Após cerca de um mês e meio de portas fechadas, o pequeno comércio, cabeleireiros, barbearias, livrarias e stands de automóveis reabriram esta segunda-feira ao público, ainda que com restrições.
O comércio local deu esta segunda-feira o pontapé de saída no plano de desconfinamento da economia, que será realizado em três fases. As lojas até 200 metros quadrados e porta para a rua, assim como livrarias, cabeleireiros e stands de automóveis sem limitação de espaço voltaram a abrir as portas aos clientes, apesar de algumas restrições. Em Lisboa, mais precisamente em Alvalade, a agitação voltou a sentir-se, com os clientes a não dispensarem um corte de cabelo, uma ida à retrosaria ou até de comprarem tupperwares.
Por volta das 11h30 da manhã, a fila à porta da barbearia Nova Lisboa, na Avenida da Igreja, chamava a atenção de qualquer um. Entre clientes à espera para ser atendidos e outros para fazerem marcações, havia também quem parasse apenas para comentar a movimentação. “Tem vaga para amanhã?”, pergunta um cliente de passagem. “Quarta-feira às 13h, pode ser?”, responde um dos funcionários. “Pode ser à hora que quiser”, retorquiu o cliente entre risos.
Fechados desde o dia 16 de março, agora não têm mãos a medir para os clientes. Mas dentro da barbearia só entram os clientes que vão ser atendidos pelos quatro funcionários do espaço e, tal como decretado pelo Governo: apenas se usarem máscara. “Neste momento temos marcações de hora a hora, o que em média dá oito a dez clientes por dia e por barbeiro”, conta ao ECO Pedro Gonçalves, responsável pela barbearia Nova Lisboa, em Alvalade.
Para minimizar o impacto do tempo em que estiveram fechados, a barbearia procura seguir ao máximo o horário normal, isto sem nunca descurar as recomendações das autoridades de saúde. “Fazemos uma pausa entre clientes para desinfetar o material, usamos luvas, máscaras e material descartável. Agora todo o cuidado é pouco, mas o negócio não pode parar”, atira o responsável.
Sem querer entrar em grandes detalhes, o responsável admite que “o prejuízo é bastante”, pelo que todos os funcionários estão em lay-off, ao abrigo de um dos mecanismos criados pelo Governo para apoiar as empresas e que permite que os funcionários recebam dois terços do salário, sendo 30% da responsabilidade da entidade patronal e 70% pago pela Segurança Social.
O prejuízo é muito. Tenho dois funcionários com baixa médica e o resto do pessoal está todo em lay-off.
Mais acima, no Pedro Amaral Cabeleireiros, junto à Igreja João de Deus, a situação é idêntica. “Tenho 35 anos de profissão e é a primeira vez que fui obrigado a fechar portas”, diz Pedro Amaral, proprietário deste espaço. “O prejuízo é muito. Tenho dois funcionários com baixa médica e o resto do pessoal está todo em lay-off”, conta o proprietário acrescentando que, por enquanto vai querer manter este apoio, justificando que face à pandemia todos os funcionários estão “a trabalhar em part-time, sete horas por dia, três vezes por semana”.
Neste estabelecimento sempre trabalharam por marcações, mas devido à situação excecional provocada pelo Covid-19 agora as marcações são ainda mais limitadas. “Agora é mais limitado, estamos três funcionárias, o pessoal está todo dividido em equipas, hoje vêm uns, amanha vêm outros”, explica uma das funcionárias, adiantando que em circunstâncias normais estariam oito pessoas a trabalhar, de um total de doze funcionários.
Depois de um mês e meio de portas fechadas, esta segunda-feira o fluxo de marcações deste cabeleireiro era bastante menor do que o habitual. “Até às 18h de hoje já temos oito marcações para cada funcionária”, explica ao ECO uma das funcionárias do Pedro Amaral Cabeleireiros. Em “dias normais” era “o dobro ou o triplo“, assinala, referindo que as restrições de distanciamento pesam no fluxo de trabalho.
Tal como na barbearia Nova Lisboa, as medidas de higiene foram reforçadas e, no caso deste cabeleireiro, os clientes só podem entrar com uma proteção nos pés, além do uso de máscara obrigatória. Além deste espaço, Pedro Amaral tem ainda outro cabeleireiro, na Avenida Rio de Janeiro, que reabriu também esta segunda-feira nas mesmas condições.
