Do maior trator vendido em Portugal à apresentação da primeira variedade nacional de arroz carolino. Foram muitas as novidades da Feira Nacional de Agricultura que este domingo terminou em Santarém.
Não foi só a enorme popularidade do presidente Marcelo que na sua passagem pelo Cnema-Centro Nacional de Exposições em Santarém gerou uma onda de afeto e entusiasmo como só ele é capaz. Este ano, a Feira transpirou otimismo. Aos 42 graus à sombra que fazem de Santarém um dos melhores destinos para quem gosta de calor, somaram-se, logo no primeiro fim de semana, as notícias de negócios “quentes” na Feira. Entre eles, o do maior trator de rodas jamais vendido em Portugal, um Fendt de 517 cavalos, adquirido pelo agricultor ribatejano Alcides Catroga ao concessionário AgriMagos. Já quanto aos números do negócio, basta dizer que esta máquina custa bem mais do que um Ferrari ou Porsche.
Além da exposição de maquinaria agrícola, com as presenças das principais marcas do mercado, a Feira apresenta também uma grande mostra do mundo rural, com exposições e concursos de animais das diferentes raças nacionais de suínos, bovinos, caprinos e ovinos, uma exposição de 500 galinhas poedeiras, e vários concursos nacionais de equinos, com as principais coudelarias nacionais.
Os visitantes também puderam divertir-se com concertos, largadas de toiros, desfiles e provas de campinos, atividades equestres, demonstrações de escolas de toureio, treino de forcados, provas de velocidade, perícia e condução de cabrestos, exibições de folclore e música tradicional e popular.
“Houve vários expositores que deram conta da sua satisfação pelo facto de terem feito bons negócios na FNA17 e de um modo geral deram-nos conta do seu agrado com a participação nesta Feira, assim como também nos chegaram ecos muito positivos da satisfação do público”, declarou a ECO, o administrador do Cnema, Luís Mira, responsável pela organização do certame.
Apesar dos 43 graus à sombra em Santarém, Feira recebeu 190 mil visitantes
No balanço desta FNA17, que terminou este domingo, após 9 dias de intensa animação, Luís Mira considerou que a “Feira foi um sucesso, com a participação das principais empresas e associações nacionais ligadas ao setor, e cerca de 190 mil visitantes, menos cerca de 10 mil visitantes do que no ano passado, quebra explicada com as temperaturas superiores a 40º que se fizeram sentir nos últimos dias em Santarém”.
Foram 9 dias de intensa animação ribatejana, de contactos de negócio, e apresentação das mais recentes inovações e tecnologias ao dispor dos agricultores. Com um aumento na área de exposição, a Feira afirmou-se, uma vez mais, como o principal evento deste mercado e a grande montra do setor agrícola em Portugal, no qual a inovação e a tecnologia estiveram em destaque.
O evento foi palco de 30 debates sobre o setor, destacando-se a Conferência Internacional “Agricultura Mediterrânica na PAC Pós 2020”, as “Consequências do Brexit no Orçamento da União Europeia” ou a “Contabilidade e Gestão na Atividade Agrícola”. Estes seminários e debates contaram com a participação de representantes Comissão Europeia e de organizações de agricultores de países da União Europeia como Irlanda, Espanha, França, Grécia, Reino Unido, Itália e especialistas de diversas áreas.
A Feira já há muito entrou na agenda política nacional, com a visita dos líderes dos principais partidos e membros do governo, com destaque para o ministro da Agricultura que veio cinco vezes em nove dias a Santarém, acompanhando as visitas das delegações europeias e participando nos debates com técnicos e agricultores..
Para o público em geral, o certame ofereceu a possibilidade de provar e comprar o que de melhor se produz em Portugal, com a participação dos produtos premiados nos 22 concursos nacionais dos mais diversos produtos tradicionais portugueses, das conservas, aos enchidos e presuntos, bolos, doces, licores, doçaria, queijos, mel, gelados, pães, broas, empadas…
Além destes pequenos produtores tradicionais, o Salão Prazer de Provar agrupou ainda o Salão Nacional do Azeite, o Salão Nacional da Alimentação e o Festival Nacional do Vinho, com algumas das maiores empresas do país que atuam ramo agroalimentar. O Salão integrou ainda um espaço de exposição dedicado à iniciativa “Portugal Sou Eu”.
Uma viagem ao admirável mundo dos cereais portugueses
A entrada da maior e mais antiga Feira Nacional de Agricultura mereceu este ano o elogio generalizado dos visitantes que se viram literalmente mergulhados em searas de cereais portugueses que deram este ano mote à FNA17.
