistente, tendo passado de 4,3% do comércio global (7º lugar) em 2000 para 14,2% (1º lugar) em 2023. Por oposição, no mesmo período, os EUA caíram de 12,3% para 8,5%.
Será, por isso, interessante perceber como estas dinâmicas politico-económicas irão afetar o mundo, a Europa e, em especial Portugal, durante o próximo ano.
Em Portugal, e até considerando a dimensão do nosso mercado, as exportações têm sido, de forma natural, um dos principais motores do crescimento económico, representando cerca de 50% do PIB nos últimos anos, o que nos torna particularmente vulneráveis às mudanças e flutuações nas políticas comerciais globais. Apesar de Portugal exportar maioritariamente para a UE, e os Estados Unidos representarem somente cerca de 8%, o reforço destas políticas poderá ter impactos a nível global, afetando§ a generalidade dos mercados.
Perante um mercado global em transformação, é fundamental que as empresas portuguesas consigam antecipar as potenciais alterações nas dinâmicas comerciais e adaptar rapidamente as suas estratégias de operação. Isso pode passar por diversificar mercados, apostar em novos produtos e explorar novas oportunidades, passos críticos para mitigar os riscos e assegurar a competitividade face a outras economias.
Embora saibamos que vivemos tempos desafiantes, acredito que as empresas que colocarem a inovação e a tecnologia no centro da sua estratégia, e as que investirem em talento altamente qualificado, estarão melhor posicionadas para enfrentar o futuro. O sucesso dependerá, por isso, da capacidade de adaptação a um contexto económico global e nacional em constante evolução.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
A inovação, a transformação digital e tecnológica, e a sustentabilidade vão continuar a marcar a agenda global e irão permanecer como o principal desafio para os líderes.
O impacto das alterações climáticas e a necessidade da transição energética, sabemos, irão continuar a ocupar um lugar de destaque nas estratégias organizacionais. Segundo um estudo da Deloitte, o CxO Sustainability Report (2024), 70% dos gestores mundiais acreditam que as alterações climáticas terão um impacto significativo na estratégia e operação das suas organizações nos próximos três anos. O tema ganha relevância acrescida em 2025, ano em que se assinala uma década desde a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas, um marco que constitui mais uma oportunidade para avaliar o progresso alcançado e renovar os compromissos assumidos rumo à neutralidade carbónica.
Na área da inovação e transformação, a inteligência artificial (IA), cada vez mais presente, irá manter-se como um elemento incontornável no nosso desenvolvimento. Embora já existam bons exemplos da sua utilização para aumentar a eficácia e eficiência de diversas organizações, os dados demonstram que o investimento das empresas nestas tecnologias continua aquém das previsões iniciais. A passagem da fase de desenvolvimento à implementação de projetos de IA está ainda longe do desejável: 70% das organizações implementam menos de 1/3 dos projetos em desenvolvimento, de acordo com o estudo State of Generative AI in the Enterprise da Deloitte. Como tal, 2025 é um ano crucial para perceber até que ponto a IA poderá consolidar o seu papel como elemento transformador das empresas e do mercado.
Além desta tecnologia emergente, existe ainda outro aspeto crítico no universo tecnológico, especialmente num contexto de crescente instabilidade geopolítica, e que é a cibersegurança. As novas ameaças e tecnologias têm levado as organizações a redefinir constantemente as suas prioridades nesta área. A maioria das empresas estão a implementar ações para reforçar a sua cibersegurança, considerando-a como uma das suas prioridades estratégicas. Segundo dados do Global Future of Cyber Survey, mais de metade das organizações pretendem aumentar o investimento em cibersegurança nos próximos 2 anos.
Naturalmente que, como líder de uma organização com a missão e dimensão da Deloitte, gostaria de reiterar que estamos profundamente envolvidos em todas estas áreas, investindo em soluções que permitem ajudar os nossos clientes e parceiros a enfrentar estes desafios e a aproveitar as oportunidades emergentes. Exemplo disso, é o investimento de algumas dezenas de milhões de Euros que estamos a fazer em Lisboa num novo centro de desenvolvimento e operações tecnológicas (incluindo cibersegurança e operações de redes), que reflete o nosso compromisso em sermos um catalisador de inovação e transformação digital no nosso país.
António Portela, CEO da Bial
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
A nível global temos muitos fatores de incerteza que, seguramente, terão impacto em Portugal.
Os diversos conflitos existentes, bem como a fragilidade das principais economias europeias, são temas aos quais teremos de estar muito atentos. Com tantas incertezas será difícil prever quais os impactos que poderão existir para Portugal. Nesse sentido, temos de nos concentrar naquilo que podemos fazer na nossa economia. Apesar de termos um Governo sem maioria parlamentar, temos um orçamento aprovado para 2025. Espero que o Governo seja capaz de trabalhar nas reformas necessárias para o país e para os portugueses, sem estar preocupado com potenciais instabilidades políticas ou eleições antecipadas. Da mesma forma, temos de trabalhar nas nossas empresas de forma arrojada e ambiciosa para aproveitar as oportunidades que certamente temos.
A turbulência a nível mundial trará oportunidades para quem se souber posicionar. Portugal está a viver um período positivo, com uma excelente imagem internacional e pode capitalizar se todos trabalharmos nesse sentido. Pessoas, empresários e Governo.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
No nosso sector o desfasamento competitivo europeu face à China e aos EUA, nomeadamente quando está a ser promovido um novo quadro regulatório para o sector farmacêutico na UE e também ao nível de ESG, deve ser encarado como prioridade para que o fosso, com saldo negativo para a Europa, não se acentue ainda mais. Os principais riscos derivam também do contexto geopolítico que cria instabilidade em alguns mercados, mas também um aumento da complexidade nas cadeias de abastecimento que poderão ser provocadas por um incremento de políticas protecionistas nos principais atores da economia internacional.
As oportunidades advêm sobretudo da inovação tecnológica e científica e da IA, que tem vindo a permitir a aplicação de novas metodologias e tecnologias. Estas evoluções têm reflexo na nossa capacidade de acelerar a investigação e desenvolvimento de novas moléculas que endereçam diferentes patologias. A BIAL continua comprometida no desenvolvimento de novos fármacos, nomeadamente para a área de Parkinson e das doenças raras. Nesse âmbito, continuaremos a desenvolver o BIA 28, um medicamento que apresenta o potencial de ser diferenciador para a doença de Parkinson e que está em fase II de ensaio clínico.
Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Pensando no tema económico, o grande fator de mudança é mesmo o tema da inversão do ciclo de juros, que trará mais dinamismo ao setor empresarial, seja o regresso mais musculado das fusões & aquisições que foram bastante castigadas nos últimos dois anos, seja na concretização de planos de investimento. Há que ver também como evoluem os conflitos que persistem, em particular na Ucrânia pelo impacto direto que tem tido no normal funcionamento das cadeias de abastecimento e ainda a dimensão do impacto do protecionismo anunciado pelo novo presidente norte-americano, que vai também depender da capacidade de negociação do lado da UE. Uma coisa que os dois últimos anos mostraram é que a volatilidade dos preços é o novo normal. Em Portugal, os eventos políticos que estão na agenda – as autárquicas – têm um impacto neutro na economia. Penso que por cá, além do cenário macro descrito e ao qual o país não é alheio, o PRR e a sua execução é um tema central.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Como áreas de crescimento, destacaria o M&A, os projetos na área das energias verdes, a renegociação das concessões nas infraestruturas porque muitas estão a chegar ao fim e projetos imobiliários, num contexto de agilização do Simplex urbanístico que o Governo já anunciou que iria revisitar, bem como da crise da habitação. Como desafios do setor, voltaria a lupa mais para dentro. Vai ser um ano de aceleramento da incorporação de IA em vários processos internos e de trabalho contínuo para que as políticas e procedimentos, por exemplo de Legal e Compliance, estejam permanentemente atualizados face à crescente complexidade de verificação de informação. Na assessoria jurídica, vamos certamente aumentar o uso de IA para podermos oferecer ainda mais eficiência e qualidade aos nossos clientes, bem como contribuir para uma melhor gestão do tempo por parte dos advogados, que é uma grande preocupação nossa.
Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano
2025 será um ano de grandes incertezas. A conjugação da nova administração norte-americana, com a crise em França e Alemanha, as guerras na Ucrânia e Médio Oriente e a crescente tensão entre EUA e China irão seguramente condicionar a economia mundial e consequentemente a economia nacional, pelo que a estabilidade política em Portugal em 2025 é crucial
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
No setor das infraestruturas, vemos como oportunidades a continuação do processo de alta velocidade, do metro de Lisboa e a revisão do Código dos Contrato Públicos. O grande risco que existe é a execução ou não do PRR, a resolução do problema da habitação e a escassez de recursos humanos.
Na área do ambiente, esperamos que em 2025 sejam tomadas decisões por parte da tutela face à necessidade de uma estratégia nacional para cumprir os objetivos do PERSU 2030.
Daniela Braga, fundadora e CEO da Defined.ai
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
A estabilidade política, sem dúvida. Terminando um ano em que assistimos ao continuar e despontar de novas guerras, quedas de regime, e outras situações de instabilidade geopolítica, a estabilidade política vai sem dúvida ser um dos grandes fatores que irá marcar as economias globais e a dinâmica das relações internacionais. Em simultâneo, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos teve um efeito positivo nos mercados económicos, o que sinaliza um 2025 que poderá vir a ser marcado por uma maior circulação de dinheiro e mais investimentos pela América e, consequentemente, impactar a economia global. Ao mesmo tempo, os conflitos em curso dão alguns sinais de estar mais próximos de alguma estabilização ou mesmo conclusão, o que irá, certamente, marcar a economia global.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
O facto da legislação na área da Inteligência Artificial estar a apertar cada vez mais representa uma oportunidade significativa para a Defined.ai. Isto porque obriga todas as entidades a ter presente a necessidade de criar e utilizar a Inteligência Artificial de forma ética. Isto traduz-se numa oportunidade incrível para quem, como nós, tem como missão contribuir para a criação de inteligência artificial que serve a humanidade e as sociedades de maneira responsável.
Emanuel Proença, CEO da Savannah Resources
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
É difícil prever em detalhe como correrá 2025, como sempre é fazer estes exercícios. No entanto, acredito que há diversos pontos relevantes de acompanhar:
O primeiro, a nível nacional, é o da busca de plataformas de entendimento entre partidos políticos que assegurem mais estabilidade política, apanágio do nosso país e sobejamente elogiada internacionalmente, e ao mesmo tempo redirecionem o país para o pragmatismo, a ação, e a transformação: evitar crises, como se conseguiu no processo de votação do Orçamento de 2025, evitando um novo ciclo de indefinição política, é o ponto de partida – e sabemo-lo bem nós, porque vimos o nosso projeto atrasar em resultado de demoras burocráticas prolongadas oriundas diretamente da fase de indefinição política que acompanha sempre processos eleitorais e de mudança de governo.
A continuação desse caminho será prosseguir uma trajetória de transformação, que nos permita um ciclo de prosperidade a todos nós, cidadãos que querem um país com mais sucesso face aos seus concorrentes internacionais, para que as gerações vindouras deixem de ter de emigrar em busca de vida melhor noutro lugar. Como promotores do Projeto Lítio do Barroso, estamos comprometidos em fazer a nossa parte nesse caminho, contribuindo para ajudar a levar a um dos municípios e sub-regiões de contexto mais desafiante do país a melhor futuro e prosperidade. Vemos sinais positivos de que não estamos sós nesse desígnio, com o avançar recente dos procedimentos burocráticos definidos em lei e com o anúncio de implementação de um plano abrangente para potenciação das matérias primas críticas durante o ano de 2025 em Portugal, em aplicação da lei comunitária CRMA (Critical Raw Materials Act).
A nível internacional, será claro impossível fugir ao tema do reequilíbrio geopolítico que atravessamos, e que tem implicações em todas as grandes indústrias mundiais. Na frente do setor automóvel, a China procura capitalizar no trabalho bem feito com mais de uma década de avanço em tecnologias de futuro, ao mesmo tempo que os EUA procuram dar um choque de adrenalina à sua indústria, começando no controlo de matérias-primas críticas e terminando na incorporação de tecnologia e reconversão do seu sistema de produção automóvel, com subsídios fortes ao investimento e entraves às importações. A Europa está a trabalhar no mesmo sentido, mesmo que talvez menos rápido do que a urgência estrutural deverá obrigar – até porque não é para menos: conseguir reconverter a fileira automóvel e seus colaterais para novas tecnologias preservará pelo menos parte dos 14 milhões de empregos que ela representa. Já falhar implicará um desastre económico e social com efeitos cuja extensão é difícil de antecipar.
Perante este desafio, a União Europeia pode estar pronta: tem uma nova Comissão Europeia e um novo Presidente do Conselho já empossados, tem nova legislação para o setor que vai das matérias-primas às baterias e aos veículos, e entra a 1 Janeiro 2025 num novo quinquénio de metas de CO2 para os veículos novos vendidos no seu território. Com tomada forte do desafio em mãos e ação decidida, poderá mostrar o poderio industrial que ainda tem, coordenando estratégias e desenvolvendo novas fileiras adjacentes que lhe permitam competir internacionalmente nas próximas décadas. Também aqui, faremos a partir da Savannah a nossa parte, munindo a fileira industrial europeia de uma das matérias-primas críticas de que tanto necessita para esta transformação, a partir de Portugal. E isso, diretamente através de nós, e indiretamente a prazo por aumentar a atratividade do país para outros investimentos, ajudará a que Portugal seja peça chave para resolução do desafio e possa beneficiar materialmente disso mesmo. É agora o momento da ação: acelerando a nossa independência energética, garantindo uma mobilidade futura mais avançada, e gerando empregos e riqueza através da revolução que é a transição energética.
As transformações não se fazem de um dia para o outro – mas estamos num momento decisivo de ação. Tenho esperança de que o ano de 2025 nos ajude a construir bases para uma economia mais resiliente, com potencial de geração de valor e oportunidade para todos a médio prazo.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
2025 deverá ser um ano de continuado crescimento na mobilidade elétrica, que deu já sinais de voltar a acelerar no mundo nestes últimos meses. É também o ano em que as baterias estacionárias ganham escala como moduladores do sistema elétrico em várias regiões do mundo, e onde se especulará mais sobre a necessidade crescente e potencialmente exponencial de soluções de baterias para autómatos e robôs. Tal começará a trazer uma recuperação ao preço do lítio nos mercados mundiais, com preparação para um novo “super-ciclo” nesta commodity emergente. Em resposta às políticas de redução de emissões e de consumos de derivados de petróleo importados, mas sobretudo e cada vez mais devido à qualidade superior e preço cada vez mais competitivo dos novos produtos, as novas tecnologias que requerem baterias continuarão o seu caminho de crescimento acentuado. Os efeitos desse crescimento, com substituição tecnológica a uma escala e velocidade dramática para setores de indústria pesada e avançada como são os que delas dependem, serão cada vez mais visíveis.
