Olaf Scholz – Temos homem

  • Vasco de Ataíde Marques
  • 6 Fevereiro 2023

Scholz, soube, sem grandes ânsias de protagonismos e permitindo a Macron, Draghi e outros, continuarem a aparecer como líderes igualmente importantes da Europa, mostrar-se um “team player”.

A Europa mostrou-se cética sobre a sucessão de Angela Merkel, o que é compreensível na medida em que durante os anos em que foi Chanceler, conseguiu reunir um quase absoluto consenso à sua volta e desde logo sobre a forma como governou a Alemanha e, de certa forma, a Europa.

Scholz teve por isso que enfrentar a desconfiança natural de quem sucede a uma líder que se tornou de certa forma um ícone.

Entrou e teve, pouco depois, de lidar logo com a guerra na Ucrânia, o que é necessariamente dificílimo. Dificílimo e desconcertante ou difícil também porque é desconcertante. É desconcertante que em 2022 exista uma guerra como esta. Em 2022? Quando julgávamos que finalmente tínhamos atingido definitivamente a paz na Europa, mesmo na grande Europa, para além da União Europeia? Como é possível assistirmos diariamente a cenas iguais ou piores do que as que se sucederam nas duas grandes guerras? E isto numa altura em que a circulação para todo o lado se tornou evidente, com garantias de segurança quase absoluta. E de repente acontece esta agressão, a um país que consideramos ser um país quase da União Europeia. Uma agressão bárbara e chocante, e nessa medida desconcertante.

Pois bem, voltando ao Scholz, vale a pena pensar na dificuldade das decisões que assumiu já em plena guerra, nomeadamente relativamente ao pipeline Nord Stream 2.

Uma decisão desse tipo, fortemente antagonizadora da Rússia, não era nada evidente de ser tomada para alguém que acabava de chegar ao poder. Desde logo porque, correndo mal, teria consequências graves para ele e para a Alemanha e, consequentemente, para a Europa. As decisões que se seguiram, de assumidamente condenar de forma direta e veemente a Rússia, bem como de fornecer a Ucrânia com armamento às claras, foram também certamente muitíssimo difíceis, mas levaram os europeus a perceber a fibra de que é feito, desde logo não deixando a honorabilidade da Alemanha e da Europa por mãos alheias.

Não esteve sozinho nisto e foi acompanhado por um grupo alargado de países, aliás numa união dos países europeus como não há memória há muito tempo. Mas a verdade é que não vacilou e ao não vacilar, num momento dificílimo, ganhou definitivamente o respeito da Europa. E ao ganhar o respeito da Europa, contribuiu para o fortalecimento da mesma, que nos últimos tempos mostrou tudo menos força, como também pouca união.

Scholz, soube, sem grandes ânsias de protagonismos e permitindo a Macron, Draghi e outros, continuarem a aparecer como líderes igualmente importantes da Europa, mostrar-se um “team player”. E é disso que a Europa mais precisa. Não só por causa da guerra, mas para conter alguns fenómenos diminuidores da coesão da Europa como os que resultaram das atitudes recentes de alguns membros, também importantes, como a Hungria e a Polónia. Putin, quando decidiu invadir a Ucrânia, ponderou o facto de Scholz ser um newcommer na Europa e na cena política internacional, contando com a dificuldade que o mesmo teria em impor-se rapidamente, o que tornaria o papel da Alemanha no conflito menos relevante. Pois bem, enganou-se rotundamente. Olaf Scholz andou bem e as suas decisões receberam a aprovação da grande maioria do povo alemão, o que não foi indiferente para que tenha ganho uma força e uma legitimidade acrescida na sua atuação. E tudo isto com uma atitude serena e discreta, nisso num estilo muito parecido com o de Angela Merkel, que só favorece a abertura de um possível diálogo e a esperança de que esta guerra inaceitável veja um fim brevemente. Uma atitude belicista (para além do fornecimento de armas à Ucrânia que é um ato de elementar legítima defesa de terceiro), poderia pôr tudo a perder e por isso a contenção das suas atuações tem conseguido evitar um mal menor.

Enfim Scholz está para ficar e é caso para dizer “temos homem”.

  • Vasco de Ataíde Marques
  • Sócio e coordenador da German Desk da PLMJ

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