Obrigações verdes da Greenvolt não oferecem mais que 3,2% a pequenos investidores

Apesar de pagarem 4,65% por ano, as novas obrigações da Greenvolt não dão a ganhar mais que 3,2% aos pequenos investidores e podem até gerar perdas na carteira. A culpa é das comissões e dos impostos.

A Greenvolt está novamente no mercado à procura de financiadores. Depois de em novembro de 2022 ter recorrido a 4.885 pequenos investidores para se financiar em 150 milhões de euros por via de uma emissão de obrigações verdes a cinco anos, a empresa liderada por João Manso Neto volta a repetir a receita. No entanto, desta vez conta fazer um melhor negócio para as suas contas.

Se há pouco mais de um ano, por via da operação pública de subscrição (OPS) das “Obrigações Verdes Greenvolt 2027”, a empresa de energias renováveis assumiu o compromisso de pagar 5,2% por ano até 2027, agora, segundo o prospeto das “Obrigações Verdes Greenvolt 2029”, compromete-se a 4,65% por ano até 2029, com o intuito de se financiar em 75 milhões de euros brutos.

Para os cofres da empresa de Manso Neto, esta diferença de 55 pontos base da taxa de cupão traduz-se numa poupança de 5.500 euros por cada 1 milhão de euros de financiamento ou numa poupança de cerca de 10,6%. Mas para a carteira dos investidores não profissionais, as contas são mais bicudas.

O diferencial entre o que as “Obrigações Verdes Greenvolt 2029” pagam em “juros” (por via da taxa de cupão) todos os anos e o que chega à conta dos pequenos obrigacionistas pode variar, em média, entre 25% e 75%, que acaba no cofre do Estado ou dos bancos.

De acordo com cálculos do ECO com base no preçário das 13 entidades financeiras nomeadas como colocadoras da OPS, um investimento de 2.500 euros (mínimo permitido) traduz-se numa taxa interna de rentabilidade (TIR) média líquida de impostos e comissões de apenas 1,16% no bolso dos pequenos investidores que não tenham outros títulos em carteira.

Mas mesmo que tenham ações ou outras obrigações na sua carteira de títulos e por isso a comissão de custódia de guarda de títulos possa ser dissipada por todos os outros investimentos, e até invistam o montante máximo permitido nas novas obrigações da Greenvolt, terão de contentar-se com uma TIR média de 3,17%.

powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

O peso dos impostos e das comissões bancárias na negociação de obrigações é muito significativo na carteira dos pequenos investidores. O diferencial entre o que as “Obrigações Verdes Greenvolt 2029” pagam em “juros” (por via da taxa de cupão) todos os anos e o que chega à conta dos pequenos obrigacionistas pode variar, em média, entre 25% e 75%, que acaba no cofre do Estado ou dos bancos.

No entanto, não é de descartar a possibilidade de haver casos em que o investimento nestas obrigações acaba por traduzir-se em perdas para os pequenos investidores, por conta das elevadas comissões cobradas pelo intermediário financeiro.

Considerando a generalidade dos preçários dos intermediários financeiros, o investimento poderá não ter rendibilidade positiva para investidores que subscrevam cinco Obrigações Verdes Greenvolt 2029 [2.500 euros] e pretendam mantê-las até à data de reembolso”, refere a Greenvolt no prospeto das “Obrigações Verdes Greenvolt 2029”.

Para os bancos, a negociação de obrigações traduz-se na cobrança de quatro tipos de comissões: custódia de guarda de títulos (paga trimestralmente), comissão de subscrição, de reembolso e de distribuição de juros. Estas comissões são calculadas com base numa percentagem sobre os valores envolvidos, se bem que podem ter valores mínimos definidos.

Para o Estado, o investimento em obrigações tem associado a cobrança de três tipos de impostos: IVA e imposto de selo sobre as comissões cobradas pelos bancos, e ainda a tributação em sede de IRS à taxa autónoma de 28% sobre o montante bruto dos cupões das obrigações.

Riscos do investimento nas obrigações da Greenvolt

O potencial ganho que as novas obrigações verdes da Greenvolt oferecem é limitado face ao risco do investimento. Isso acontece com os títulos de dívida da empresa de Manso Neto, assim como com qualquer outro ativo.

Uma aplicação a cinco anos em Certificados de Aforro, por exemplo, oferece uma TIR líquida de impostos de 1,96%, seja qual for o montante investido e assumindo que a taxa Euribor a 3 meses média neste período fique acima dos 2,5% — atualmente está a transacionar com uma taxa de 3,9%. E ao contrário das obrigações da Greenvolt, os Certificados de Aforro são garantidos pela República Portuguesa (que tem atualmente um rating de “BBB+” pela Standard & Poor´s), não têm oscilações de preço e não têm encargos associados.

