É unânime. Inspirar os outros, ter uma visão estratégica e inteligência emocional são algumas das características fundamentais para se chegar a um cargo de topo, juntamente, claro, com alguma "sorte".
Se dos planos mais ambiciosos de alguns jovens faz parte assumir a liderança de uma grande empresa, então há que começar já a pensar no percurso que culminará no cargo de CEO ou presidente. Mas, como é que se chega ao topo, à cadeira de António Mexia, na EDP, de Carlos Gomes da Silva, na Galp, ou de Miguel Frasquilho, na TAP?
O ECO foi à feira de emprego da ISCTE Business School (IBS), onde os líderes de algumas das maiores empregadoras do país se sentaram num pequeno-almoço com os estudantes, saber quais os conselhos daquelas que são as melhores pessoas para responder a esta questão. Quem? Os próprios presidentes e CEO.
O fator sorte é inegável para todos eles, mas é preciso muito mais do que isso. Ainda que António Gomes Mota considere que, muitas vezes, o sucesso é “fruto das circunstâncias em que atua, das características da empresa e da indústria e dos desafios que há pela frente”, o presidente do conselho de administração dos CTT reconhece que há alguns traços comuns aos CEO bem-sucedidos, como, por exemplo, a visão estratégica, a determinação e a assertividade.
Já António Mexia, CEO da EDP, assegura que uma das mais-valias é a diversidade de experiências. “A exposição de contactar com várias realidades, executar projetos em áreas de negócio diferentes, desempenhar funções com conteúdos distintos e trabalhar com pessoas de outros backgrounds académicos e culturais permite ganhar uma visão estratégica e global, decisiva num perfil de CEO”, explica, ao ECO.
"Procuramos também jovens que antecipem a mudança num contexto de incerteza (…) com uma enorme vontade de aprender e de serem desafiados constantemente, saindo da sua zona de conforto.”
Na EDP, por exemplo, são valorizadas pessoas alinhadas com os valores da empresa, sublinha o presidente executivo, mas não só. “Valorizamos pessoas com iniciativa, confiança, excelência, sustentabilidade e inovação. Procuramos também jovens que antecipem a mudança num contexto de incerteza, que saibam trabalhar em equipa num mundo global, que entreguem resultados num ambiente competitivo e que sejam curiosos, com uma enorme vontade de aprender e de serem desafiados constantemente, saindo da sua zona de conforto”.
Gomes Mota salienta que um líder deve ter, além “da capacidade de antecipar desafios e obstáculos, a resiliência perante ambientes adversos”, tal como deve, a par disso mesmo, saber relacionar-se com os outros e inspirar comportamentos.
Ser um exemplo marca e inspira os outros e faz com que nos queiram seguir.
Para Miguel Pina Martins, fundador e CEO da Science4You, inspirar os outros é mesmo uma virtude fundamental para qualquer CEO. “Ser um exemplo marca e inspira os outros e faz com que nos queiram seguir”, afirma. Esse exemplo deve passar pela capacidade de agradecer e, também, pelo reconhecimento, que considera ser um fator “prioritário na gestão de pessoas”.
Seja a liderar o mundo dos brinquedos ou o setor da hotelaria, José Theotónio, CEO do Pestana Hotel Group, salienta que as soft skill adquiriram uma enorme importância. Isto porque “os conhecimentos técnicos vão-se aprendendo, assim como as capacidades de gestão”, justifica. Contrariamente, há determinadas qualidades que o colaborador, para chegar ao topo, deve ter a priori.
É o caso da “inteligência emocional, humildade para aprender com os outros e saber reinventar-se”. Conselhos que vão ao encontro das palavras de Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração da TAP.
“Os conhecimentos são, obviamente, importantes, mas ganham-se ao longo da vida. Quando uma pessoa inicia funções, seja em que setor for, não nasce ensinada, vai aprendendo e evoluindo”, diz. No entanto, para chegar a um alto cargo, “há um fator que é transversal e que parece muito simples e óbvio, apesar de, às vezes, ser muito difícil de ter. [Falo do] bom senso”, refere Miguel Frasquilho.
Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp, deixa, também, um conselho aos futuros líderes: “Ajuda, e muito, desenvolver e cultivar interesses que vão muito além do ecossistema profissional, abrindo outras perspetivas e novos horizontes”.
Mexia concorda. E diz que o desafio é, não só dos aspirantes a trabalhadores como das próprias empresas. “É o apogeu da diversidade e inclusão. As formas de trabalhar estão a mudar e o ambiente tem de ser mais ágil e flexível para responder às necessidades cada vez mais exigentes destas novas gerações através de novas formas de colaboração. No futuro, será cada vez mais comum trabalhar por projetos, com equipas multidisciplinares e em colaboração com todo o ecossistema interno e externo”, assinala.
