As perguntas a que Galamba tem de responder (e já)
João Galamba tem de explicar-se e não pode esperar pelo calendário regular da comissão de inquérito. O adjunto é um ator secundário deste filme de terror de proporções inimagináveis. E Costa também.
Já não há limites para o que podemos esperar da telenovela da TAP. Agora, João Galamba tem de responder, e já, a um conjunto de perguntas que põem em causa a sua permanência no Governo como ministro das Infraestruturas, e não vai poder esperar pelo calendário normal da Comissão de Inquérito à TAP. As acusações de que é alvo por parte de um adjunto que foi demitido são demasiado graves para serem geridas sem a urgência que se exige.
O PS e o Governo pareciam querer transformar as notícias reveladas pela CNN e pela SIC sobre a reunião secreta entre o grupo parlamentar do PS, adjuntos do governo e a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener num caso de fuga de informação para nos fazer esquecer do essencial. E o essencial é a natureza do que já sabemos, a forma como a reunião terá sido marcada, as perguntas e respostas combinadas para preparar a audição da gestora à medida das necessidades do Governo, do PS e dos interesses da própria gestora. Mas como tem sido hábito, há sempre mais qualquer coisa, e desta vez não era uma coisa qualquer.
João Galamba demitiu um adjunto por falha grave, ainda não se sabem as razões, mas desconfia-se que foi uma decisão para calar alguém que tinha mais informação do que deveria. E esta é mesmo a primeira pergunta a que o ministro das Infraestruturas tem de responder: Qual foi exatamente a razão para demitir o adjunto? O que foi a dita falha grave.
A história mostra-nos, sucessivamente, que os mais fracos são pendurados na fogueira da política, como se percebe agora com este adjunto, Frederico Pinheiro. Mas alguém acredita mesmo que um adjunto de um ministro coordena reuniões, prepara perguntas e respostas, sem a decisão direta do ministro? Acredita quem quer fazer deste adjunto o mau da fita (como Hugo Mendes, embora nesse caso Pedro Nuno Santos tenha sempre assumido a responsabilidade política do que fez o seu secretário de Estado, coisa bem diferente do que se está a ver aqui).
As explicações exigidas a João Galamba não terminam aqui. Sabe-se agora que no dia anterior à reunião do grupo parlamentar do PS com a ex-ceo da TAP, o próprio ministro reuniu com a gestora. É verdade? A reunião serviu para quê? E segundo o adjunto demitido, foi o ministro das Infraestruturas a informar Christine Ourmières-Widener da reunião do dia seguinte. Foi? E para que o fez?
De acordo com mensagens trocadas entre este adjunto e João Galamba, Frederico Pinheiro pergunta ao seu ministro se a gestora francesa pode mesmo (o ‘mesmo’ é uma conclusão retirada da mensagem) participar naquela reunião, o que leva a crer que alguém, em algum momento, percebeu o que estaria em causa. Mas Galamba deu o seu ok. Qual era o objetivo do ministro quando autorizava uma reunião secreta e a combinação de perguntas e respostas para uma audição parlamentar?
O filme de terror não termina agora, pelo contrário, agrava-se. Depois de demitido, surge a rocambolesca informação, também ainda mal explicada, de que Frederico Pinheiro terá levado à força um computador do ministério com informação confidencial. Mas o que se soube depois faz-nos crer que essa informação dizia respeito a notas das duas reuniões citadas e que Galamba quereria manter em segredo, escondendo até da Comissão de Inquérito. O ministro (ainda ministro) tem de esclarecer, afinal, que notas são essas e se as queria omitir da comissão de inquérito, coisa que tem, ou teria, uma gravidade inultrapassável.
São demasiadas perguntas, e nenhuma resposta. Não vale a pena transformar o ator secundário no ator principal desta história. E João Galamba tem de se explicar nas próximas horas, isto se não tiver de se demitir antes. E logo a seguir tem de ser António Costa a dar explicações ao país, ou também considera que este é um tema da comissão de inquérito?
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