Votar para quê?
Para que sejamos parte da solução e não do problema. E para que a União tenha melhores representantes do que os que teve, até porque tem problemas maiores para resolver.
Há seis meses o histerismo tomou conta de parte da internet, quando alguns Youtubers perceberam que o seu modo de vida estava ameaçado por uma coisa chamada Parlamento Europeu. Para lá dos disparates proferidos e das mentiras espalhadas, teria sido bom que a discussão sobre o artigo 13 tivesse o condão de pôr uma nova geração a votar nas eleições deste domingo. Quase tudo o que se vai discutir na próxima legislatura é imensamente mais importante do que a reforma dos direitos de autor e exige deputados informados, devidamente eleitos por cidadãos esclarecidos.
Nos próximos quatro anos vão ser tomadas decisões fundamentais que vão impactar profundamente a vida pessoal e profissional de quem tem hoje 20 ou 30 anos. Questões estruturais como a privacidade, a ética da inteligência artificial e da biotecnologia, a cibersegurança e a proteção de dados vão ser discutidas – e legisladas – nos próximos anos. Tudo o que tem a ver com plataformas digitais, incluindo a liberdade de expressão, também vai ser tema incontornável, até porque não parece que os gigantes americanos se estejam a portar melhor.
Estas eleições também vão servir para se perceber de que valeram os esforços no combate à desinformação, que foi pouco, pelo que é de esperar também legislação para regulamentar o setor. Ainda na mesma área, será determinante saber se vai haver um imposto europeu para as grandes tecnológicas – e o que se vai fazer com esse dinheiro. E se isso implica finalmente uma aposta no mercado digital ou se a Europa continua a ser apenas uma parideira de cérebros para Silicon Valley explorar.
Mais importante que isto, nesta legislatura vai certamente discutir-se um salário mínimo europeu, a expansão do programa Erasmus, a proteção dos trabalhadores não qualificados e a defesa das minorias ameaçadas numa Europa mais populista. E, claro, vamos ficar a saber se a Europa quer ser mesmo o primeiro continente a comprometer-se com a energia sustentável, acabando com os subsídios aos combustíveis fósseis, promovendo o início de uma revolução ambiental que até já pode chegar tarde demais.
Em teoria, estas são as preocupações que movem quem agora entrou nos cadernos eleitorais. Pelo menos é isso que nos têm demonstrado. É ridículo sair à rua em manifestações pró-ambiente só para tirar umas fotos para o Insta e depois não concorrer nem votar em que nos represente devidamente e ajude a mudar o estado das coisas.
Ir para a rua gritar só para fugir às aulas, sem mais ação política visível, é inconsequente. Já tivemos demasiadas gerações inconsequentes na política, não precisamos de outra porque não estamos bem onde estamos. Há muitas alternativas numas eleições onde a diversidade é de saudar – e onde quem quis discutir a Europa envergonhou alguns candidatos tradicionais, que estavam mais preocupados em defender o seu umbigo. Por isso, porque o futuro só passa pela Europa, é fundamental votar neste domingo.
Quando não votamos estamos a deixar que outros tomem o nosso lugar e que decidam por nós.
Ler mais: A melhor leitura possível para perceber o que está em causa nos próximos anos é o relatório sobre as grandes tendências globais até 2030 produzido pelo European Strategy and Policy Analysis System. Em apenas 52 páginas são cobertos os temas que importam: clima, economia digital, crescimento económico, conflito, ciberestratégia, envelhecimento, governança e democracia, populismos e migrações. Devia ser leitura obrigatória nas escolas mas não é, por isso fica aqui a sugestão.
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