Web Summit 2025 ainda é montra global, mas ecossistema quer maior efeito multiplicador

O cartão postal da Web Summit contrasta com entraves burocráticos do país, dizem empreendedores. Querem maior efeito multiplicador da cimeira no país e na hora de renovar há que mostrar números.

ECO Fast
  • • Os líderes do ecossistema reconhecem que a Web Summit pôs Portugal no mapa e continua útil, mas defendem que qualquer renovação após 2028 dependa de impacto mensurável ao longo do ano e de reformas que aliviem a burocracia que trava fundadores.
  • • Desde 2016, o número de startups terá subido de 1.000 para 4.700 e a semana do evento gera cerca de €200 milhões, com 70 mil participantes, enquanto efeitos de derrame em hubs como Porto, Braga, Coimbra e Aveiro permanecem irregulares.
  • • O “próximo passo” proposto é converter visibilidade em negócio com programas de matching e soft landing, calendário de spin-offs setoriais e metas contratuais de investimento, empregos e relocalizações, sob pena de renovar um espetáculo caro sem desenvolvimento estrutural.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.

A Web Summit 2025 ainda é a “montra” que posiciona Portugal no ecossistema de empreendedorismo mundial, mas cerca de uma década depois depois espera-se mais do efeito catalisador da cimeira e do país um menor desajuste entre a promessa do ‘cartão de visita’ e a realidade de instalar uma startup. “Vale pouco a pena investir em conferências internacionais se, depois, a máquina do Estado não conseguir dar resposta a procedimentos essenciais para transformar o país num hub tech“, atira Stephan Morais, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Investimento (APCRI). Com a renovação do contrato à porta, há que apoiar a decisão em números.

Há um antes e depois da Web Summit no ecossistema de empreendedorismo nacional. “A Web Summit ajudou a pôr Lisboa e Portugal no mapa, ainda que o ‘efeito multiplicador’ possa ter ficado algo aquém daquilo que se esperava. Muitos founders vêm, inspiram-se e acabam a fundar noutro país”, aponta Marcelo Lebre, cofundador da Remote. “Não é um problema da Web Summit por si só (e também acho que não é exclusivo de Portugal), mas muitos founders deparam-se com um ecossistema onde as coisas ainda são feitas com processos pesados e acabam por decidir ir fundar noutro país”, continua. “O evento deveria ser o ponto de partida, não o ponto final, e muito menos uma solução mágica para aquilo que pode ser encarado como um problema estrutural”, atira o presidente de um dos sete unicórnios nacionais.

Marcelo Lebre, co-fundador da Remote, em entrevista ao ECO/Pessoas - 06OUT21
Marcelo Lebre, cofundador e presidente da unicórnio Remote.Hugo Amaral/ECO

Um antes e depois Web Summit

Vítor Ferreira socorre-se dos números oficiais para dar conta da evolução do empreendedorismo nacional desde que Paddy Cosgrave decidiu trocar Dublin por Lisboa como a ‘incubadora’ da Web Summit. “Desde 2016, o ecossistema português de startups expandiu significativamente, crescendo de 1.000 para 4.700 startups entre 2016 e 2024. O evento continua a fazer sentido como investimento estratégico, gerando um impacto económico direto de 200 milhões de euros apenas na semana do evento em Lisboa. Segundo estudos governamentais, a Web Summit criou entre 1.064 e 2.172 empregos equivalentes anuais em 2017, com projeções de 1.710 a 4.664 postos de trabalho até 2028”, elenca o diretor-geral da Startup Leiria.

“É verdade que o evento não tem o hype de 2016, que é menos frequentado por europeus (existem muitos eventos concorrentes), mas no limite continua a ser a porta de entrada de novos projetos, novos investidores e a montra de startups. Acho que hoje a Web Summit faz a ponte Europa – América (Sul e Norte) e isso traz um apelo interessante, num mundo de tarifas e guerras comerciais”, considera o responsável da incubadora da região Centro.

Vítor Ferreira, diretor-geral da Startup Leiria.

