Agora é a vez de a Caixa ficar a dever
A CGD, que tanto se queixa dos milhares de milhões que lhe ficaram a dever, prepara-se agora para fazer o mesmo, retendo, euro a euro, os juros das poupanças dos seus clientes.
Milhares para aqui, milhões de euros para ali… e milhares de milhões de euros perdidos por aí. Desapareceu, nos últimos anos, muito dinheiro dos cofres da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em resultado de créditos multimilionários que vieram a revelar-se ruinosos, desde a La Seda a Manuel Fino, passando por Berardo e tantos outros.
Foram perdas de milhares de milhões de euros para as quais agora se procura encontrar o culpado, ou os culpados, de um “buraco” que todos os portugueses foram chamados a tapar. Por uns quantos “empresários” que ficaram a dever, milhões de contribuintes ficaram a “arder” com uma fatura que pesou, e ainda pesa, nas carteiras de todos nós.
A CGD sabe disso. E, por isso mesmo, Paulo Macedo, presidente da instituição, tem prometido devolver toda a ajuda que recebeu para se manter de pé, com a primeira prova disso a serem os 200 milhões de euros em dividendos que se prepara para entregar ao Estado. Seria louvável se esse “cheque” não resultasse, em grande medida, de euros e mais euros cobrados aos seus clientes.
Pouco a pouco, a CGD foi seguindo o exemplo dos outros bancos… privados. Sobe uma comissão, outra e mais outra… E quando já subiu todas, volta a subi-las mais uma vez. Isto ao mesmo tempo que fomenta o crédito com “decisão rápida”, mas despreza as poupanças num país em que o hábito de o fazer é praticamente inexistente. A taxa de poupança de 4,5% do rendimento disponível é prova disso.
Se é verdade que não é o banco com as comissões mais caras, também o é que nunca foi aquele que se preocupou em dar remunerações atrativas aos depósitos que os portugueses lhe confiam. Ser o banco do Estado é um estatuto do qual a CGD usa e abusa. O abuso vai, agora, ao ponto de além de baixar ainda mais os juros das aplicações a prazo, dar-se ao luxo de não remunerar quem tem menos dinheiro.
Quem tem menos de um euro a receber em juros, não vai ter direito a nada. O banco nem sequer se vai dar ao trabalho de pagar aos clientes essa ninharia que as poupanças, muitas delas suadas, iriam render. É como se a CGD estivesse a aplicar uma comissão sobre o pagamento de juros dos depósitos. Mais uma…
A CGD, que tanto se queixa dos milhares de milhões que lhe ficaram a dever, prepara-se agora para fazer o mesmo aos seus clientes. O banco que mais clientes tem vai seguir o remédio de Mário Centeno, cativando dinheiro que não é seu procurando, assim, apresentar, tal como o ministro das Finanças, um excedente no final do ano para depois voltar a fazer o brilharete de dar dividendos.
É desleal. Não abona a favor da imagem do maior banco do país, algo que tanto preocupa quem o lidera. Nem da confiança que se quer que os portugueses tenham no setor financeiro, vital para que os bancos possam fazer o seu negócio: guardar dinheiro, fomentar as poupanças, conceder crédito e patrocinar bons investimentos.
A CGD pode alegar que a política monetária do Banco Central Europeu obriga a medidas como esta de não pagar juros abaixo de um euro. É verdade que são tempos difíceis para os bancos que se veem a braços com juros em mínimos históricos, com a perspetiva de descerem ainda mais, mas e quando esses juros subirem? Quando as taxas do BCE voltarem ao normal, iremos ver este mesmo banco a dar um desconto nos juros dos empréstimos da casa? Não me parece.
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