Pés assentes na terra. O primeiro passo é entrar na empresa
A verdade é que o percurso profissional de muitos recém-licenciados ainda agora começou e, para já, o que é preciso é ser — num mercado de trabalho que é cada vez mais competitivo e global — o candidato selecionado. Mas, segundo estes presidentes e CEO, tudo se torna mais fácil com atitude, empenho e humildade.
Miguel Pina Martins diz que para trabalhar na empresa de brinquedos didáticos é preciso ser “uma pessoa muito empenhada, que consiga atingir todos os objetivos a que se propõe”. Mas não só. Há que ir mais longe e fazer mais do que o esperado. “Cumprir os objetivos definidos não chega, temos de querer mais. Ter uma atitude positiva e negar sempre o pessimismo”, acrescenta.
José Theotónio diz que se trata, precisamente, de atitude. Para entrar no grupo Pestana há que ter “predisposição para abraçar com disponibilidade e humildade novos e permanentes desafios“, afirma. “Também é importante a capacidade de trabalhar em equipas multidisciplinares, a curiosidade e vontade de aprender”, continua.
“O mercado de trabalho está muito ativo, existindo uma forte procura de talento no setor das tecnologias de informação. A SAP, em Portugal, está essencialmente a recrutar jovens talentos. Procuramos jovens com uma atitude positiva e que continuamente queiram se superar e abraçar novos desafios. (…) Valorizamos o saber trabalhar em equipa, lateral thinking, pró-atividade, iniciativa, constante curiosidade e disponibilidade para viajar”, detalha Luís Urmal Carrasqueira, diretor-geral da SAP.
Já nos currículos, a média e a instituição de ensino também fazem diferença, ainda que em tempos tenham sido já mais valorizadas do que agora. José Gonçalves, presidente da Accenture Portugal, afirma que, se por um lado é importante “ser um aluno acima da média, proveniente das melhores instituições de ensino”, por outro a vida pessoal também influencia. Quanto mais “rica e interessante”, melhor.
“A performance académica é apenas o ponto de partida. Dispor de uma experiência de vida pessoal diversificada, evidenciando capacidade para lidar com a mudança e com novos desafios, são, igualmente, aspetos que valorizam uma candidatura”, refere o presidente do conselho de administração dos CTT.
"A performance académica é apenas o ponto de partida. Dispor de uma experiência de vida pessoal diversificada, evidenciando capacidade para lidar com a mudança e com novos desafios são, igualmente, aspetos que valorizam uma candidatura.”
Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal, afirma que a média (de final de curso) já não é, de todo, o fator mais relevante no momento de seleção de candidatos. “Durante muito tempo, a média era muito importante. Hoje em dia, para nós, há critérios mais importantes, desde logo a inteligência emocional. Pessoas que conseguem viver em situações diferentes, não só numa lógica meramente racional, mas também emocional”, explica.
Por outro lado, também as experiências além da universidade podem, muitas vezes, “justificar” médias que não sejam tão altas. “Experiências de empreendedorismo, de voluntariado ou no estrangeiro são as que nos dão mundo”, continua o CEO da Mercer Portugal.
A experiência internacional conta
As experiências internacionais, em especial, são cada vez mais valorizadas e, até mesmo, desejáveis. “Hoje, os jovens devem estar preparados para, não uma concorrência local mas para uma concorrência global. Têm de olhar para o mercado de trabalho, não apenas como o mercado de trabalho português. O mundo é o lugar a que se estão a candidatar”, relembra Frasquilho.
“[Os jovens] têm de olhar para o mercado de trabalho, não apenas como o mercado de trabalho português. O mundo é o lugar a que se estão a candidatar”
Para entrar no setor aéreo — que tem precisamente “como grande virtude aproximar povos, culturas e experiências” — é preciso ter espírito aberto e “perceber que quanto maiores os horizontes e perspetivas, mais rica a pessoa fica e, portanto, maiores probabilidades de chegar mais longe“, continua.
Já José Gonçalves, por sua vez, salienta que, além de global, os recém-formados têm pela frente um mercado de trabalho muito competitivo. Por um lado, porque “o talento é escasso” e, por outro, porque “os desafios colocados aos candidatos são cada vez mais exigentes”.
Mas a oportunidade pode estar precisamente aí. “As empresas estão aqui porque não há mão-de-obra disponível para o que é preciso de crescimento. Portanto, estes rapazes e raparigas estão com uma empregabilidade como já não existia há anos”, afirma Diogo Alarcão. E, se a procura é maior do que a oferta, “assistimos a um incremento salarial”. “As empresas começam a pagar um bocadinho mais, o que também são boas notícias”, acrescenta o CEO da Mercer Portugal.
Percorra a fotogaleria do pequeno-almoço no ISCTE, que juntou mais de 40 presidentes e CEO de algumas das principais empregadoras nacionais.
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Como é que se “rouba” o lugar dos presidentes das maiores empresas nacionais? Eles próprios explicam
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