O automóvel, a plataforma do futuro
Há anos que inúmeras empresas tentam descobrir qual será a próxima grande plataforma. Talvez a encontrem no local mais improvável: a sua garagem.
Ultimamente, parece que tudo na vida é uma subscrição. É a do Spotify para a música. É a da Netflix para os filmes e séries. É o programa da Nespresso que envia o café lá para casa. Para algumas pessoas, é até a subscrição do papel higiénico (sim, existe). Em breve, pode até ser a subscrição do seu automóvel.
O setor auto tem vivido uma revolução nos últimos anos, desde a mobilidade elétrica à condução autónoma. Alguns carros já são autênticos supercomputadores sobre rodas, como pode testemunhar qualquer proprietário de um Tesla. Não é por acaso que, em outubro, a marca valia mais do que a Toyota, Volkswagen, Daimler, Ford e General Motors… juntas. Agora, que é avaliada em 1,07 biliões de dólares, ainda mais.
Isto acontece por uma razão: os investidores avaliam marcas como a Tesla e a Rivian como sendo empresas de tecnologia, em vez de fabricantes de automóveis. Só assim se consegue explicar que esta última esteja a valer perto de 105 mil milhões de dólares, apesar de só ter entregado, provavelmente, meia centena de veículos.
Alguns automóveis novos fazem os antigos parecerem estúpidos, li algures certa vez. E é verdade. Numa sociedade que privilegia o transporte privado em detrimento do coletivo, o automóvel é uma das poucas plataformas largamente inexploradas pela indústria do software.
Como diria um inglês, there’s money to be made. Ou até um português, Carlos Tavares. O gestor que comanda a Stellantis, um dos maiores conglomerados mundiais do setor automóvel (detém 14 marcas, entre as quais a Alfa Romeo, a Citroën, a Fiat, a Opel e a Peugeot), está confiante de que o futuro da indústria não se faz de rodas dentadas e pistões, mas sim de linhas de código.
O mesmo inglês aconselharia put your money where your mouth is. Ora, o CEO da Stellantis acaba de fazer isso mesmo. Na terça-feira, Carlos Tavares anunciou que o grupo vai investir “mais de 30 mil milhões de euros” até 2025 para executar uma estratégia de software e “transformação elétrica”. Com ela, a Stellantis espera gerar receitas adicionais de 20 mil milhões de euros por ano a partir de 2030.
É aqui que entram as subscrições. A Stellantis afirma, num delicioso comunicado, que os automóveis fabricados pela empresa vão transformar-se em plataformas abertas de software, integradas nas “vidas digitais” dos consumidores, num ecossistema onde serão oferecidos “serviços e subscrições”.
Em causa está um mercado de “34 milhões de carros conectados monetizáveis” em 2030, estima a empresa, cujos sistemas poderão ser atualizados através da internet, recebendo novas funcionalidades “anos depois de terem sido construídos”. Não surpreende imaginar um condutor que, ao ligar o carro de manhã, descobre que o seu veículo aprendeu a conduzir sozinho durante a noite.
O primeiro iPhone foi lançado pela Apple em junho de 2007. 14 anos depois, todos temos um smartphone no bolso e inúmeras empresas tentam descobrir qual vai ser a próxima grande plataforma mundial. Talvez, no fim de contas, acabem por descobrir que a plataforma do futuro não está no metaverso, mas sim debaixo do nosso nariz, estacionada na garagem.
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