Ursula, Trump e Xi entram num bar
A academia deve estar no centro da discussão e a academia não são apenas os docentes e especialistas, somos também nós, os estudantes.
Na passada quarta-feira, realizou-se, na Faculdade de Economia do Porto, a FEP Global Summit, cimeira esta que tive a honra de idealizar e, conjuntamente com mais quatro colegas, organizar. Para além do facto de ter sido um sucesso a vários níveis, o que me faz hoje escrever sobre este tema é, ainda, uma reflexão sobre as responsabilidades dos estudantes na organização e proposta deste tipo de eventos.
Tenho de começar este texto por agradecer a todos os envolvidos: à FEP e ao Professor Óscar Afonso pela disponibilidade proativa em ajudar em todos os momentos e por ter alinhado nesta ideia desde o primeiro segundo; ao jornal ECO e ao António Costa por não se esquecerem que os jovens têm algo a dizer; aos 14 oradores que aceitaram estar presentes na cimeira por dispensarem algum do seu tempo para nos ensinar sobre várias matérias; às consideráveis centenas de estudantes que estiveram presentes, passaram pelo evento e lhe deram cor; e, mais especialmente, à Bárbara, à Constança, ao Vasco e à Vitória por alinharem nesta ideia que sei que, ao início, parecia tola.
As ligações entre geopolítica e economia são evidentes e foi esse o mote que nos guiou para a organização deste evento. Num contexto de guerras próximas das nossas fronteiras, de estagnação económica europeia e reformulação de relações geopolíticas, principalmente, com os EUA, a discussão destas temáticas aliadas às consequências económicas que significam é fulcral para compreender o mundo em que vivemos.
Começamos a tarde por discutir os desafios enfrentados pela China. Sempre com uma questão em pano de fundo – conseguirá a China enriquecer antes de envelhecer? –, conversamos sobre a emancipação feminina, os desafios na relação com Taiwan, as tensões ligadas às ilhas artificiais no Mar do Sul da China, a nova rota da seda ou a competição comercial com os EUA e UE devem ser tema de debate quando discutimos a economia do futuro.
Quantos de nós sabiam que as vendas da BYD já ultrapassaram as da Tesla? Hoje não há corrida ao espaço, mas à tecnologia e à Inteligência Artificial e, para muitos, a China está à frente. Mas outra inquietação se coloca, vamos continuar a ignorar o que se passa em Xinjiang com os Uigures? Lanço a questão.
De seguida, passamos pelos EUA e sobre o que esperar deste segundo mandato de Donald Trump. Há guerras em múltiplas frentes, mas o isolacionismo americano parece estar de volta. O protecionismo reaparece ao fundo da esquina em forma de tarifas quando um dos temas centrais da eleição foi mesmo a inflação. Qual a relação que podemos esperar com a Europa e com a NATO, que tem um novo Secretário-Geral?
Ainda houve tempo para discutir a Europa e os desafios que o velho continente enfrenta são enormes. Desde a estagnação do motor europeu, à relação com a Rússia, passando pelas pressões externas para a adesão e pelo alvoroço em muitos cenários político-partidários de diversos estados-membros, imaginar com clareza o futuro da União Europeia é hercúleo. Continuamos sem conseguir competir devidamente na inovação, nas patentes e nas empresas tecnológicas com os EUA e a China e este abrandamento terá um preço.
No meio disto, continuo a acreditar que a academia deve estar no centro da discussão e a academia não são apenas os docentes e especialistas, somos também nós, os estudantes. Os estudantes são o elemento que dá vida, que na mudança e rotatividade diferenciam e dão cor às instituições por onde passam. Tanto na semana passada, como em fevereiro, quando organizei a II Cimeira do Ensino, senti exatamente isto. Senti que nós, jovens estudantes, temos um poder nas nossas mãos: mostrarmos as nossas inquietações e com isso provar que o ensino superior é mais do que as aulas ou a aprendizagem formal, é um crescimento em vertentes variadas e complementares e é esta componente que nos vai diferenciar.
Ao longo do meu percurso académico fui me sempre interrogando qual seria o papel que nós, estudantes, devíamos ter na oferta de um contexto universitário vivo e completo. O mundo associativo foi a resposta que encontrei. Estive e estou envolvido em associativismo diverso, aprendi sobre múltiplas áreas e acho que foi a melhor escola que podia ter tido ao longo destes últimos anos.
Na semana passada, vimos um exemplo de como uma faculdade se pode mostrar viva. Dinâmica, capaz de oferecer aos seus estudantes uma formação verdadeiramente completa e mais do que isso, capaz de lhes dar liberdade para imaginarem ou criarem algo completamente inovador. Uma faculdade não pode ser nunca um museu e se o for falha no mais essencial dos seus propósitos!
Espero que, com isto, tenhamos provado uma evidência. Quando nos perguntam se os jovens estão interessados em política, mostremos uma foto daqueles momentos: 500 jovens curiosos encheram aquele Salão Nobre da faculdade e se dúvidas houvesse, ficaram dissipadas. Enquanto jovens, razões de queixa há muitas, mas não tenhamos dúvidas: não nos vale de nada ficar sentados num sofá a escrever caracteres no Twitter. Se batemos a uma, duas, três portas e elas não se abrem, não importa, e que eventos como este sejam a prova de que é nossa responsabilidade abrirmos a janela e criarmos, nós, o nosso próprio espaço de fala.
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