Dá-se carro com poucos quilómetros. É a gasóleo…
O ministro do Ambiente e da Transição Energética é... ministro. Não deve dizer que os diesel não vão ter valor. Não só não é verdade como pode custar caro à economia.
João Pedro Matos Fernandes gosta muito de dar conselhos aos portugueses. Há bem pouco tempo, quando se discutia a baixa do IVA na eletricidade, o ministro do Ambiente e da Transição Energética recomendou que baixassem a potência dos contadores em casa para 3,45 kva, que é “a potência contratada de minha casa”. Agora, depois de uma baixa no ISP da gasolina, e quando a Taxa de Carbono fez disparar o preço do gasóleo, veio desaconselhar os automóveis a diesel.
“Hoje é muito evidente que quem comprar um carro [com motor a] diesel muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca“, afirmou Matos Fernandes em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios. E, neste sentido, rematou: “na próxima década não vai fazer sentido comprar um carro a gasóleo“.
Estas afirmações fizeram soltar a ira de muitos portugueses. Das famílias, por um lado, porque durante anos foram incentivadas pelo valor por litro mais baixo do gasóleo nos postos de abastecimento a comprarem estes motores. Mas também daqueles que obtêm o seu sustento na indústria automóvel, muito dependente ainda do diesel.
Matos Fernandes atirou diretamente ao bolso dos portugueses, dizendo-lhes que o automóvel que compraram com esforço financeiro — e que muitos ainda estão a pagar ao banco — não vai valer grande coisa. Que o bem que muitos valorizam, afinal não valerá uns míseros euros. Provavelmente valerá mais dá-lo. Apeteceu-me criar um anúncio no Facebook a dizer: “Dá-se carro com poucos quilómetros. É a gasóleo…”. Só se fosse burro é que o fazia.
O ministro do Ambiente e da Transição Energética é… ministro. Não deve dizer coisas destas, porque não é verdade, mas também pelo impacto que sabe que tem na opinião pública, podendo refletir-se negativamente na indústria automóvel nacional com os efeitos negativos que daí advêm para a economia portuguesa.
Não deve diabolizar o diesel depois de tantos anos a incentivá-lo. O que Matos Fernandes deve fazer é incentivar à compra de veículos mais eficientes, logo menos poluentes. Isto independentemente de serem a diesel, a gasolina, híbridos ou… elétricos, como prefere o governante.
O automóveis a diesel, ao contrário do que diz Matos Fernandes, vão continuar a ter valor. Vão continuar a ser valorizados por quem conduz, pelos consumos baixos, mas também pela durabilidade que oferecem. E as fabricantes de automóveis sabem disso. Estão a colocar no mercado cada vez mais motores a gasolina, mas poucas estão a acabar definitivamente com o gasóleo. No limite, transformam-nos em híbridos.
O futuro até poderá ser elétrico, mas dificilmente será daqui a quatro ou cinco anos. A transição demorará muitos anos, não só pelos preços ainda proibitivos das soluções totalmente elétricas, mas também porque as baterias ainda precisam de ganhar alguns quilómetros. E mais importante do que isso, é preciso haver postos de carregamento. Mais postos e, principalmente, a funcionar.
Matos Fernandes mostra-se um acérrimo defensor dos elétricos, salientando os baixos custos de utilização — 100 quilómetros de carro elétrico custam 15% da mesma distância feita com um motor a gasóleo. Tem razão nesse ponto, mas isto porque o Governo de que faz parte carrega na fiscalidade dos combustíveis para obter receitas. E se de repente ninguém pusesse diesel? Queria ver as contas públicas.
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