Na loja 100 Costura é um entra e sai de gente
Ainda por Alvalade, também na loja 100 Costura é um entra e sai de gente. Com a pandemia de Covid-19 e a obrigatoriedade para se usar máscaras em transportes públicos, escolas, comércio ou espaços fechados com muita gente, esta retrosaria não tem mãos a medir para as encomendas. “Quase que não existiu quarentena para nós. Como fornecemos os tecidos e os elásticos houve muita procura”, conta ao ECO Maria Helena Monteiro, uma das sócias deste espaço.
Este espaço estava fechado ao público desde que foi decretado o estado de emergência, a 18 de março, mas face às circunstâncias passou a entregar encomendas através da internet. “Quando as pessoas nos vinham bater à porta dizíamos para nos mandar mensagem pelas redes sociais ou email, aviávamos a encomenda e depois marcávamos com a pessoa para a vir buscar”, explica.
Esta segunda-feira a loja reabriu ao público, mas ainda assim é só permitida a entrada a um cliente de cada vez, sendo que os restantes têm de esperar fora do espaço. Aberta há cerca de duas horas, a afluência foi sentida pela proprietária. “Já tivemos para aí uns 15 clientes e vem tudo para o mesmo: elástico e tecidos para fazer máscaras“, sublinha Isabel Monteiro, soltando uma gargalhada.
É o caso de Isabel Gouveia, um das quatro clientes que espera fora da loja para ser atendida. “Vim aqui comprar tecido para fazer máscaras. Tenho feito algumas em casa e agora a minha família tem-me pedido para fazer por causa do preço [das máscaras] na farmácia. Este é o único sítio que conheço aqui perto”, aponta.
Além da venda ao público, a loja tem ainda uma escola de costura, na cave da loja, que foi forçada a encerrar portas face à pandemia. “Temos cinco alunos por aula e o espaço dá para ter algum distanciamento, mas até haver indicação as aulas continuam suspensas“, conta Isabel.
Mas estes não foram os únicos espaços a abrir portas esta segunda-feira. A Viva, uma loja de decoração na Avenida da Igreja, chama a atenção dos clientes pelas promoções afixadas na porta de entrada, mas segundo Sandra Matos, gerente do espaço, estes “descontos são habituais”, admitindo, ainda assim, “umas alterações de preço” devido ao tempo em que estiveram encerrados ao público.
Vim comprar especificamente uns tupperwares que me estavam a fazer falta. Tinha comprado outros no último dia em que abriram a loja e agora vi que estavam em promoção e vim comprar outra vez.
Apesar de referir que as movimentações ainda são tímidas, Sandra Matos diz-se surpreendida pelo fluxo de clientes. “As pessoas estão a aderir ainda um bocadinho devagar, mas está a haver movimentação. Não estava à espera que se movimentasse tanto“, assume ao ECO a gerente. “Pelo menos umas 20 pessoas já entraram na loja durante a manhã“.
Uma das clientes a entrar foi Falzia Sacoor que veio comprar uns tupperwares. “Vim comprar especificamente uns tupperwares que me estavam a fazer falta. Tinha comprado outros no último dia em que abriram a loja e agora vi que estavam em promoção e vim comprar outra vez”, explica a cliente, enquanto espera na fila para pagar.
Com quatro funcionários a trabalhar em simultâneo, face às restrições provocadas pelo vírus esta loja apenas permite que estejam seis clientes dentro da loja. Apesar de ser um espaço em que há bastante contacto com os objetos, a gerência não pensa “para já” impor aos clientes que desinfetem as mãos, ainda assim, os colaboradores reforçaram as medidas de higiene, como a desinfeção dos balcões e dos objetos expostos.
No stand Auto Rio Alvalade não há movimento
Mas nem todos os espaços que reabriram ao público começaram imediatamente a receber clientes. Numa das perpendiculares da Avenida da Igreja, o movimento no stand de automóveis Auto Rio Alvalade é inexistente. Luís Brandão, sócio-gerente deste espaço, abriu esta segunda-feira, mas até por volta do 12h não tinha recebido qualquer cliente. “Para hoje tenho só uma marcação para fechar um negócio que tinha já antes disto tudo, depois é esperar“, atira.
O stand está aberto há 25 anos e até agora Luís Brandão não tinha vivido nada parecido. “O prejuízo é total. As despesas são as mesmas, por acaso não tenho empregados mas há mais de mês e meio que não se fatura nada”, revela, preocupado.
Sem grandes perspetivas quanto ao futuro, Luís Brandão assegura que vai manter os horários de funcionamento que tinha, das 10h às 19h. Quanto às medidas de higiene assegura que vão ser reforçadas, através da desinfeção dos carros, bem como, a “utilização de máscaras e luvas”, principalmente aquando da realização de test-drives.
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“Tem vaga para amanhã?” Comércio regressa a Lisboa a várias velocidades
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