O setor dos recursos minerais e matérias-primas no geral, e o do lítio em particular, é hoje um setor extremamente tecnológico. Não é por acaso que estão entre os seus grandes campeões atuais países como a Austrália e o Canadá, e que o único país da Europa que tem em construção um projeto comparável ao nosso é a Finlândia. Longe vai o tempo das picaretas e dos operários no chão – hoje mandam a física e a matemática avançadas, a automação e a maquinaria de ponta. Esta realidade da mineração do Século XXI dá oportunidade a novas ideias e a novos empreendedores de contribuírem para a transformação energética para onde caminhamos. E ainda bem que assim é, porque senão seria impossível atender à procura crescente por novos minerais, que vêm reduzir em muito a necessidade de outros recursos como o petróleo, o carvão ou o gás (ao contrário do que por vezes se ouve, colocar no sistema mais minerais críticos, que têm vida útil de décadas e potencial de reciclagem, em vez da vida útil de uma viagem de algumas centenas de kms e emissões imediatas associadas do modelo ainda vigente das energias fósseis, reduz muito a necessidade de recursos por parte da humanidade). A sustentabilidade está no centro das nossas operações e assim irá continuar a estar – e começa logo na sub-região onde o nosso projeto se insere, e onde começámos já timidamente a ajudar a melhorar a qualidade de vida geral, ao mesmo tempo que cumprimos com os requisitos ambientais e sociais mais exigentes do mundo – os da União Europeia.
O novo ano trará também para o Projeto Lítio do Barroso novos desenvolvimentos ao nível de todos os processos em andamento nas diferentes frentes de especialidade. Serão os passos finais antes do início da construção do projeto, e far-se-ão em paralelo à continuação do crescimento das nossas equipas na região próxima à área de concessão e pelo país. Acredito que será um ano em que cada vez mais Portugueses entendem e reconhecem o mérito do nosso Projeto, que com ele se identificam e dele fazem parte. Acredito ainda que as comunidades locais continuem, cada vez mais, a sentir os benefícios do Projeto, a encontrar empregos e oportunidades junto da Savannah, e que cada vez mais pessoas vejam pela evidência da nossa ação que os receios iniciais, pertinentes e compreensíveis, se transformam numa base sólida para construção em conjunto de um futuro melhor. Continuaremos empenhados num diálogo construtivo, com uma exigência a que queremos responder – mesmo que alguns continuem a não gostar do projeto – para dessa forma contribuir cada vez mais para o desenvolvimento primeiro da nossa região, depois do nosso país e da Europa, e por fim de um mundo melhor.
Fernanda Marantes, Chief Executive Officer (CEO) da Havas Media Network
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
O próximo ano traz desafios importantes, mas também oportunidades significativas. Em Portugal, o crescimento económico moderado e a necessidade de incentivar o investimento devem ser encarados como oportunidades para uma maior inovação e competitividade nos vários mercados.
Na Europa, embora a Alemanha enfrente dificuldades estruturais e a França viva tensões políticas, os esforços conjuntos para a transição climática e o avanço tecnológico estão a abrir cada vez mais possibilidades para revitalizar economias e setores. É certo que, num panorama global, este avanço tecnológico acelerado, impulsionado por IA e automação, irá naturalmente expor algumas vulnerabilidades, mas promete transformar modelos de negócio, criar soluções inovadoras e impulsionar eficiência junto daqueles que continuarem a olhar para a adaptação e a colaboração como os motores da diferença nos seus setores.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
O ano de 2025 pode vir a revelar-se um ponto de viragem para o setor da comunicação, devido a vários fatores. A crescente regulação em torno das big techs e da inteligência artificial (IA) poderá alterar (uma vez mais) a dinâmica do mercado, impactando a quantidade de dados disponíveis para segmentar audiências, bem como a capacidade de atribuir valor aos diferentes pontos de contacto digitais.
Este cenário, a par das oportunidades, como os automatismos, em especial no que toca à segmentação, trará naturalmente desafios para os atuais modelos de negócio, especialmente no domínio do search, e levantará questões sobre a confiança dos consumidores e o impacto da IA na autenticidade do conteúdo. Além disso, também a atomização da atenção continuará a aumentar a complexidade do trabalho das agências, exigindo novos investimentos em talento, tecnologia e análise de dados.
Outro ponto interessante diz respeito às mudanças estruturais no setor, particularmente no que respeita às fusões e aquisições. O mercado acompanhará de perto a recente fusão entre OMG e IPG, que poderá redefinir o equilíbrio competitivo e abrir novos precedentes para consolidações semelhantes, impactando a dinâmica do mercado.
Por outro lado, 2025 também traz promessas interessantes para o setor. O nosso investimento contínuo em tecnologia e dados, aliado a parcerias estratégicas globais, com YouGov e Lumen, posiciona-nos de forma sólida para a criação de soluções inovadoras, tanto no que toca à hiper-segmentação (baseada em zero e 1st party data potenciada por algoritmos de IA), como no que toca a medir atenção e acioná-la a nível de planeamento. Efetivamente estamos a investir num sistema operativo – Converged – que suporta a nossa filosofia de trabalho e coloca ao serviço das equipas: dados, automações e ferramentas de trabalho data-driven, orientadas para produzir impacto sobre o negócio dos nossos clientes e acrescentar valor aos consumidores.
Por fim, uma abordagem ética, orientada para a sustentabilidade social e ambiental, aliada a uma vasta experiência acumulada, reforçam a nossa capacidade de oferecer uma visão holística e data-driven, que continuará a ser a base para desenvolver estratégias que ajudem os nossos clientes a prosperar num cenário em constante transformação.
Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
A economia nacional e global ficará inevitavelmente marcada pela incerteza e instabilidade decorrentes do presente cenário geopolítico. As guerras na Ucrânia e no Médio Oriente e a redefinição das áreas de influência das grandes potências fazem temer a continuação da retração dos mercados e o fechamento das economias em torno dos principais blocos. A União Europeia está particularmente vulnerável a esta circunstância, ensaiando agora esforços para retomar o caminho da competitividade e para garantir a própria segurança, que nunca esteve tão ameaçada desde a Segunda Guerra Mundial, e a imunidade das suas sociedades democráticas às sucessivas — e cada vez mais sofisticadas — tentativas de as destabilizar.
No entanto, estas circunstâncias inquietantes não fazem esquecer que a transformação tecnológica prossegue o seu caminho a alta velocidade e que esta continuará a moldar os modelos de negócio e os próprios mercados.
Estamos, claramente, a viver uma fase de transição no plano político e económico, sendo prematuro antecipar os “novos normais”. Portugal conhece fatores que contribuem para minorar as incertezas, como sejam o crescimento do PIB, a estabilização do mercado de trabalho e da inflação. O facto de, geograficamente, estar menos exposto às ameaças torna o nosso país mais atrativo para o investimento estrangeiro.
Se é certo que a sustentabilidade e a transição energética não saíram das agendas europeia e internacional, será necessário equilibrar os seus objetivos com a urgência conferida à competitividade global pela União Europeia, como resulta claro do recente relatório Draghi. Será também necessário ter em conta a capacidade efetiva das empresas para poderem cumprir os ditames das transições em curso. A título de exemplo, veja-se como a indústria automóvel europeia está a ser objeto de atenção especial pelos decisores europeus, estando já anunciado pela Comissão o estabelecimento de um Diálogo Estratégico sobre o Futuro desta indústria que envolverá as principais partes interessadas.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
A incerteza não tem impedido o setor de crescer e de manter a relação estreita com clientes e parceiros. Para além da questão inescapável da existência de conflitos militares às portas da Europa e da muito provável “guerra comercial” entre blocos, a advocacia demonstrou ser capaz de lidar com a instabilidade e de se adaptar a novas formas de trabalhar mais condizentes com a transformação tecnológica. Não ficámos à margem desta revolução digital e, pelo contrário, temos procurado acompanhá-la e liderá-la.
