E tudo António Costa levou

O voto útil e Rui Rio deram a António Costa a segunda maioria absoluta do PS e um país quase todo pintado de cor-de-rosa. Nem tudo é mais do mesmo, o novo Parlamento será muito diferente.

António Costa conseguiu o que ele próprio achava impossível há uma semana, quando desistiu de falar em maioria absoluta. Resistiu ao desgaste de seis anos no poder, à impopularidade de muitos dos seus ministros, às críticas de uma governação arrogante, a dois anos de pandemia que viraram a vida dos portugueses do avesso. A vitimização pelo chumbo do Orçamento e a dramatização do crescimento da direita frutificaram. Com a exceção da Madeira, Portugal é um mapa cor-de-rosa. Veni, vidi, vici.

O primeiro-ministro e o PS, que davam mostras de cansaço, surgem agora revigorados pelo voto nas urnas. Espera-se que António Costa aproveite para trazer caras frescas para o próximo Governo (a maioria absoluta ajuda nos convites). As tão temidas dúvidas sobre a governabilidade estão afastadas. O Orçamento do Estado para 2022, que exibiu repetidamente no debate com Rui Rio, segue dentro de momentos na Assembleia da República.

Se o resultado nas autárquicas era um sinal de mudança, não era para votar em Rui Rio, que apesar de ter mais votos que em 2019, perdeu distritos emblemáticos para o PSD: Leiria, Viseu, Vila Real e Bragança. A boa campanha não apagou anos de uma oposição que nunca convenceu. Rui Rio não federou a direita, como António Costa fez com a esquerda, e com isso entregou a maioria absoluta. O líder do PSD fica sem jeito para o ser. O próprio disse que não sabe como pode ser útil. Quem quererá fazer a travessia no deserto?

O Parlamento que sai destas eleições é, no entanto, muito diferente. O tremendo erro político de PCP e BE provocou uma hecatombe nos dois partidos, com centenas de milhares de votos sorvidos pelo voto útil. De 31 deputados em 2015, caíram para 11. Apesar da subida do PS, a esquerda encolhe e a direita cresce. Com o crescimento do voto do protesto contra o sistema, com o Chega a eleger 12 deputados, e a afirmação de um novo partido liberal, a IL, com 8 deputados. Marcam uma posição para o futuro. Lugar onde o CDS-PP pode já não existir.

A descida da abstenção é um sinal de vitalidade da democracia. Os eleitores escolheram a estabilidade de uma maioria absoluta, a tal que se diz que os portugueses não gostam. Marcelo Rebelo de Sousa agradece. Ou talvez não, porque perderá influência.

(artigo atualizado com o número de deputados final, exceto círculo da emigração)

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