A Greenvolt não é avaliada por nenhuma das maiores empresas de análise de risco creditício (Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s). Porém, tem um rating de “BBB-” atribuído pela agência de rating europeu Ethifinance e será sob este nível de risco que negoceiam as obrigações da Greenvolt.

A Greenvolt pretende utilizar o dinheiro angariado da OPS para “financiar e/ou refinanciar projetos, novos e/ou existentes, de energias renováveis e de eficiência energética”, assim como para o “controlo e prevenção integrados de poluição, transações de M&A no setor das energias renováveis e/ou outras despesas relacionadas e de suporte”.

Com uma yield de 4,65% (a mesma percentagem que a taxa de cupão porque as obrigações serão emitidas ao par), as “Obrigações Verdes Greenvolt 2029” preparam-se para entrar no mercado a negociar com uma taxa ligeiramente acima dos 4,4% que negoceiam as obrigações a cinco anos do banco neerlandês ING, que carrega um rating de “A-” pela Standard & Poor´s; e acima da yield de 3,5% a que transacionam atualmente as obrigações da operadora de telecomunicações francesa Orange que vencem a 11 de abril de 2029 e que apresenta um rating de “BBB+” pela mesma agência de crédito, por exemplo.

No entanto, as “Obrigações Verdes Greenvolt 2029” pagarão menos que uma obrigação da própria Greenvolt que se encontra atualmente a negociar na Euronext Lisboa com uma yield de 4,8% (mas que esteve a negociar com uma taxa acima dos 5,5% ao longo do último ano) e que irá vencer a 10 de novembro de 2028, três meses antes da data de maturidade dos novos títulos de dívida verde da empresa que estão disponíveis para subscrição até 9 de fevereiro.

Além da avaliação financeira e da análise comparativa das restantes ofertas existentes no mercado, os investidores devem informar-se da natureza da operação e de todos os riscos associados ao empréstimo obrigacionista.

No prospeto das “Obrigações Verdes Greenvolt 2029” pode ler-se, por exemplo, que a Greenvolt pretende utilizar o dinheiro angariado da OPS para “financiar e/ou refinanciar projetos, novos e/ou existentes, de energias renováveis e de eficiência energética”, assim como para o “controlo e prevenção integrados de poluição, transações de M&A no setor das energias renováveis e/ou outras despesas relacionadas e de suporte, como, por exemplo, despesas de pesquisa e desenvolvimento.”

“Uma alteração de controlo poderá ter impacto ao nível das operações correntes e estratégia, e, consequentemente, afetar o emitente, nomeadamente a respetiva situação financeira e/ou os respetivos resultados operacionais”, refere a Greenvolt no prospeto das obrigações.

No documento que acompanha os títulos de dívida, a empresa destaca também seis grandes fatores de risco relacionados com a empresa que podem condicionar o cumprimento das responsabilidades associadas às obrigações, como seja a possibilidade de a empresa enfrentar obstáculos decorrentes de alterações à legislação fiscal e outras alterações regulatórias e enfrentar riscos que condicionem o seu nível de liquidez.

É também referido no prospeto “riscos associados a eventual alteração de controlo da Greenvolt” por via da concretização da operação pública de aquisição (OPA), que foi lançada a 21 de dezembro do ano passado pelo fundo de capital de risco Kohlberg Kravis Roberts (KKR).

“Uma alteração de controlo poderá ter impacto ao nível das operações correntes e estratégia, e, consequentemente, afetar o emitente, nomeadamente a respetiva situação financeira e/ou os respetivos resultados operacionais”, refere a Greenvolt no documento.

No entanto, a empresa de Manso Neto salienta também que, conforme o projeto de prospeto da OPA, o KKR “pretende manter as principais orientações estratégicas implementadas pela Greenvolt” e “que não pretende alterar, após a liquidação da OPA, o modelo operacional da Greenvolt.”

Ficha técnica das “Obrigações Verdes Greenvolt 2029”

  • Nome: Obrigações Verdes Greenvolt 2029
  • ISIN: PTGNVKOM0008
  • Valor nominal: 500 euros
  • Investimento mínimo: 2.500 euros
  • Taxa de cupão: 4,65%
  • Prazo de subscrição: Entre 29 de janeiro e 9 de fevereiro
  • Data de reembolso: 19 de fevereiro de 2029
  • Juros: O pagamento dos cupões será realizado semestralmente a 14 de agosto e 14 de fevereiro de cada ano.
  • Admissão: As obrigações serão admitidas à negociação na Euronext Lisboa.
  • Emissão: 75 milhões de euros que se traduzem em 71,65 milhões de euros após descontar os encargos da emissão

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Obrigações verdes da Greenvolt não oferecem mais que 3,2% a pequenos investidores

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião