No ano em que comemora o seu sexto aniversário, André Júdice Glória, managing partner da Gama Glória, fez um balanço da atividade da sociedade e acredita que os próximos tempos vão ser difíceis.
No ano em que a Gama Glória comemora o seu sexto aniversário, André Júdice Glória, managing partner, confidenciou à Advocatus que estão bastante satisfeitos com o percurso da firma e que o crescimento tem sido contínuo. Um escritório que conta ainda com João Taborda da Gama como sócio fundador e Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado do Turismo, como sócio.
“Fizemos um escritório porque entendemos que havia um espaço por preencher no mercado que consistia no aconselhamento focado nos decisores, nas tomadas de decisão. Quando abordávamos os gestores no topo das empresas, antes de criarmos o escritório, muitos se queixavam de receber aconselhamento jurídico que era tecnicamente rigoroso, mas pouco prático e pouco tendente à ação”, explica André Júdice Glória que considera que a experiência dos últimos anos demonstra que havia espaço para a firma e que podem ainda crescer mais.
Com o escritório focado nesse perfil de clientes, a Gama Glória conta já com 14 advogados e duas pessoas de suporte, tendo já programada a entrada de novos estagiários.
“Sei que os números são pequenos quando vistos à escala de outros escritórios, mas para nós isto representa aumentar o número de profissionais em 20%, o que na conjuntura atual mostra bem o nosso entusiasmo e confiança”, assegura.
À Advocatus, André Júdice Glória admitiu que a firma está mais focada em setores de atividade do que em áreas de prática. Com o foco em setores altamente regulados, “onde a regulação é um fator essencial no desenho da estratégia empresarial e no desenvolvimento de negócios”, como o farmacêutico ou tecnológico, a sociedade trabalha para clientes com taxas de crescimento “vertiginosas”.
“O setor financeiro tem também sido uma área forte do escritório, e esperamos que esta área continue a crescer dado que se adivinham-se grandes mudanças na forma de concessão de crédito, na rentabilização de poupanças, nos meios de pagamento”, explica André Júdice Glória.
A operar no mercado desde 2014, a Gama Glória teve que se afirmar como um escritório que oferece uma perspetiva diferente, uma vez que o mercado já era “maduro e estável”.
“A nossa principal diferença é que queremos fazer parte de histórias de sucesso, de histórias de crescimento, de inovação e criatividade. Muitos escritórios dizem isto, mas depois têm departamentos inteiros dedicados a contencioso, a insolvências, a cobranças de dívidas, a vistos gold… claro que essas áreas servem um papel fundamental na regeneração da economia, e não há nada de mal trabalhar nesses assuntos. Nós preferimos estar em operações de investimento em tecnologia, em ciência, em indústria, do que em ativos improdutivos da banca, por exemplo”, conta o managing partner da firma.
André Júdice Gloria refere ainda que a diferença da sociedade comparativamente às restantes assenta na sua “capacidade de pensar nos problemas de forma sistémica”, de “ver o impacto que as decisões podem ter” e de tentarem “medir esse impacto e quantificar riscos”.
“Isso implica conhecer o mundo, conjugar áreas de conhecimento e por vezes procurar respostas fora do direito. Não basta dizer que existe um risco jurídico, é preciso explicar como é que esse risco se pode concretizar na esfera de um cliente. Não basta enunciar a lei e saber todas as posições doutrinárias e como decidem os tribunais, é preciso saber como é que essa lei vai condicionar a atuação do cliente e dos seus concorrentes, como é que a lei, entendida como constrangimento à atuação de agentes económicos, pode ou não favorecer um determinado modelo de negócio ou modelo organizacional”, explica.
Questionado sobre a diferença entre trabalhar num escritório de pequena e grande dimensão, André Júdice Glória refere que a mesma reside na cultura e ambiente da organização. “Desse ponto de vista não sinto muita diferença, porque quer na Linklaters, quer na Gama Glória a cultura é excelente e o ambiente ótimo”, acrescenta.
Os desafios da pandemia Covid-19
Após o impacto da pandemia Covid-19 na economia do país, o partner da Gama Glória prevê um arrefecimento do mercado de fusões e aquisições, embora essa quebra já se venha a sentir desde finais de 2019.
“Não espero que haja qualquer retoma significativa até se perceber a extensão dos estragos que o vírus causou à economia. Um CEO não decide comprar um ativo correndo o risco de ver o mesmo desvalorizar-se significativamente em pouco tempo. Isso é o tipo de decisão que destrói carreiras”, explica.
Também a banca vai sofrer um grande aumento do crédito malparado, o que vai “trazer necessidades de capitalização adicionais”, segundo André Júdice Glória. Para o advogado, as medidas tomadas até agora na área do crédito a empresas visam sobretudo “adiar a hora da verdade quanto à qualidade do crédito, mas isso é window dressing”.
“O facto de passados seis anos não haver ainda decisões transitadas em julgado nos tribunais administrativos sobre as medidas de resolução do BES indicia que ainda há muito a melhorar na forma como se gerem as crises bancárias”, nota.
O advogado acredita que a curto prazo os tempos vão ser difíceis para todas as empresas e profissões e a advocacia não vai “escapar” a essa realidade. “Também sei que a advocacia é meritocrática e concorrencial e vão ser essas as forças dominantes que vão continuar a ditar o futuro. Isso será bom para clientes e advogados”, acrescenta.
Inundados inicialmente com várias perguntas sobre diferentes aspetos da situação atual do país, o partner acredita que “agora virá o trabalho mais estrutural, de adaptação das empresas à nova conjuntura, que será caracterizada por uma quebra da procura, por desemprego elevado, por insolvências e por venda de ativos”.
“Olhando para a parte cheia do copo, vai também haver mais investimento em saúde e higiene, uma aceleração das estratégias digitais, quer do lado dos recursos humanos, com fenómenos como o teletrabalho, mas também na área da distribuição e logística. Tudo isto serão oportunidades que para os escritórios de advogados”, explica.
No futuro o crescimento está nos planos da firma
Para os próximos anos André Júdice Glória perspetiva a entrada das big four na advocacia e será um dos maiores desafios para os escritórios domésticos.
“Onde essa presença existe há mais tempo, as big four ganharam quotas de mercado consideráveis, quer em serviços commodity como seja o corporate housekeeping, quer em serviços onde a multidisciplinaridade confere grande vantagem competitiva, como nas reestruturações. Não me surpreenderia nada se as próximas grandes insolvências em Portugal fossem entregues à EY/RRP, à PwC legal ou à Deloitte/CTSU. A VdA reagiu bem, e criou uma oferta multidisciplinar, o que me parece ser uma resposta interessante”, assegura.
Internamente, o partner da Gama Glória pensa num crescimento da firma, apesar de não saber ainda avançar qual será o tamanho ideal para o modelo da sociedade. Mas de uma coisa tem a certeza, ainda não atingiram esse tamanho ideal.
“Estamos atentos às oportunidades de crescimento que surgem nestas alturas, em que é natural que pessoas ou equipas que vão ver frustradas as suas expectativas de crescimento profissional procurem alternativas”, refere o advogado.
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Gama Glória: Firma quer fazer parte de histórias de sucesso
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