
Montenegro parte (muito) à frente
Depois da vitória de Miguel Albuquerque na Madeira, Montenegro fica a saber que os eleitores privilegiam a estabilidade ao desconforto de uma avaliação ética e moral.
Miguel Albuquerque voltou a ganhar as eleições regionais, e ficou a um deputado da maioria absoluta (que vai assegurar com uma AD regional), apesar dos processos judiciais que também o envolvem. Os eleitores fizeram uma escolha clara a favor da estabilidade, cansados de eleições, privilegiaram a governação — e desvalorizaram o Ministério Público. Não vale a pena fazer de conta que estes resultados não têm uma leitura nacional, à luz das razões que levaram o país para legislativas antecipadas.
O vento parece estar a mudar para Luís Montenegro, depois da forma como geriu, durante mais de um mês, o caso Spinumviva. Começaram a aparecer documentos — passados pela própria empresa, é preciso dizer — a mostrarem trabalho feito na área da proteção de dados. Não esclarecem tudo, mas esvaziam algumas das críticas, e no mesmo fim de semana o Expresso revela uma sondagem a mostrar que a maioria dos portugueses aprova a governação, apesar das dúvidas sobre o comportamento do primeiro-ministro. Agora, os resultados na Madeira são um sinal de uma certa fadiga eleitoral, que tem tudo para se repetir na República. E se o PSD e CDS chegarem à maioria absoluta com a Iniciativa Liberal?
Pedro Nuno Santos dedicou quatro longos minutos a explicar que a derrota estrondosa na Madeira é de Cafôfo, não é do PS nacional. Mas as coisas são o que são. Sabe-se que o PSD Madeira lidera a região há 50 anos, mas estava a perder fôlego eleição atrás de eleição, o que levou aliás a estas regionais antecipadas. Agora, voltou a ganhar, no limiar da maioria absoluta.
As sondagens, sabe-se, são medições de intenções de voto no momento do inquérito — e tantas vezes já ultrapassadas pela realidade quando são publicadas. E com o nível de indecisos próximos dos 40% — era o que apontava a sondagem do Expresso, realizada pelo ICS/ISCTE, é no mínimo ousado apontar um vencedor. Mas as coisas pendem para Montenegro (que beneficia também da taxa de rejeição em relação a Pedro Nuno Santos).
O Governo tem trabalho para apresentar — a saúde é mesmo o calcanhar de aquiles, que vai seguramente ditar uma mudança da ministra –, os portugueses voltaram a mostrar que tendem a preferir a estabilidade e, neste caso, até a continuidade do trabalho feito (e aqui, o que se passa na Madeira é mesmo uma referência para a República).
Pedro Nuno Santos, aparentemente, vai carregar no tema da ética e, por essa, via, tentar descredibilizar o primeiro-ministro. Na Madeira, isso foi um falhanço total, porque se as sondagens mostram que uma maioria de portugueses não gostou do que soube no caso Spinumviva, também é verdade que as suspeitas — no caso de Montenegro, do que se sabe, o que está em causa é apenas de ordem ética — estão a ser absolutamente desconsideradas. As eleições não são explicações, escrevia há semanas o gestor Pedro Norton no Público, mas são um suporte político muito relevante para governar.
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