Crescimento económico: Convergência sem precedentes ou regresso ao passado?
Por muito que seja positivo, Portugal está em certa medida a voltar à tendência do passado.
As estimativas da Comissão Europeia e os dados revelados esta sexta-feira pelo INE confirmam que Portugal não só continuou a crescer acima da media da União Europeia em 2019 como o irá continuar a fazer em 2020 e 2021. Portugal irá assim convergir com a União durante pelo menos cinco anos, a melhor tendência desde 1993. Boas noticias, ou ainda assim, aquém do necessário?
Crescimento do PIB em Portugal e na União Europeia (%)
São boas notícias, já que é obviamente melhor convergir do que divergir, e principalmente porque esta convergência ocorre pela primeira vez ao mesmo tempo que Portugal vai equilibrando as suas contas publicas, reduz a divida pública e privada e mantém as contas externas em relativo equilíbrio.
No entanto, quando se tem em conta o restante contexto da União, este resultado não é assim tão brilhante. Em primeiro lugar, a economia portuguesa beneficiou, e continua a beneficiar, de um contexto externo mais favorável do que nunca. E principalmente, Portugal acaba por não registar um crescimento assim tão exuberante quando comparado com as economias de igual nível de desenvolvimento –os “amigos da coesão”. As médias escondem sempre muita coisa…
PIB per capita face à UE e crescimento médio esperado para 2020 e 2021
Portugal será até o amigo da coesão que menos cresce nos próximos anos… Nos próximos 2 anos, a Comissão Europeia e outras instituições estimam que Portugal cresça em média 1,7%. Abaixo da média de 2,1% registada desde 2014, mas ainda assim acima do registo médio desde a entrada no Euro em 2000 (0,9%).
No entanto, tal como tem sido a tendência das ultimas décadas os países com um nível de rendimento semelhante ao português crescem mais. Como se vê no gráfico 2, em cima, nos próximos dois anos, pelo menos cinco países da coesão com rendimento igual ou superior ao português que crescerão mais: Chipre, Republica Checa, Estónia, Eslovénia, e Malta. Ou seja, não são apenas os países mais pobres que nos ultrapassam. E em bom rigor, dos países com um rendimento abaixo da média europeia, apenas a Espanha e Itália (o pior exemplo da UE..) crescerão menos do que Portugal.
PIB per capita (UE 28=100) em Portugal e nos países da convergência
Portanto, ainda que um crescimento médio de 1.7% seja acima da média da UE e melhor do que o passado recente, é bastante abaixo do que Portugal precisa para diminuir a diferença não só face a União Europeia, mas principalmente para não continuar a ficar cada vez mais para trás na “liga dos últimos”.
Como é bastante conhecido, ao longo dos últimos 25 anos, e aparece documentado no gráfico acima, o rendimento per capita (riqueza) português, manteve-se praticamente inalterado, face à média da UE – entre 60% e 65% da média. Ou seja, ainda que Portugal tenha crescido e a riqueza tenha aumento, continuou bastante mais pobre do que a média da União, mesmo depois de vários quadros comunitários de subsídios e vagas de “reformas”. E Portugal não se pode queixar do contexto externo.
Os restantes países da convergência diminuíram a sua diferença face a UE, tendo passado de um rendimento 35% da média da União em 1996, para perto de 60%, apenas 5 pontos abaixo de Portugal. Ou seja, nos últimos 25 anos, Portugal não só se manteve mais pobre do que a média da União Europeia, como passou a estar mais próximo do grupo dos mais pobres do que dos mais ricos.
PIB per capita em 1996 e 2021 nos vários países da União Europeia
Na tabela em cima é possível analisar estas tendências com maior detalhe. No atual ciclo de recuperação começou, em 2013, Portugal de facto voltou a convergir face a média da UE, cerca de 0.5 pontos por ano, acima dos 0.2 que regista em média desde 1996. No entanto, nos próximos dois anos deverá registar um ritmo inferior, já mais próximo do habitual: 0.3 pontos por ano.
No mesmo período de 2013 a 2019, os outros países menos desenvolvidos, continuaram a convergir com a media da União a um ritmo superior ao Português, atingindo 0,8 pontos por ano, e ainda que esse valor tenha sido abaixo da media desde 1996 (1 ponto por ano), deverá até acelerar ligeiramente nos próximos dois anos, para 0.9 pontos por ano.
Concluindo: Por muito que seja positivo, e que fique bem dizer que Portugal volta a crescer acima da média da União Europeia, na verdade, está em certa medida a voltar à tendência do passado. É certo que esta convergência ocorre com contas públicas equilibradas e ao mesmo tempo que a divida privada diminui.
No entanto, não só voltamos a convergir muito lentamente, bastando, tal como no passado, uma recessão para voltar mais uma vez alguns anos atrás, como também continuamos a fazê-lo muito mais lentamente do que os nossos “amigos” mais pobres. Para poder pelo menos manter a diferença face a esses amigos, Portugal deveria crescer mais 0.6 pontos percentuais por ano, ou seja, o crescimento do PIB deveria andar mais perto de 2.5% por ano.
E como será possível atingir este nível de crescimento? Como pode Portugal crescer mais para não continuar a perder terreno? Isso daria outro artigo, mas tal como escrevi há alguns meses, passará para já por três prioridades: Investimento, investimento e investimento.
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