Portugal sofre de dissonância cognitiva (I)

Ao recusar o 25 de Novembro e ao aliar-se aos que tentaram instalar uma ditadura, o PS faz uma escolha contra a liberdade, a democracia e a economia de mercado.

As comemorações de Portugal, de Camões e das Comunidades, e o debate sobre a sessão solene do 25 de Novembro no Parlamento são novos sinais de que continua a imperar no nosso país a dissonância cognitiva colectiva recuperada com a formação da “geringonça”.

Uma dissonância colectiva não é um confronto saudável entre adversários como a liberdade, a democracia e a economia de mercado saudavelmente promovem e possibilitam. Em Portugal esta dissonância traduz a incompatibilidade que existe com grupos que são incoerentes ao ponto de afirmar uma coisa enquanto os seus comportamentos e atitudes mostram outra muito diferente.

Paradigmático desta dissonância são as comemorações do 5º centenário do nascimento de Camões, que o governo socialista apenas assumiu depois de criticado por as ter “esquecido”, ou as comemorações do 5º centenário da morte de Vasco da Gama, que também ocorre este ano e que o mesmo governo socialista ignorou totalmente.

A opção foi privilegiar uma aliança com os socialistas não democráticos do PCP e do Bloco para que uma comemoração alongada dos 50 anos do 25 de Abril apagasse os dois centenários. A razão é que nesta perspectiva socialista são incompatíveis porque não é possível associar a escravatura e o colonialismo a que a esquerda radicalizada reduziu a História de Portugal com a vanguarda iluminada de camponeses, operários e soldados, e da “santa” aliança Povo-MFA.

O governo socialista promotor da “geringonça” escolheu recuperar esta dissonância colectiva ao escolher os “puristas de Abril” compostos por um PS radicalizado, pela extrema esquerda de PCP, Bloco e Livre, e a quem a eles se quisesse juntar, contra os que recusam a chantagem do “fascismo” que nunca existiu dos que se julgam donos dos “valores de Abril” e repetem exaustivamente a palavra “democracia” para esconder a ditadura.

A dissonância cognitiva no parlamento

A comemoração do 25 de Novembro discutida esta semana no parlamento foi mais um episódio desta dissonância cognitiva colectiva que se instalou em Portugal nos últimos anos e que prescinde da união entre os defensores da democracia e da liberdade em favor da divisão dos portugueses.

Entre os primeiros estão os que vêm o 25 de Abril e o 25 de Novembro em conjunto, porque as duas datas foram necessárias para que Portugal se tornasse uma democracia plena, com liberdade e com pluralismo, e com uma economia de mercado descentralizada, em que cada português é livre de escolher o negócio ou o ócio que desenvolve na sua vida.

Do outro estão os que não aceitam esta liberdade. Quando hoje falam em democracia, em pluralismo ou em liberdade estão a esconder o que em 1975 tentaram eliminar e a encobrir que procuraram obrigar os portugueses a continuar a viver num regime de voz única, em que apenas era autorizado o que a vanguarda permitisse.

A discussão sobre a sessão solene do 25 de Novembro pautou-se por um chorrilho de mentiras por parte da CDU e do Bloco de Esquerda, corroboradas em parte por Pedro Delgado Alves do PS e por Rui Tavares do Livre.

Na discussão todos se arvoraram em grandes defensores da liberdade e da democracia desde o 25 de Abril de 1974, mesmo os que nessa altura ainda não tinham nascido. Mas todos esconderam o que os seus partidos fizeram no ano e meio que mediou entre as duas datas.

O PCP promoveu ocupações violentas de terras, de casas, de empresas e da comunicação social, tentou forçar a unicidade sindical por si controlada e por as forças armadas e as forças de segurança ao seu serviço e em apoio à sua ideologia. Para isso saneou todos os de que não gostava e colocou os seus lacaios a gerir tudo o que conseguiu para tomar o poder. Um dos mais famosos foi José Saramago que expulsou jornalistas para que o Diário de Notícias servisse a ditadura revolucionária.

Os partidos e dirigentes extremistas que acusavam o PCP de ser “mole” e pouco radical, e que depois criaram o Bloco de Esquerda, também ocuparam pela força casas de famílias, sedes de partidos, propriedades privadas, muitas vezes falseando o argumento de que estavam desocupadas, um activismo ilegal e desumano que ainda hoje defendem quando saúdam os “Okupas” em Espanha.

O resultado destas acções da esquerda radical e anti-democrática foram vinganças mesquinhas que conduziram a saneamento de pessoas respeitáveis dos seus empregos, ao rápido aumento do número de presos em Portugal sem qualquer julgamento, muitas vezes apenas por rivalidades pessoaia, e que em poucas semanas ultrapassou o que existia antes do 25 de Abril. Mais ainda, levaram à proibição de partidos políticos e à sua interdição de participarem em eleições livres, e ao ataque violento a congressos e a sedes partidárias, e, pior do que tudo, a um número elevado de mortes que se poderiam ter evitado.

Tudo isto resultou do radicalismo do pós-25 de Abril. A divisão entre políticos, entre militares, entre o povo, e entre o Norte e o Sul levaram a um país sem lei, sem ordem, sem governo (que até fez greve) e sem Estado, em que o poder esteve nas mãos dos mais perigosos, os que colocaram Portugal à beira de uma guerra civil.

É a isto que os comunistas chamam os “valores de Abril” ou a “Revolução de Abril” e que, seguindo o modelo das revoluções francesa e soviética, foi muito para além de um golpe de Estado militar para tentar instalar uma ditadura socialista. Felizmente em Portugal falhou o que sucedeu nas outras duas, e isso deveu-se especialmente ao 25 de Novembro de 1975.

O que se passou no pós-25 de Abril mostra o ridículo de expressões como a aliança Povo-MFA e a sua associação à liberdade e à democracia, e expõe a falsidade das declarações de António Filipe e de Joana Mortágua no parlamento no passado dia 11 de Junho. Os dois mentiram e mentem descaradamente sempre que intervêm sobre os “valores de Abril”. Mas não foram os únicos que esconderam a verdade, pois foi a memória daquelas desgraças que Pedro Delgado Alves e Rui Tavares tentaram “apagar” no mesmo dia e no mesmo parlamento.

Pedro Delgado Alves contrastou claramente com Francisco Assis quando mostrou como o radicalismo do PS de hoje “esconde” os tempos de Mário Soares. Depois das trafulhices de Sócrates e do sol de pouca dura de Seguro, António Costa iniciou a radicalização que Pedro Nuno Santos agora continua. Costa aliou-se aos que a seguir ao 25 de Abril tentaram instalar uma ditadura socialista em Portugal e foram renegados por Soares. Pedro Delgado Alves mostrou como a equipa de Pedro Nuno Santos segue Costa e renega Soares.

E Rui Tavares também escondeu a verdade. Sendo um historiador, a hipocrisia de Rui Tavares fica exposta quando faz declarações em que finge ignorar o que se passou entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, e depois nos anos 1980 com as FP-25. Falar de complexidade como se o sofrimento que o radicalismo de esquerda causou a milhares de portugueses fosse uma banalidade é não só inaceitável como demonstrativo dos verdadeiros valores que o Livre defende e que estão muito bem enquadrados pelo “Verão quente” de 1975.

Falar de complexidade quando o desenvolvimento deste radicalismo deu origem à actividade terrorista e assassina das FP-25, que em poucos meses mataram 15 inocentes, evidencia a verdadeira essência do Livre. E não por acaso, estes terroristas integraram posteriormente listas de candidatos do Bloco de Esquerda, quando Rui Tavares era seu deputado, e, também num caso, do PS.

Esta é a origem da dissonância cognitiva colectiva que a geringonça veio recuperar. Ao recusar o 25 de Novembro e ao aliar-se aos que tentaram instalar uma ditadura, o PS faz uma escolha contra a liberdade, a democracia e a economia de mercado.

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