Já Mauro Frota não tem dúvidas que a cimeira continua a ser “um ativo estratégico”. “Reforça a imagem internacional do país, traz talento e investidores, e acelera contactos que, sem este palco, demorariam meses. Para a Bhout, foi particularmente relevante nas primeiras fases, em notoriedade e atenção dos media”, explica o CEO e cofundador da Bhout, neste momento em pleno processo de internacionalização, com aberturas previstas nos Estados Unidos e Espanha, por exemplo.

“Hoje vemos um ecossistema claramente mais maduro, com incubadoras, VC, corporates e universidades a trabalharem de forma mais próxima do que em 2016, e isso já se traduz em melhores ligações e oportunidades”, diz o empreendedor.

O facto de Lisboa já não ser o ‘cartão-postal’ exclusivo torna ainda mais importante diferenciar-se pela capacidade de converter encontros em negócio. Tivemos, por exemplo, a possibilidade de estar presentes, este ano, no Web Summit Rio, fazendo parte da delegação portuguesa no Brasil e foi, sem dúvida, algo que foi altamente potenciado pela capilaridade da influência da Web Summit como um todo global”, reconhece o fundador da Bhout.

Mauro Frota, CEO e cofundador da Bhout.

Efeito multiplicador pelo país?

“A presença da Web Summit em Lisboa foi decisiva para colocar o país no mapa global da tecnologia e do empreendedorismo. Hoje vemos isso refletido na facilidade com que Portugal atrai talento, investimento e novas empresas”, considera Miguel Santo Amaro.

Mas, “há espaço para evoluir”, diz o cofundador da Coverflex. “Podemos e devemos potenciar melhor a ligação entre o evento e o ecossistema local, garantindo que as startups portuguesas têm maior visibilidade e acesso direto a investidores internacionais, e que o país continua a ser visto como palco de inovação e não apenas como anfitrião. Essa ponte entre palco e impacto real é o próximo passo: transformar visibilidade em acesso e integração — antes, durante e depois do evento“, diz.

E não está só nessa análise. “O desafio está em transformar a energia de uma semana de evento em impacto real ao longo do ano“, diz Bernardo Fernandez. Para a Bling Energy, a cimeira acabou por ter esse efeito, já que, a ronda de investimento realizada em agosto — 15 milhões injetados pela BlueCrow na startup de transição energética — “não nasceu dentro da Web Summit, mas beneficiou do know-how, das conversas e da informação partilhada durante o evento e nas iniciativas paralelas”, conta. “Esse é o verdadeiro retorno: o de gerar conhecimento, rede e confiança.”

Márcia Pereira, CEO da Bandora.

Mas falta, dizem vários operadores, trabalhar o efeito catalisador da cimeira pelo país. “O retorno para o país tem ainda muito poucos ecos para além dos quatro dias do evento e não vai muito para além de Lisboa, geograficamente falando”, aponta Márcia Pereira, CEO da Bandora.

E o mesmo diz Luís Rodrigues, da Startup Braga.Se o investimento público é significativo, deve traduzir-se em benefícios que se estendam a todo o país. É fundamental que a cimeira funcione como catalisador de coesão territorial, aproveitando a força dos principais hubs tecnológicos nacionais — Braga, Porto, Coimbra, Aveiro ou Leiria — para criar uma verdadeira rede de inovação integrada”, começa por dizer o diretor da incubadora do Minho.

“Mais do que concentrar o impacto em Lisboa, importa converter o investimento em valor distribuído, através de programas complementares, missões inversas, eventos setoriais e iniciativas de soft landing que se prolonguem para além da semana do evento. Assim, o país passaria a apresentar não apenas um cartão-postal tecnológico, mas uma carteira de ecossistemas dinâmicos, cada um com a sua identidade e especialização, a contribuir de forma articulada para o posicionamento global de Portugal como nação empreendedora”, refere.

Luís Rodrigues, diretor da Startup Braga.