A multidisciplinariedade conhece uma fase de maior consolidação e, com ela, virão também mudanças no modo de operar e de pensar estrategicamente o exercício da advocacia.
A descida das taxas de juro deverá contribuir para facilitar ou acelerar o aumento das fusões e aquisições e para maior dinamismo dos mercados.
A nova economia, cada vez mais desmaterializada, tem como contraponto as questões da cibersegurança que serão cada vez mais centrais na vida das empresas e, por consequência, também deverão merecer maior atenção por parte do setor. A tecnologia, o conhecimento, a propriedade intelectual e a proteção de dados, cujo valor é cada vez mais relevante, trarão certamente oportunidades para a advocacia, sendo expectável um aumento da litigância nestas áreas.
A inversão da pirâmide demográfica europeia obriga a que não esqueçamos as questões da saúde que serão crescentemente relevantes.
O anunciado desenvolvimento de uma União Europeia da Poupança e do Investimento, incluindo a banca e os mercados de capitais, a cargo da nova Comissária portuguesa, é um outro aspeto que exigirá uma revisão do quadro regulamentar que garanta que as empresas possam financiar-se, mantendo a estabilidade financeira. Também aí a advocacia será fundamental.
Numa região tão dependente e vulnerável como é a União Europeia, o modo como cada Estado-Membro conceba o seu mix energético poderá fazer a diferença quer quanto à vida das famílias, quer quanto à viabilidade das empresas. Portugal assumiu um lugar de liderança na adoção das energias renováveis. O conhecimento que as empresas portuguesas já têm nesta área permite-lhes ser competitivas, colocando-as numa posição privilegiada à escala global e ao país ser atrativo para a captação de novos investimentos.
Genericamente, o início de um novo ciclo político europeu prenuncia um aumento significativo de novas iniciativas legislativas que não deixarão de ter reflexo em Portugal e de ser acompanhadas pelos advogados portugueses.
João Bento, CEO dos CTT
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Ao que tudo indica, em 2025 continuaremos a viver num ambiente de alguma instabilidade, com diferentes frentes de guerra, a que se junta o contexto de políticas protecionistas dos Estados Unidos e o risco de crise económica na Alemanha e França. Por outro lado, a inflação deverá descer ligeiramente, aliviando alguma da pressão que se tem vindo a sentir, nomeadamente sobre as taxas de juro.
Em Portugal, a instabilidade política parece, por ora, ultrapassada, e a previsão de crescimento económico na ordem dos 2% poderá vir acompanhada de uma ligeira, mas generalizada, subida dos preços de bens essenciais.
A expectativa de que as taxas de juro continuem o seu movimento descendente, aumenta ainda mais a atractividade do produto de poupança tradicional das famílias: os certificados de aforro, que são, de novo, uma das formas de poupança mais competitiva do mercado. O reforço das poupanças deverá regressar ao centro das preocupações dos portugueses.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Os CTT são cada vez mais um operador logístico de comércio eletrónico e os dois negócios que anunciámos já na reta final do ano (a compra da empresa espanhola de desalfandegamento Cacesa e a joint-venture com a DHL eCommerce Espanha) reforçam esse posicionamento. Com estas duas operações sustentamos a trajetória de crescimento dos CTT assente numa profunda transformação de empresa postal em operador logístico especializado.
O setor não está imune aos efeitos de potenciais crises, como a inflação, a perda do poder de compra das famílias e eventuais constrangimentos logísticos devido às guerras em curso, mas acredito que a tendência de crescente substituição da compra presencial pela compra online veio para ficar e os CTT desempenharão seguramente um papel importante neste movimento.
Existem também oportunidades, como o reforço da tecnologia aplicada ao setor logístico, o que promete níveis de eficiência e qualidade renovados. 2025 será também um ano decisivo no arranque de formas de reporte sobre a agenda ESG muito mais densas e exigentes. Continuaremos, certamente, a cumprir as metas a que nos propusemos no domínio da sustentabilidade, através do reforço da frota alternativa, em que contamos já com mais de mil veículos, e das políticas sociais e de igualdade de género que continuamos a desenvolver.
João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
A nível global, a posse de Donald Trump como Presidente dos EUA vai permitir-nos conhecer mais detalhes sobre as principais medidas que propôs durante a campanha: plano protecionista, que pode gerar retaliações de outros blocos económicos; o nível de alívio fiscal e o impacto nas contas norte-americanas e nos mercados; e a política de imigração. Na Europa, será importante analisar o resultado das eleições na Alemanha em fevereiro. Caso seja eleito um governo estável e maioritário, poderemos assistir a uma alteração da regra do limite de dívida, com consequências positivas para a economia regional e também para Portugal. Em França, a continuação da instabilidade política e a ausência de medidas eficazes para conter o défice público poderá ter consequências nos mercados de dívida, com potenciais efeitos de contágio para Portugal. A evolução do diferencial de taxas entre a UEM e os EUA é outro fator crítico, influenciando a taxa de câmbio, com impactos diretos nas exportações e na inflação. Tal como este ano, os conflitos geoestratégicos, como a guerra na Ucrânia e as tensões no Médio Oriente, vão continuar a ser determinantes para os preços das commodities. No contexto interno, teremos de continuar a acompanhar de perto a execução do PRR e o progresso do investimento público. A preparação do Orçamento de Estado para 2026 é um ponto de potencial tensão política.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Ao nível do setor financeiro penso que os desafios são os que já vêm de trás, nomeadamente a digitalização, a concorrência de novos players mais ágeis, com estrutura reduzida e que apostam em segmentos menos regulados, ainda o processo de descida das taxas de juro, com impacto na rentabilidade; a maior concorrência do Estado como captador de poupanças num contexto em que o BCE deixa de estar presente no mercado a absorver dívida. Como oportunidades temos o bom comportamento da economia portuguesa que deverá continuar a dar um impulso positivo ao negócio; também o aprofundamento da digitalização e o uso crescente da Inteligência Artificial.
Jorge de Melo, CEO da Sovena
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Manter uma política de consolidação das contas públicas e, ao mesmo tempo, intensificar os esforços para atrair investimento, tanto estrangeiro como nacional, são imperativos para o motor de crescimento do nosso país. Globalmente, a Europa deve abandonar a inércia e posicionar-se como uma economia mais ágil e competitiva, enquanto enfrenta o impacto das políticas americanas, nomeadamente em relação às tarifas à China, que irão moldar o equilíbrio da economia mundial.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Nos setores onde a Sovena opera, os efeitos prolongados da guerra na Ucrânia continuam a afetar a estabilidade do mercado dos óleos vegetais. Por outro lado, a baixa do preço do azeite é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. É o momento de voltar a reposicionar o azeite e incrementar o seu consumo a nível mundial, reforçando a liderança das empresas portuguesas no mercado global. Este é o tempo de agir com visão e determinação.
Luís Lopes, CEO da Vodafone Portugal
Que fatores vão marcar a economia no próximo ano e que riscos e oportunidades antevê para o seu setor?
“O nível de incerteza que se coloca com os conflitos internacionais existentes e a consequente volatilidade das economias é sem dúvida algo que vai marcar 2025. Irá impactar não só as políticas dos governos, mas também os investimentos das empresas.
