Há cada vez maior competição entre as empresas pelo talento de engenharia. Do 15.º mês às férias extra, não faltaram argumentos de peso para preencher mais de 3.000 vagas da feira de emprego da FEUP.
Estamos a meio da tarde de quarta-feira. Só se veem alunos no principal corredor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Não estão propriamente a faltar às aulas, mas a responder à chamada do futuro: encontrar um estágio ou um trabalho que corresponda às expetativas dos finalistas de licenciatura e de mestrado. E oportunidades não faltam: mais de 3.000 vagas em 113 empresas, num mercado em que a luta para contratar é cada vez maior.
Há três anos que não se via tanto rebuliço numa das principais faculdades do país. Há muitos jovens que querem ser engenheiros e que estão sedentos de atravessarem o corredor do talento entre as aulas e a carreira. Para darem o primeiro passo, só precisam de ler o código QR com o telemóvel e enviarem a candidatura a cada uma das empresas
“Estou aqui para abrir os horizontes, conhecer as empresas e perceber o que tem cada uma para oferecer“, refere ao ECO Verónica Ferreira, que está no último ano do curso de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. É uma das das 4.200 pessoas que estão a concluir a licenciatura ou o mestrado nesta faculdade nortenha.
Mas esta feira pode não servir apenas para procurar emprego. “Também é objetivo da FEUP que estudantes do segundo ano da licenciatura e do primeiro ano do mestrado possam encontrar empresas para fazerem dissertações em ambiente empresarial e estágios curriculares, enquanto estão matriculados. Pode ainda servir simplesmente para as empresas conhecerem os estudantes”, destaca a coordenadora da feira, Marta Rodrigues.
Luta feroz no “mercado doido”
Foi há 25 anos que a FEUP organizou a sua primeira feira de emprego. Começou por ser um evento de um dia, ganhou nome internacional em 2013 e passou a durar dois dias. Nesta edição, a procura superou todas as expectativas. E não foi do lado dos alunos.
Pela primeira vez, a feira durou três dias. “E mesmo assim ficaram mais de 40 empresas de fora“, nota Marta Rodrigues. Quem foi à feira no segundo dia não encontrou várias das empresas que estiveram presentes no dia de estreia. Para tentar acolher ao máximo as candidaturas foi necessário mudar a lista de recrutadores ao longo dos dias.
“Reconhecemos que há muitas oportunidades e não há assim tantas pessoas para contratar. O mercado está a ficar um pouco crazy [doido] na área de tecnologia“, reconhece Fábio Santos, da tecnológica austríaca Parkside, que abriu um centro de desenvolvimento no Porto em junho e que está neste momento a contratar.
Para conquistar talento, os argumentos entram rapidamente nas conversas com os estudantes: “temos uma equipa internacional com mais de 20 nacionalidades, trabalhamos com empresas como o LinkedIn e a ShutterStock. As pessoas estão sempre a aprender coisas novas e temos 20% do horário destinado ao desenvolvimento profissional”.
Percorrendo mais um pouco neste corredor, a aposta recai sobre as turbinas eólicas da Vestas, que está instalada na Lionesa, em Matosinhos. Tem cerca de 70 vagas em aberto na região do Porto. “Estamos em 85 países e as equipas são globais. Há um grande enriquecimento pessoal e o salário é apelativo, tendo em conta o mercado português”, atira Carolina Oliveira, que reconhece o mercado “está muito mais competitivo para profissionais de software“.
Já os estudantes podem ter perspetivas um pouco diferentes. Diogo está a concluir o mestrado integrado em Informática e Computação, e procura “uma empresa que valorize muito as competências sociais”. A colega Marta, mesmo ao lado, aposta na “flexibilidade de trabalho e na sua conjugação com a saúde mental”.
A responsável da feira, Marta Rodrigues, não estranha os requisitos dos estudantes e assinala que “a dificuldade de contratação é muito maior do que em anteriores edições” da feira.
“O desafio é para todas as empresas, devido à competitividade a que estamos a assistir. Há várias empresas a recrutarem nas mesmas áreas do que nós. Tentamos marcar a diferença e mostrar os nossos benefícios, que são atrativos”, sinaliza Viviana Silva, a representar a fábrica da Continental em Lousado, Vila Nova de Famalicão. Para preencher algumas das 100 vagas, a empresa apresenta-se na FEUP com o pagamento do 15.º mês de ordenado, a majoração de três dias de férias e a oferta de um vale educação para quem tem filhos.
Se os alunos não ficarem satisfeitos com esta feira, no segundo semestre de aulas podem responder à próxima chamada de emprego, desta vez organizada pela associação de estudantes da FEUP.
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Empresas entram no “crazy market” para contratar engenheiros no Porto
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