Uma visita mais atenta pela Feira permite verificar o nível de modernização da agricultura nacional, com as empresas, os centros de investigação, as universidades e as associações de produtores, a usarem esta feira para mostrar os avanços científicos e tecnológicos que estão hoje disponíveis para os agricultores entrarem na era da Agricultura Digital. Excelente exemplo de colaboração, foi o que se verificou este ano na Feira em torno dos cereais na FNA17.
Muitos dos visitantes são pessoas com uma cultura citadina, que não fazem ideia de como se produz o alimento que lhe chega ao prato.
Desde logo, a ampla praça de entrada da Feira foi este ano transformada numa seara representativa dos cereais produzidos em Portugal — entre outros, milho, trigo, centeio, cevada e até um arrozal em pleno crescimento. Uma instalação que mereceu o interesse e elogio de muitos dos 190 mil visitantes desta Feira Nacional de Agricultura. À curiosidade das pessoas responderam os próprios investigadores e técnicos da equipa do INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária), entre os quais José Coutinho, do Pólo de Melhoramento de Cereais Autogâmicos de Elvas, com quem falámos. “Muitos dos visitantes são pessoas com uma cultura citadina, que não fazem ideia de como se produz o alimento que lhe chega ao prato, e por isso esta ação foi uma excelente oportunidade para dar a conhecer ao público em geral todo este trabalho desenvolvido em Portugal”, afirma o investigador.
José Coutinho aponta o “arrozal” à nossa frente como exemplo do trabalho capaz de gerar valor acrescentado em toda a fileira dos cereais. Trata-se das primeiras variedades de arroz Carolino produzidas pela investigação nacional, e cujas sementes ficarão disponíveis este ano para a lavoura nacional.
Mais adaptadas ao clima e às necessidades dos agricultores e da indústria, estas variedades de arroz serão comercializadas pela empresa que adquirir a patente, financiando deste modo a continuidade do programa de investigação de melhoramento de cereais. Estas variedades exclusivas de arroz a que deram os nomes de “Maçarico”, pássaro que embeleza os arrozais ribatejanos, e Ceres, a deusa romana dos cereais e das colheitas.
O trabalho de melhoramento das variedades de cereais é moroso e envolve equipas científicas multidisciplinares, agricultores e indústria, no âmbito do programa nacional de melhoramento de cereais autogâmicos desenvolvido pelos investigadores do pólo de Elvas do INIAV.
O investigador sublinha que demorou 12 anos a concluir todo o trabalho de apuramento destas variedades de arroz, que são as mais adaptadas às condições naturais do país, à rendibilidade dos nossos agricultores e industriais e à qualidade exigida pelos consumidores.
Os portugueses, também neste campo, são campeões da Europa — cada português consome em média 18kg deste cereal por ano. O preferido é o Carolino, seja no arroz-doce ou no malandrinho tão ao gosto dos portugueses. Embora Portugal seja o 4.º maior produtor europeu de arroz, com cerca de 30 mil hectares de plantações, apenas dá resposta a cerca de 70% deste enorme apetite por arroz dos portugueses. E nos restantes cereais somos ainda mais deficitários, importamos 95% do trigo e 60% do milho que consumimos.
O presidente da CAP — Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa, realçou a importância do destaque atribuído aos cereais nesta edição da FNA17, referindo que o ministro da Agricultura anunciou neste certame um plano estratégico para os cereais em Portugal. Eduardo Oliveira e Sousa sublinhou que no stand das associações de produtores de cereais nesta Feira, estudantes de Agronomia deram explicações aos visitantes, sobre equipamentos tecnológicos usados na agricultura de precisão. “Esta intervenção técnica e científica elevou a fasquia da qualidade dos expositores e o público apercebeu-se disso”, afirma o presidente da CAP.
De resto, esta FNA!7 foi fértil em novidades e inovações, com destaque para a panóplia de serviços e tecnologias hoje ao dispor do agricultor para percorrer o caminho para a Agricultura Digital, mas também nos produtos alimentares, em que ao lado das muitas especialidades tradicionais, surgiam inovações como o azeite em pó, licor de ouro, enchidos e alheiras com as mais variadas confeções, já para não falar nos queijos, méis e azeites que fizeram deste certame um “paraíso” para os apreciadores da boa gastronomia portuguesa.
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A feira agrícola onde um trator é mais caro que um Ferrari
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