Neste contexto menos positivo, mais importante se torna focarmo-nos na sustentabilidade – nas suas múltiplas vertentes – e executarmos estratégias que nos garantam agilidade e resiliência face aos muitos graus de incerteza.
Incontornável é também a sustentabilidade ambiental e a descarbonização da economia. Na Vodafone iremos continuar a promover a utilização de tecnologia e de soluções capazes de ajudar as empresas, consumidores e entidades públicas a fazer face a este desafio de transformação digital.
Termino com um último olhar para a sustentabilidade – mais sectorial – que visa refletir sobre a necessidade de garantir que exista uma visão de longo prazo sobre a saúde do sector das telecomunicações, com regulação justa, equitativa, previsível e não discriminatória, que defenda os interesses dos consumidores e promova o investimento e desenvolvimento de redes e serviços inovadores.
Em 2025, a Vodafone estará seguramente empenhada em oferecer o melhor serviço aos seus clientes, trabalhando para garantir a sustentabilidade de um setor tão vital para o País.”
Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
O próximo ano de 2025 promete ser marcado por desafios significativos no cenário económico global, com um foco especial na Europa. Os Estados Unidos continuarão a destacar-se como a economia de maior crescimento global, impulsionados por avanços tecnológicos, A Europa enfrenta uma combinação de desafios económicos e políticos. A estagnação nas principais economias, como França e Alemanha, adiciona incerteza ao crescimento regional. Portugal também se encontra num ponto de inflexão, com desafios estruturais que incluem uma taxa de natalidade baixa e um envelhecimento populacional acelerado. Além disso, a saída de talentos qualificados para outros países europeus agrava as dificuldades de manter uma força de trabalho jovem e qualificada. A imigração continuará a ser um tema central, tanto como solução para o déficit demográfico quanto como fator de integração social e económica.
Mas o próximo ano será também um ano de oportunidades relevantes e fatores de otimismo renovado, incluindo um novo mandato da Comissão Europeia, que definiu já objetivos estratégicos sobre a transição para uma economia verde, o fortalecimento da autonomia digital da Europa e a redução das desigualdades económicas e sociais entre os Estados-membros. Tudo isto, idealmente, desacelerando o ritmo de nova regulamentação, focando antes em avaliar de forma objetiva o impacto (custo-benefício) da implementação da regulamentação existente. Um dos elementos mais positivos para 2025 será o avanço contínuo da inteligência artificial (IA), uma tecnologia de uso transversal que está ainda em curva de adoção, e que pode vir a permitir aumentar de forma significativa a produtividade em múltiplos setores, estimular a inovação em áreas como saúde, energia e mobilidade, e criar soluções disruptivas para problemas complexos, impulsionando o progresso económico e social.
Portugal pode e deve aproveitar esse movimento para fortalecer a sua posição como um polo de inovação tecnológica na Europa, especialmente em áreas como tecnologia verde e transformação digital. A criação de políticas que atraiam e/ ou retenham talentos globais e promovam a inclusão será essencial. E, sobretudo, a nossa capacidade de execução, aos diferentes níveis, individual, empresarial, nacional, será o fundamental para concretizar estas oportunidades em 2025 e abrir caminho para um futuro melhor.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
No setor dos pagamentos e dos serviços digitais as oportunidades são imensas: a mobilidade, a alteração de hábitos das pessoas e empresas, cada vez mais exigentes, irão continuar a criar novas necessidades, ao mesmo tempo que a tecnologia continua a evoluir a um ritmo sem precedentes, permitindo-nos criar novas soluções que simplifiquem a vida das pessoas, aumentem a produtividade das empresas, e promovam o crescimento económico de forma sustentável. Na SIBS, continuaremos a desenvolver soluções inovadoras e com impacto, que combinem rapidez, simplicidade e segurança, e a contribuir de forma ativa e empenhada para o desenvolvimento dos pagamentos pan-Europeus e nos restantes outros mercados onde estamos presentes. Teremos novidades no MB WAY, na Rede MULTIBANCO, no SIBS ESG e em várias outras soluções e serviços da SIBS, que continuam a ser pioneiras neste contexto.
Como principais riscos é inevitável referir a questão do cibercrime, que tem evoluído ao ritmo da evolução tecnológica, e não tem barreiras nem regulamentação. Na SIBS investimos de forma continuada em segurança e antifraude, nomeadamente na SIBS Cyberwatch e SIBS Paywatch, continuando nesta matéria a contribuir para que o sistema de pagamentos em Portugal esteja no top 2 a nível europeu. E continuaremos empenhados em contribuir também para a melhoria da literacia digital e financeira, que neste contexto é cada vez mais um imperativo, e a melhor defesa e proteção para pessoas e empresas.
Com uma visão estratégica e capacidade de execução, acreditamos que o futuro dos pagamentos e dos serviços digitais será decisivo para a prosperidade de todos, e na SIBS, continuaremos a contribuir ativamente para esse objetivo, que é também a nossa missão.
Manuela Vaz, CEO da Accenture Portugal
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
A economia nacional é muito aberta a efeitos exteriores e a incerteza geopolítica na Europa irá continuar a marcar as expectativas das empresas e famílias.
Uma nota para a resiliência das cadeias de abastecimento, afetadas em crises recentes, que terá de continuar a ser fortalecida com estratégias de diversificação e automação.
Continuaremos a ver aceleração na inovação tecnologia e foco nas alterações climáticas. A Inteligência Artificial (IA) continuará a impulsionar a transformação dos modelos de negócio, promovendo a produtividade e a criação de novos produtos e serviços, mas gerando tensões sobre o emprego. Neste âmbito, o reskilling e upskilling dos colaboradores é um tema fundamental que temos vindo a endereçar na Accenture e nos nossos clientes.
Por último, também a transição para uma economia mais sustentável será uma prioridade, com foco em tecnologias verdes e energias renováveis.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Antevejo, como temos inclusivamente vindo já a assistir, que Portugal seja beneficiado pela sua posição no oeste da Europa e pela intensidade do setor dos serviços no nosso PIB (que acredito ser mais resiliente a toda esta incerteza). Na nossa atividade esperamos a continuação do crescimento do mercado muito por via da chegada de mais empresas globais ao nosso país. Este fenómeno cria um efeito de aproximação dos custos dos recursos humanos face ao padrão europeu, que acredito vir a contribuir para um incremento do salário médio em Portugal.
O facto de na Accenture operarmos de forma muito transversal desde a estratégia até às operações, com ADN muito forte em tecnologia e consultoria de negócio aliado ao conhecimento profundo das distintas indústrias, permite-nos ajudar os nossos clientes na reinvenção dos seus negócios de forma completa. Temos investido estrategicamente em reforçar por via de aquisições e parcerias chave, recrutamento e formação das nossas pessoas, tanto o conhecimento de indústria como das tecnologias que cada vez mais moldam o futuro dos negócios, onde se incluem as melhores práticas de sustentabilidade, industry X e data science. É essa a grande oportunidade para a Accenture e para os nossos clientes neste contexto de transformação profunda.
Entre os desafios, destacam-se os riscos de cibersegurança, que podem comprometer a confiança nas soluções digitais e a regulação que trará novos mecanismos de compliance e governance, em normas como o RGPD, DORA e a NIS2. A escassez de talento qualificado, particularmente em áreas como IA e cibersegurança, continuará a ser uma questão a resolver. Além disso, a rápida evolução tecnológica exige que as organizações mantenham a capacidade de adaptação constante, algo que pode ser desafiador para empresas tanto de maior como de menor dimensão.
