A estratégia como guia do processo de investimento

  • Pedro Barata
  • 11:18

Sem uma estratégia clara, investir torna-se um exercício de improviso. Um plano simples e coerente é essencial para orientar decisões e preservar a consistência diante da incerteza dos mercados.

Investir é, por definição, um exercício de planeamento, paciência e disciplina. Para que este processo seja eficaz e sustentável no longo prazo, é essencial que cada investidor desenvolva e siga uma estratégia clara, consistente e alinhada com os seus objetivos pessoais.

Essa estratégia deve definir um conjunto de normas e comportamentos que servirão de guia à tomada de decisões. Deve ser simples de compreender e aplicar e colocada por escrito para poder ser consultada sempre que necessário. Nela devem constar os ativos elegíveis para a carteira, os limites máximos e mínimos de alocação por classe de ativos, os critérios de compra e venda, o nível de risco aceitável e o horizonte temporal do investimento. Será esta estratégia a definir o perfil do investidor e na sua elaboração deve prevalecer a simplicidade em detrimento da complexidade.

Estratégias excessivamente complexas tornam-se mais difíceis de seguir, abrindo espaço para decisões improvisadas e guiadas pela intuição, que é exatamente aquilo que se pretende evitar. Muitas das melhores decisões de investimento são, por natureza, contraintuitivas e por isso dificilmente serão tomadas por quem não tem um plano e investe ao sabor da intuição.

A prática demonstra que uma estratégia bem estruturada funciona como uma âncora emocional ajudando o investidor a manter o rumo mesmo quando tudo à sua volta parece instável e incerto.

Nenhum investidor, por mais experiente que seja, consegue prever de forma consistente o comportamento dos mercados. Mesmo com uma estratégia bem definida, ocorrerão erros e isso faz parte do processo.

Um dos pilares centrais de qualquer estratégia de investimento é a alocação de ativos. Esta consiste na distribuição do capital pelas diferentes classes, e os ativos devem ser escolhidos com base nas suas perspetivas futuras e não no seu desempenho histórico. Embora seja comum utilizar dados históricos de rentabilidade como referência, estes não garantem resultados futuros. Assim sendo, o foco deve estar no potencial de valorização de cada ativo e no seu papel dentro da carteira ao longo do tempo.

É igualmente importante aceitar que não existe uma estratégia perfeita. Não há sistemas capazes de indicar sempre com precisão o melhor momento para comprar ou vender ativos. A ideia de um método infalível que permite “comprar no mínimo e vender no máximo” é uma perigosa ilusão. Nenhum investidor, por mais experiente que seja, consegue prever de forma consistente o comportamento dos mercados. Mesmo com uma estratégia bem definida, ocorrerão erros e isso faz parte do processo.

Também nenhuma estratégia de investimento produz resultados consistentes sem disciplina e paciência. Tal como numa boa dieta, ela apenas funciona se houver persistência. Estes dois elementos, disciplina e paciência, são frequentemente subestimados, mas são determinantes para o sucesso no longo prazo.

  • Disciplina significa resistir à tentação de alterar a estratégia ao sabor das notícias diárias, continuar a investir regularmente e reequilibrar a carteira conforme planeado, sem reagir impulsivamente à volatilidade.
  • Paciência é a capacidade de aceitar que os resultados desejados não são imediatos. A criação de valor é gradual e exige consistência. Muitos investidores falham não por terem uma má estratégia, mas por desistirem dela cedo demais ou por mudarem de abordagem sem darem tempo a que esta produza os resultados desejados.

Assim, o foco no processo é essencial. O investimento deve ser baseado num conjunto de decisões consistentes e não em ações isoladas. É através da repetição de boas decisões que se constrói um percurso sólido. O objetivo não deve passar por querer resultados imediatos, mas sim manter a resiliência na criação de valor, especialmente nos momentos em que o mercado está desfavorável e se torna bastante desconfortável fazê-lo.

Investir com sucesso não exige genialidade nem ser um profissional altamente especializado. Qualquer pessoa com um mínimo de educação financeira, uma estratégia bem estruturada e disciplina pode alcançar os seus objetivos.

A volatilidade é, aliás, o verdadeiro teste de uma estratégia. Nesses momentos surgem dúvidas e aumenta a tentação de alterar todo o plano pondo em causa a estratégia previamente definida. É precisamente nessas circunstâncias que se torna evidente a importância de ter um plano escrito, baseado em princípios sólidos.

O investidor que conhece os seus limites e que confia no processo será muito mais resistente a pressões externas. Por contraste, quem investe sem plano, guiado pela intuição, tende a ceder às emoções e a tomar decisões precipitadas.

É também importante ter presente que ninguém controla o sentido da bolsa no curto prazo. A evolução da taxa de inflação, as decisões políticas dos governantes, a política fiscal, o nível das taxas de juro, etc. são tudo fatores que influenciam o sentido diário dos mercados, mas que os investidores não conseguem controlar.

Como Charles Elis escreveu no seu livro “Winning the loser’s game” prever o futuro de uma qualquer destas variáveis é difícil, prever a implicação que elas têm umas nas outras é muito difícil, estimar como os outros investidores vão interpretar as alterações ocorridas é extraordinariamente difícil. Por isso, as decisões de investimento devem concentrar-se naquilo que é possível controlar: o processo de investimento.

Investir com sucesso não exige genialidade nem ser um profissional altamente especializado. Qualquer pessoa com um mínimo de educação financeira, uma estratégia bem estruturada e disciplina pode alcançar os seus objetivos. Warren Buffett reforça esta ideia dizendo que não é necessário fazer coisas extraordinárias para obter resultados extraordinários. O que importa é ter uma estratégia clara, colocá-la por escrito, cumpri-la com disciplina e paciência, mantendo o foco no longo prazo.

Ao conjugar estes elementos, o investimento deixa de ser um ato de futurologia e transforma-se num processo estruturado e consistente, capaz de gerar valor e resultados sólidos ao longo do tempo.

  • Pedro Barata
  • Economista

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