Efeito de alastramento que Maria Oliveira diz sentir. “Do ponto de vista da Uptec, o retorno vai além da semana do evento. Todos os anos, recebemos delegações internacionais que vêm a Portugal por ocasião da Web Summit e aproveitam para visitar o Porto e a Uptec, procurando conhecer o nosso ecossistema e oportunidades de investimento. Este efeito spillover é tangível e contribui para consolidar a imagem de um ecossistema português plural e descentralizado, com polos de inovação sólidos fora de Lisboa”, diz a diretora executiva da Uptec.

Duas startups da Uptec — a Smartex e Intuitivo — foram distinguidas com o prémio de melhor pitch da Web Summit, “reconhecimento que lhes deu visibilidade internacional”, lembra, mas deixa um alerta. “Muitas destas sinergias são pontuais, e nem sempre se convertem em relações sustentadas, parcerias internacionais fundamentadas ou transferência tecnológica”, diz. “Precisamos de um ecossistema que transforme leads em resultados. Isto pode ser conseguido através de programas de matching pós-evento, missões de investidores estrangeiros programadas a partir dos contactos estabelecidos na Web Summit, e aceleração de processos administrativos”, refere.

Do ‘cartão postal’ à realidade

Se não há grandes dúvidas sobre o papel da Web Summit no posicionamento do país no panorama global, o certo é que entre o ‘cartão postal’ de um país e a realidade encontrada pelos empreendedores internacionais quando se decidam por cá instalar-se vai uma distância.

“A realidade burocrática portuguesa contradiz a imagem vendida pela Web Summit. Empreendedores qualificados enfrentam atrasos de 6-8 meses na obtenção de autorizações de residência, ausência total de agendamentos para reagrupamento familiar, e processos de renovação que demoram mais de um ano. Aliás, arriscando ter uma opinião contracorrente, o país precisa de imigração, de empresas, de talento (e não só). A miopia de extrema-direita europeia está a arruinar o potencial do continente, em atrair talento e ser aquilo que os EUA estão a deixar de ser: um melting pot de tecnologia, criatividade e diversidade”, considera Vítor Ferreira, da Startup Leiria.

Elisa Tarzia, da 351 Startup.

“A Web Summit tem muito mérito na criação da imagem de Portugal como um país onde construir startups e investir. Mas depois da inspiração vem a realidade, e é aí que muitos se deparam com um sistema ainda demasiado pesado, lento e imprevisível”, afirma Elisa Tarzia. “A falta de padronização nos processos, a instabilidade legislativa e a dificuldade em aceder a serviços básicos como abrir uma conta bancária são apenas alguns dos obstáculos que continuam a marcar o primeiro contacto de muitos empreendedores com o país”, aponta a responsável da 351 Startup, associação sem fins lucrativos, com mais de 1.500 membros, incluindo startups, investidores, aceleradoras, incubadoras e empresas de tecnologia.

“A integração de empreendedores internacionais em Portugal tem sido uma prioridade crescente. Nos últimos anos, foram lançadas várias iniciativas, como o Startup Visa e o Tech Visa, que facilitam a entrada de founders estrangeiros. Além disso, o país continua a promover condições bastante favoráveis de tributação para startups reconhecidas em Portugal”, lembra Miguel Aguiar. “O trabalho conjunto entre diferentes entidades públicas tem vindo a reforçar a eficiência dos processos e a promover um acolhimento mais ágil e integrado, tudo isto para oferecer um ambiente favorável à instalação e crescimento de empresas internacionais em Portugal”, aponta o diretor executivo da Startup Portugal, organização que tem vindo há largos anos a trabalhar na promoção e consolidação do ecossistema e empreendedorismo português.

Como mudar este status quo e oferecer um melhor soft landing a fundadores internacionais?As medidas necessárias são essencialmente as mesmas referidas por Mário Draghi e que têm vindo a ser faladas a nível europeu”, considera Gil Azevedo. “Portugal deve ser capaz de as liderar, dada a ambição de sermos cada vez mas um dos principais centros de inovação a nível internacional: desburocratização que resulte na simplificação e rapidez de procedimentos, condições competitivas para atração de investimento, crescimento das startups, retenção de talento e atração de organizações internacionais”, aponta.