Marta Graça Ferreira, presidente da Real Vida Seguros
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Em 2025, a economia portuguesa deverá crescer moderadamente, impulsionada pelo turismo e exportações, enquanto a inflação e as taxas de juro tendem a diminuir, aumentando ligeiramente o rendimento disponível das famílias. No entanto, o défice das contas públicas pode aumentar devido a maiores gastos governamentais.
No entanto, numa economia tão aberta ao exterior como a nossa, este panorama não está isento de desafios. Entre os principais riscos para Portugal, encontra-se o abrandamento do crescimento económico na zona euro, e em particular em alguns dos maiores parceiros económicos de Portugal. As tensões geopolíticas entre grandes blocos económicos e a incerteza quanto ao desfecho da guerra na Ucrânia continuarão a influenciar a economia mundial.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Em 2025, espera-se que o mercado continue a evoluir num contexto de desafios globais e oportunidades locais, com vários fatores a impactar o setor segurador no próximo ano. A transformação digital exige elevados investimentos em tecnologia e cibersegurança, não só para acompanhar as mudanças que estão e vão acontecer, mas também para mitigar e combater a maior exposição a riscos cibernéticos que resulta de uma maior digitalização. Além disso, as alterações regulatórias, como a diretiva sobre a solvência e o DORA, podem aumentar os custos de conformidade e exigir adaptações operacionais significativas.
Por outro lado, o envelhecimento da população apresenta uma oportunidade de expansão do mercado, com uma procura crescente por produtos que combinem coberturas de vida e saúde e por soluções de poupança e reforma. A personalização de produtos, através do uso de big data e inteligência artificial, pode melhorar a satisfação e retenção dos clientes. A digitalização também oferece oportunidades para melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e proporcionar uma melhor experiência ao cliente através de plataformas digitais e serviços automatizados.
Martim Krupenski, managing partner da Morais Leitão
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
A economia portuguesa tende a surpreender pela sua resiliência, e 2025 não deverá ser diferente, já que as projeções de crescimento do PIB se têm situado acima da média da Zona Euro. No cenário global, o próximo ano será marcado por um contexto desafiante, influenciado por diversos fatores. Desde logo, as tensões geopolíticas permanecem constantes, alimentando incertezas que poderão afetar as relações comerciais internacionais e a estabilidade dos mercados. Será também mais um ano em que as políticas monetárias – e os bancos centrais – terão um papel determinante na evolução das taxas de juro e na inflação, com impacto direto nas decisões de investimento. A transformação digital continua a caracterizar a evolução económica, com revoluções em alguns setores, ancoradas por tecnologias como a inteligência artificial e a blockchain. É impossível não mencionar ainda a sustentabilidade como fator central na definição de novas políticas públicas nacionais e internacionais de impacto significativo nas empresas e organizações.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
2024 foi um ano de transição profunda, que abriu novas oportunidades para o setor mas apresentou desafios grandes, com uma transformação grande da profissão. Em 2025, vamos assistir à resposta pelos diferentes intervenientes. Por um lado, a adaptação à rápida evolução tecnológica continuará a colocar-se como risco, seja pelo investimento significativo que comporta, pelo risco de cibersegurança e pela exigência que implica em termos de formação e atualização das práticas profissionais. Assistimos a uma intensificação da concorrência, obrigando à diferenciação e a uma oferta de excelência. A inovação tecnológica permite otimizar a eficiência dos serviços jurídicos, sobretudo com a adoção de ferramentas avançadas como a inteligência artificial – mas também acarreta riscos grandes em termos de qualidade do serviço prestado e da segurança. Já encontramos casos de má prática jurídica, com referências a legislação inexistente; com elevada probabilidade, vamos também encontrar uma estandardização do pensamento, conduzida pela preguiça. Olhando para as oportunidades, por outro lado, importa destacar que destas mudanças económicas, sociais e tecnológicas vão também surgir novas áreas de especialização jurídica, como a sustentabilidade, a transformação digital e o direito da tecnologia.
A colaboração multidisciplinar surge como uma oportunidade estratégica: a integração de competências jurídicas com conhecimento de outras áreas, como a tecnologia e a análise de dados, permitirá uma abordagem mais robusta e adaptada aos desafios contemporâneos. Ao mesmo tempo, a aposta em parcerias estratégicas, nomeadamente com empresas tecnológicas, reforçará a capacidade de inovação e diversificação dos serviços oferecidos. Numa economia tão dinâmica, a atualização legislativa, nacional ou europeia, cria novos desafios para as empresas, desde logo de compliance, com oportunidades relevantes para o setor jurídico.
Miguel Maya, CEO do Millennium BCP
Que fatores vão marcar a economia no próximo ano e que riscos e oportunidades antevê para o seu setor?
O ano de 2025 será muito marcado pela imprevisibilidade, pois há vários cisnes negros que se podem materializar. Será também um ano de esperança, dado que na encruzilhada em que nos encontramos haverá que fazer escolhas com impacto na vida das pessoas. Como acredito que a edução tem uma influência relevante na qualidade das escolhas que fazemos estou confiante que a humanidade saberá escolher caminhos de evolução para um mundo mais global, mais diverso e mais equilibrado, caminho esse que será percorrido passo a passo a um ritmo mais lento do que cada um de nós ambicionaria.
Destaco três eventos que vão marcar a economia global em 2025:
A Transição energética e descarbonização: o avanço das metas de descarbonização, especialmente nas principais economias será um fator crucial. A aceleração da transição para energias renováveis, o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia e a implementação de políticas ambientais rigorosas irão impactar os padrões de investimento. Saliento ainda, pela importância extrema que tem para Portugal, as estratégias de adaptação face ao inevitável aquecimento global que recrudescerá nas próximas décadas e a maior frequência de fenómenos climáticos extremos, bem como o imperativo de uma gestão mais eficiente da água.
A evolução da inteligência artificial: A integração da inteligência artificial continuará a transformar os setores produtivos. As mudanças nos mercados de trabalho, a redistribuição de cadeias de valor e as novas oportunidades de crescimento económico terão implicações muito relevantes no tecido empresarial. O resultado será muito positivo, mas o caminho é difícil e haverá que assegurar a proteção dos que não se conseguirão adaptar.
O princípio da reinvenção das democracias liberais: os partidos políticos moderados ao procurarem agradar a todos, colocando sistematicamente no topo da agenda as atuações com efeitos no curto prazo, estão a falhar nas transformações necessárias para assegurar de forma sustentável o progresso económico e social, elementos que, a par da liberdade, constituem a própria essência da democracia. Não perspetivo que em 2025 se encontrem soluções, mas estou convicto que o debate sobre os caminhos possíveis vai ganhar tração.
No que diz respeito à evolução da economia portuguesa, destacaria:
A importância de concretizar o PRR: a aplicação eficaz dos fundos europeus será essencial para modernizar infraestruturas, acelerar a transição energética e a digitalização e fomentar a inovação.
A relevância que o Turismo e a dinamização do setor de serviços terão para se alcançar o desempenho perspetivado nas projeções económicas, com todas as implicações ao nível das contas públicas, do rating da República e da capacidade de assegurar a rede de proteção social. A trajetória de redução da divida pública em % do PIB deverá manter-se ou mesmo ser reforçada, pois um país que depende muito de um setor deve ser mais prudente do que países que têm uma economia mais diversificada.
Aumento das exportações: A evolução saudável da economia portuguesa dependente da nossa capacidade de reforçar as exportações, pelo que é imperativo manter uma preocupação permanente com a redução dos custos de contexto e com os incentivos à inovação, de modo a assegurar que as empresas têm capacidade para serem competitivas à escala global, o que é ainda mais relevante quando dois dos nossos mercados principais, Alemanha e França, enfrentam dificuldades complexas de superar.
Quanto ao setor financeiro, que se encontra robusto em termos de capital e liquidez, o grande desafio será o de saber lidar com um contexto económico volátil, de modo a continuar a estar ao lado das empresas e das famílias, como tem estado ao longo dos últimos anos.
Paula Gomes Freire, managing partner da Vieira de Almeida
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
O próximo ano será o primeiro ano da nova era Trump e será marcado por um ambiente de continuada tensão geopolítica. Na Europa, apesar da consistência da trajetória desinflacionista e da descida das taxas de juro, os dados mais recentes apontam para um enfraquecimento das, já de si contidas, perspetivas de crescimento económico, colocando na ordem do dia as recomendações do Relatório Draghi. Em Portugal, antecipa-se um crescimento acima da média europeia e tudo indica que o governo se manterá em funções durante o próximo ano. As perspetivas inerentes a essa – porventura curta – estabilidade política e a execução do orçamento que conhecemos indiciam que 2025 poderá ser um ano em que Portugal mantém capacidade de atração de investimento internacional, potenciada, no atual contexto, pela nossa localização periférica e atlântica.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Em 2025 antevejo que o setor da advocacia em Portugal: (i) possa inverter a tendência de contração da atividade de M&A e assista à concretização de algumas “há- muito- aguardadas” grandes transações; (ii) acompanhe as dinâmicas da transição energética e da transição digital que, aceleradas pela emergência da IA Generativa, ditam um imperativo transformacional de todos os modelos de negócio; (iii) procure endereçar os desafios trazidos pela centralidade que a defesa, a segurança (física e cyber) e a gestão do risco hoje ocupam nas preocupações das Empresas; (iv) ofereça oportunidades ditadas pelos imperativos da Agenda 2030 e pela imposição de métricas ESG, nas matérias de Ambiente, Agro, Business Human Rigths e Governance – ainda que a prazo seja interessante perceber a evolução que as mesmas terão no decurso da nova presidência americana; e (v) possa apresentar novas configurações, à luz do caminho percorrido em 2024 no que toca à multidisciplinariedade e em linha com o que tem acontecido noutras jurisdições.
Pedro Carvalho, CEO da Generali Tranquilidade
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
2025 será um ano com maior volatilidade e vai ficar marcado pelo arranque da nova administração americana, certamente com impacto na economia e política global, em particular na relação com a China, mas não só: as relações com a Europa e NAFTA dificilmente não serão afetadas. Apesar das tentativas do Ocidente, vamos assistir a uma maior relevância política (para além da económica) da China à medida que os EUA se vão retirando de vários palcos mundiais.
O populismo na Europa (e no restante mundo ocidental) vai continuar a crescer e a chegar ao poder, potenciado pela volatilidade económica e pelos movimentos sociais (como a imigração). Nos EUA, por ser o segundo (e último) mandato de Trump, com maioria em ambas as câmaras, e por estar a escolher uma equipa com mais “outsiders”, podemos esperar uma intervenção mais contundente (em alguns casos despropositada) e imediata em temas estruturais como o comércio internacional, a defesa e a geopolítica internacional (em particular no Médio Oriente, no Sudeste Asiático e certamente na Ucrânia).
A par do abrandamento da inflação, os países da Europa Ocidental vão enfrentar as consequências de um arrefecimento económico (que não tem fim à vista) e uma maior austeridade (resultante dos défices em países da Europa Central). O recente acordo com o Mercosur é uma tentativa de diversificação para evitar o impacto de prováveis decisões da nova administração americana que podem afetar o crescimento económico e reacender a inflação – cujo impacto positivo vai demorar vários anos a aparecer.
Em Portugal não podemos esperar grandes mudanças (o enquadramento político não o permite) e em termos económicos vamos estar expostos à evolução da economia global e europeia, e da evolução do turismo. Certamente vamos continuar a assistir a reivindicações de vários quadrantes da sociedade e da economia em ano de eleições autárquicas, e também por isso não podemos contar com medidas duras no curto prazo, mas a nossa economia e a vida das pessoas deverão melhorar de forma estrutural e com impacto a longo prazo.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu sector em 2025?
A IA, a sustentabilidade e a regulação vão marcar 2025 no sector segurador.
A adoção de forma material de inteligência artificial é um desafio “darwiniano” em que quem não se adaptar, ficará para trás. Vamos ver alterações na relação com clientes e parceiros (crescente personalização na oferta e melhoria de chatbots, permitindo uma assistência contínua de qualidade), mas também nos processos internos das companhias (automação e optimização em desenvolvimentos informáticos).
A necessidade de maior sustentabilidade vai implicar alterações, quer a nível da oferta, que teremos de adaptar aos novos padrões de consumo (crescente uso de carros híbridos e elétricos, por exemplo), quer a nível da subscrição, onde o compromisso com a economia verde dos tomadores será um critério cada vez mais importante na avaliação do risco.
Por último, a regulação poderá ser um factor relevante. E será importante a aplicação do regime fiscal dos planos de poupança e reforma nacionais ao “PPR europeu”: produto de reforma pan-europeu – PEPP.
Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Portugal
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Na União Europeia, as perspetivas apontam para uma recuperação gradual, embora lenta, num contexto geopolítico volátil em que se destaca a recente administração nos EUA, que coloca as relações comerciais no centro da sua política.
Este cenário deve ser encarado como um catalisador de oportunidades, permitindo à Europa dar novo impulso à transformação económica e relançar um novo ciclo de crescimento.
Um primeiro passo é, desde já, implementar as recomendações do Relatório Draghi, nomeadamente:
- Acelerar e concretizar a inovação;
- Prosseguir com a descarbonização, reduzindo custos energéticos;
- Reforçar a segurança e a capacidade autónoma de produção.
Em Portugal, este contexto convida a prosseguir a transformação rumo a uma economia de maior valor acrescentado, aproveitando os fundos europeus e beneficiando de uma estabilidade macroeconómica invejável, que possibilitou integrar no OE2025 medidas relevantes, como a descida do IRC, o IRS jovem e o apoio à tesouraria das empresas.
Se agirmos com eficácia e determinação, as perspetivas de médio prazo serão mais positivas, traduzindo-se em mais crescimento e maior criação de emprego.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
O setor bancário parte de uma situação económica e financeira bastante saudável, apoiada em bons níveis de rentabilidade, solidez de balanço e de capital, bem como em ativos de elevada qualidade. Apesar de o novo ciclo de taxas de juro poder pressionar a margem financeira, a transformação digital e comercial, que no Santander temos vindo a consolidar nos últimos anos, mantém-se como um fator-chave para melhorar a experiência do cliente e para reduzir custos, reforçando a nossa capacidade de adaptação.
Ao nível das oportunidades, estas estão ligadas à execução das recomendações do Relatório Draghi, que colocam o setor bancário no centro desta transformação, pois os bancos são os financiadores por excelência de projetos de investimento e desempenham um papel decisivo na gestão das poupanças das famílias. Este enquadramento sublinha a importância de um mercado dinâmico e resiliente.
Por outro lado, a existência de uma regulação harmonizada a nível europeu é fundamental para que o mercado único funcione de forma realmente eficaz e para que a Europa se consolide como um bloco competitivo face a outras potências. É essencial manter um foco contínuo no equilíbrio entre a segurança e a inovação no setor bancário, garantindo assim um contexto de confiança, crescimento e prosperidade.
Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Fatores de relevância global, com impacto no mercado Europeu:
- Acordo para o fim da invasão militar russa na Ucrânia;
- Instabilidade política e consequente falta de robustez nas duas principais economias europeias – Alemanha e França;
- Restrições ao comércio internacional, com aumentos de tarifas às importações para os EUA e a China.
Fatores marcantes a nível nacional:
- Vulnerabilidade do setor exportador decorrente da falta de robustez das economias alemã e francesa;
- Execução dos projetos já aprovados no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência;
- Venda do NovoBanco, e sua eventual integração num banco espanhol.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Riscos:
- Condicionamento, pelos distribuidores de televisão, do equilíbrio competitivo entre os produtores de televisão;
- Perpetuação, com o apoio público, de situações de desequilíbrio financeiro estrutural em empresas privadas de comunicação social;
- Falta de clareza na visão pretendida para o serviço público de televisão e consequente indefinição dos critérios para a sua concessão;
Oportunidades:
- Regresso dos jogos da 1ª Liga de futebol masculino à televisão aberta;
- Internacionalização da produção audiovisual e do talento artístico nacional, com a transmissão de novelas Portuguesas em canais abertos em Espanha e no Brasil;
- Revisão da legislação da comunicação social, e dentro desta, a lei da televisão e dos serviços audiovisuais a pedido.
Rodrigo Costa, CEO da REN
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Fazer previsões é sempre um exercício difícil, mas nas circunstâncias atuais é ainda mais complexo tentar antecipar o que pode acontecer em 2025. Entre conflitos que não tem o desfecho à vista, mudanças políticas de grande impacto, pressões económicas e catástrofes ambientais, não sei mesmo se o mais sábio analista ou consultor arrisque prever o futuro, mesmo que a curto prazo. Talvez o mais acertado seja apenas dizer que o futuro depende de demasiadas variáveis incontroláveis, o que resultará em previsões demasiadamente vagas.
Mesmo não sendo capaz de fazer grandes previsões, não tenho dúvida que os imponderáveis que enfrentamos têm de ser combatidos através do bom aproveitamento das oportunidades que se nos apresentem.
Devemos procurar atrair e fixar investimento em criação de valor, mais e melhores empregos, desenvolvimento de indústrias e serviços sustentáveis com impacto positivo.
É prioritário apoiar o investimento externo ou interno. Vejo no Estado/governo um papel extraordinariamente importante. Deve ser um catalisador seletivo e dinâmico, procurando aligeirar a burocracia que nos tolhe, de forma a conseguir acelerar todo o processo de desenvolvimento dessas oportunidades, que principalmente em momentos como estes não se podem desperdiçar. O Estado tem de manter e desenvolver as prioridades sociais, mas precisa melhorar o sistema de licenciamento de novos investimentos, sem comprometer obviamente as regras éticas que se impõe preservar a todo o custo.
Identifico oportunidades em vários setores: na energia, na área tecnológica, na indústria, na saúde e nos serviços de uma forma geral. Temos recursos humanos de grande qualidade, um sistema universitário internacionalmente reconhecido, e um território que atrai pela sua geografia, clima e cultura. A concretização de bons projetos irá ajudar muito ao desenvolvimento de novas e mais atraentes oportunidades de trabalho para os nossos jovens.
Sei que o meu otimismo é ameaçado pelas tais variáveis externas que em grande medida são impossíveis de prever. Mas também estou convencido que as oportunidades existem e aproveitá-las depende muito de nós.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
Nunca Portugal teve tantos projetos direta ou indiretamente ligados à área da energia: nova geração renovável, eólica, solar, hídrica e baterias.
Estão previstos, nos próximos anos, o desenvolvimento do reforço de infraestruturas de transporte e distribuição de energia elétrica que vão permitir a criação de centros de dados; produção de combustíveis sustentáveis, incluindo gases verdes; exploração de novos minérios; e vários outros projetos industriais de grande consumo energético. Haja capacidade de definir quais as prioridades e tomar as decisões de forma atempada, e no fim desta década teremos um Portugal mais forte e sustentável. Quem conseguiria prever há 20 anos que Portugal estaria hoje a ter uma geração renovável capaz de suprir 75% das suas necessidades de energia elétrica?
Uma conclusão simples: O crescimento do consumo de energia está diretamente ligado à evolução da economia. Mais uso de veículos elétricos, mais fábricas com maiores níveis de automação, temperaturas a subir, mais circulação de turistas, mais desenvolvimento das geografias emergentes, crescimento de transações comerciais — tudo isto faz crescer as necessidades de produzir e transportar mais energia e aumenta a complexidade dessas operações. Esta é a previsão fácil.
Salvador Ribeiro, CEO da Bauer Media Audio Portugal
Que fatores vão marcar a economia nacional e global no próximo ano?
Olhamos para 2025 com confiança e otimismo. O avanço digital continua a apresentar um caminho robusto, o que representa uma oportunidade significativa para a inovação e expansão dos nossos serviços. A nossa oferta, particularmente no domínio do áudio, posiciona-se de forma muito relevante neste mercado em evolução. Temos grande expectativas no lançamento do ranking de podcasts da Marktest, que certamente contribuirá para a profissionalização e visibilidade deste formato em ascensão. Além disso, estamos empenhados em fomentar entendimentos e colaborações na indústria.
O consumo de áudio continua a crescer de forma consistente. Dados recentes da Marktest evidenciam o crescimento da escuta de rádio através do telemóvel, que já representa 30,4% dos utilizadores, duplicando o número de portugueses com este hábito. Este é um sinal claro da transformação nos hábitos de consumo e da crescente relevância do áudio digital. Além disso, o nosso estudo sobre Consumo de Áudio Digital, publicado em maio, revela que 83,5% dos utilizadores de internet em Portugal consomem áudio em formato digital, reforçando o potencial deste segmento para conectar marcas e audiências. Temos razões para acreditar que este número é já superior.
O mercado publicitário continua a funcionar como um farol da economia. Em momentos de expansão, a publicidade sustenta o crescimento das marcas. Em momentos de retração, assume um papel crucial na diferenciação e na conquista de atenção, tornando-se indispensável para assegurar a escolha do consumidor. Com estas bases sólidas e uma visão estratégica, estamos preparados para continuar a responder às necessidades do mercado, reforçar a nossa liderança e criar valor para os nossos parceiros e ouvintes.
Que riscos e oportunidades antevê para o seu setor em 2025?
O setor do áudio deverá continuar a crescer em 2025, impulsionado pela crescente adoção de conteúdos como podcasts e streaming de música. Este cenário representa uma oportunidade única para inovarmos na produção e distribuição de conteúdos, especialmente através de tecnologias que permitem experiências mais personalizadas e envolventes para os ouvintes. A evolução tecnológica, particularmente a inteligência artificial e da análise de dados, será uma aliada estratégica. Estas ferramentas permitirão compreender melhor as preferências das audiências, facilitando a criação de conteúdos relevantes e adaptados às suas expectativas. As nossas marcas líderes – nomeadamente a Rádio Comercial, Cidade FM e M80 Rádio – estarão no centro desta transformação, reforçando o seu posicionamento enquanto referências no setor.
Adicionalmente, identificamos oportunidades na construção de parcerias estratégicas com plataformas digitais, com os nossos parceiros locais de indústria que sejam capazes de ampliar o alcance das nossas marcas e diversificar as fontes de receita. A nossa capacidade de responder rapidamente às mudanças nos hábitos de consumo, particularmente entre as gerações mais jovens, será determinante para o sucesso. A chave para o sucesso estará na capacidade de inovar, adaptar e capitalizar as novas tendências tecnológicas e de consumo.
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