“A nível europeu, Portugal deve apoiar a criação do “28th Regime”, como forma de produzir um mercado europeu único para a inovação, bem como promover a criação de um mercado de capitais a nível europeu competitivo com outras geografias”, reforça o diretor executivo da Unicorn Factory.

Nuno Comando, diretor da Casa do Impacto.

Para Nuno Comando, da Casa de Impacto, para facilitar a integração de fundadores e empresas estrangeiras em Portugal, seria essencial “medidas que promovam a eficiência administrativa e a acessibilidade, com respeito pela diversidade cultural e pelas necessidades individuais de cada empreendedor“.

O diretor da incubadora de impacto da Santa Casa da Misericórdia detalha o tipo de medidas. “Há benchmark interessante nesta matéria, de países que oferecem processos rápidos de residência permanente com apoio de incubadoras ou o suporte multilíngue e aceleração dedicada. Há (muito) espaço para aprimorar o Startup Visa PT. Tem sido defendida a necessidade de simplificar regulações para atrair talento internacional, onde se alerta que o excesso de burocracia europeia pode atrasar a inovação e que é crucial agilizar procedimentos para reter e captar profissionais qualificados. É importante promover mais programas de mentoria e networking adaptados, em parceria com organizações do ecossistema (i.e. Launch in Lisbon da Unicorn Factory), que poderiam conectar estes empreendedores à rede local. Apoio no terreno, com organizações do terreno”, elenca.

A burocracia dos vistos é vista, de forma unânime, como um calcanhar de Aquiles. “Este é, talvez, o ponto onde se sente maior desalinhamento entre a imagem e a realidade. Portugal promove-se, com legitimidade, como um país aberto à inovação e à atração de talento internacional, mas o processo de instalação de startups estrangeiras e dos seus fundadores continua excessivamente burocrático e moroso, especialmente na aprovação de vistos, autorizações de residência e registos administrativos”, reconhece Maria Oliveira.

Maria Oliveira, diretora executiva da UPTEC.Ricardo Castelo/ECO

“São procedimentos que muitas vezes se arrastam durante meses, e numa startup, meses podem significar a diferença entre escalar e desistir, ou simplesmente escolher outro país para crescer”, lamenta a diretora executiva da Uptec.

Talvez por isso, quando questionado sobre que melhorias podiam ser introduzidas para melhorar o acolhimento, Rui Lobo não hesite em apontar o combate à desburocratização. “A promoção de Portugal como destino tecnológico implica o reforço de condições que facilitem a instalação de talento e empresas — sobretudo quando esse talento e essa iniciativa vem da Europa e, em especial, do próprio país. A desburocratização e a aceleração dos processos é um dos fatores chave para uma melhor experiência de integração”, diz o diretor para o Sul da Europa da Tekever. Mas não só. “Mecanismos como estruturas de acolhimento, programas de aceleração e informação centralizada também podem tornar o ambiente mais favorável para startups e fundadores nacionais e internacionais que escolham Portugal como base de operação”, acrescenta o responsável da unicórnio de defesa.

Rui Lobo, diretor para o Sul da Europa da Tekever.

“Aqui o país tem de ser honesto: a burocracia e a lentidão administrativa são o maior travão ao investimento estrangeiro. Não quer dizer que os programas e apoios não existam, mas muitas vezes são processos pesados que desmotivam qualquer pessoa só de olhar para a lista infindável de requisitos”, diz Marcelo Lebre. “Podemos ter todos os programas de apoio pós-instalação, de incentivo à fixação de nómadas digitais, e afins, mas se os processos demoram meses, acaba por ter o efeito oposto. O país tem a narrativa certa — qualidade de vida, talento, custo competitivo — mas continua a falhar na execução. A boa notícia é que há solução, mas tem que haver visão e vontade política de longo prazo”, acredita.

Miguel Santo Amaro, Cofundador e CEO da Coverflex.

Miguel Santo Amaro mostra-se otimista. “Esse é talvez o ponto mais crítico para transformar perceção em realidade. Temos a imagem certa — agora precisamos de garantir a experiência certa”, começa por dizer o cofundador da Coverflex.

“Portugal tem todas as condições para ser um destino de eleição para fundadores e empresas: qualidade de vida, estabilidade, talento e uma comunidade empreendedora vibrante. O que falta é simplificar. Reduzir burocracias, acelerar processos de vistos e de registo de empresas, e criar verdadeiros programas de soft landing que integrem apoio fiscal, legal e comunitário”, continua. “O país está a caminhar nessa direção, e há sinais positivos de vontade política para mudar. Se conseguirmos alinhar o discurso com ações concretas, Portugal pode afirmar-se definitivamente como um dos melhores lugares no mundo para construir o futuro”, considera o empreendedor.

“É importante que a imagem do país seja projetada para fora e a Web Summit é um desses veículos, como qualquer conferência global. No entanto, algumas experiências dos investidores internacionais não têm sido positivas no que toca à relação com o Estado e com a burocracia. Existe uma expectativa do ecossistema que o Governo atual, e especificamente os ministérios da Economia e da Reforma do Estado, possam transformar a vida das empresas e dos cidadãos numa experiência mais fácil“, diz Stephan Morais.

Stephan Morais, presidente da APCRI.Hugo Amaral/ECO

Na Conferência da APCRI, no final de outubro, o ministro Castro Almeida disse que “o Governo está a combater a burocracia com determinação”, lembra o presidente da associação. “Esperemos que assim seja e que isso contribua para resolver os problemas fundamentais do país. Vale pouco a pena investir em conferências internacionais se, depois, a máquina do Estado não conseguir dar resposta a procedimentos essenciais para transformar o país num hub tech”, aponta.

E depois de 2028? Depende dos números

Desde o acordo fechado com o Estado português, a cimeira expandiu para novas geografias. Brasil, Qatar e Canadá são três dos países que acolhem a Web Summit, mas Portugal até 2028 será a casa da cimeira em “exclusivo” para a Europa. Por concretizar está ainda a expansão do espaço da FIL para acolher as sonhadas 100 mil pessoas, número que chegou a ser apontado como objetivo. Por agora, espera-se as já ‘habituais’ 70 mil pessoas.

A três anos do fim do contrato, fará sentido negociar a sua renovação? O Governo já manifestou intenção de fazer o “possível” para manter a Web Summit após 2028 e Paddy Cosgrave, apesar de considerar que em “anos tech, 2028 é quase o próximo século”, diz esperar “ficar para sempre”. E o que pensa o ecossistema? O tema divide opiniões.

“Portugal deve continuar a atrair um evento de dimensão mundial para continuar a reforçar o seu posicionamento na atração de inovação a nível internacional”, defende Gil Azevedo. Mas com uma ressalva. “É essencial que a Web Summit consiga também entender as necessidades futuras de um ecossistema em fase de scaling up e consiga continuar a reforçar o seu papel de atração de investidores, organizações e empreendedores a nível global”, aponta o diretor executivo da Startup Portugal.

Reportagem AI Hub - 11FEV25
Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa.Henrique Casinhas/ECO

Miguel Aguiar alinha pela mesma visão. “A decisão deverá basear-se nos resultados alcançados e nas prioridades estratégicas do país. Se o impacto económico e reputacional se mantiver até 2028, fará todo o sentido avaliar a continuidade da parceria”, começa por dizer o diretor executivo da Startup Portugal. “Independentemente disso, é importante que Portugal continue a atrair grandes eventos internacionais de inovação, tirando partido da experiência adquirida com a Web Summit”, conclui.

Para Márcia Pereira “faz todo o sentido renovar”. A fundadora e CEO da Bandora explica porquê. “Portugal não tem nenhuma cimeira ao mesmo nível desta, nem temos organizações ou entidades nacionais com a capacidade de o fazer. Receio que o país ir-se-ia esvaziar e toda a velocidade entretanto gerada no ecossistema tecnológico iria abrandar e jamais iríamos recuperar ou ser minimamente relevantes no panorama internacional, ou até mesmo europeu. Espanha tem a VDS, 4YFN e a South Summit, França tem a Viva Tech, tudo organizações nacionais e Portugal tem o quê? Importou a Web Summit — um produto feito!”

E a mesma luz verde vem do fundador da sheerMe. “Faz todo o sentido renovar o Web Summit em Portugal. O evento foi decisivo para colocar o país no mapa global da inovação e das startups, e tem sido crucial para a sheerME. Portugal é um mercado pequeno, e eventos desta dimensão ajudam-nos a amplificar a nossa voz e a mostrar o talento que existe cá dentro. Para startups como a sheerME, o Web Summit continua a ser uma oportunidade única de networking, exposição internacional e conexão com investidores e parceiros globais”, justifica Miguel Alves Ribeiro.

Miguel Alves Ribeiro, da SheerMe

Mas há quem dê um OK condicionado. É o caso de Marcelo Lebre. E justifica.Se a renovação for apenas para ‘manter o espetáculo’, não. Mas se vier acompanhada de um plano estratégico — por exemplo, de usar a Web Summit como âncora de um calendário anual de eventos satélite (deep tech, climate tech, AI, fintech, etc.) — então sim”, defende o presidente da Remote. “A Web Summit deve deixar de ser vista como o ‘evento do ano’ e passar a ser o hub que alimenta o ecossistema o ano inteiro. Caso contrário, estaremos a pagar por marketing, não por desenvolvimento estrutural”, reforça.

Para Bernardo Fernandez renovar contrato “faz sentido desde que Portugal continue a tirar partido do evento como uma plataforma estratégica e não apenas como um espetáculo mediático”. O evento, argumenta o fundador da Bling Energy, “deve ser visto como uma âncora que ajuda o país a afirmar os seus setores prioritários — energia limpa, mobilidade e inovação digital — e não como um fim em si mesmo. Se for integrada numa visão mais ampla de posicionamento de Portugal como hub de inovação e sustentabilidade, a renovação é não só desejável, como essencial”.

Outros defendem uma lógica à Jerry Maguire. Se no filme, o desportista pedia ao agente “show me the money” (mostra-me o dinheiro), aqui pedem-se números e resultados. Afinal, lembram, a cimeira é, ela mesmo, uma empresa.

“A renovação faz sentido se acompanhada de condições mais favoráveis e mensuração clara de resultados. A evolução do evento mostra estabilização no número de participantes projetados (cerca de 96.000-130.000 até 2028), o que exige análise custo-benefício rigorosa. A decisão deve considerar se o investimento público não seria mais eficaz em programas de apoio direto ao ecossistema, dado que o custo acumulado ultrapassa os 100 milhões de euros em 13 anos”, contabiliza Vítor Ferreira.

“É fundamental que qualquer renovação inclua cláusulas de desempenho ligadas a métricas concretas: investimento captado, empresas relocalizadas, empregos qualificados criados, e não apenas número de participantes.​ Neste caso, poder-se-á colocar a questão, porque não um Startup Portugal Summit, mais barato, e que uma parte desses 100 milhões possa ser investido em startups?”, questiona o diretor-geral da Startup Leiria.

Bernardo Fernandez, fundador da Bling Energy.

“A renovação deve ser decidida com base em resultados e num modelo evolutivo”, defende Mauro Frota. “Faz sentido manter o grande momento anual e reforçar spin-offs setoriais e programas de deal-making ao longo do ano, contratualizando indicadores como investimento captado, emprego qualificado e número de pilotos/parcerias decorrentes do evento”, diz o CEO da Bhout.

“A renovação faz sentido sim, mas o ecossistema não pode depender de um único evento para gerar dinâmica”, argumenta Elisa Tarzia. “Seria ótimo se a Web Summit ficasse, mas integrada numa visão estratégica mais ampla, onde o evento contribua para fortalecer o ecossistema ao longo de todo o ano. Caso contrário, talvez seja altura de diversificar os players e apostar com ambição em iniciativas mais pequenas, com mais curadoria, descentralizadas, mas com impacto real e mensurável, que possam garantir continuidade, capilaridade e um verdadeiro efeito multiplicador no território”, considera a responsável da 351 Startup.

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