Há cada vez mais profissionais em teletrabalho a procurar opções fora de casa para trabalhar. Alugam por mais tempo e valorizam a possibilidade de usufruir dos serviços oferecidos pelos hotéis.
“Para mim era ideal, porque estaciono no parque, tenho o restaurante para almoçar, se precisar de alguma coisa peço, tenho as facilidades na sala. Neste momento, a empresa está tão reduzida que não faz sentido manter o escritório”. O argumento, dado por um cliente que procurou o Sheraton Porto Hotel & Spa com a intenção de alugar uma suíte para teletrabalho por um período de seis meses, validou o conceito. O serviço, com pouco mais de duas semanas de existência, permite trocar o escritório por uma suíte do 12.º andar do hotel Sheraton Porto e ter acesso a wi-fi de alta velocidade, estacionamento e todas as restantes comodidades do hotel.
Desde março, a pandemia tem vindo a afetar negativamente vários setores, entre os quais a hotelaria e o turismo. Para apoiar as empresas do setor, o Governo autorizou a transformação dos hotéis em escritórios e espaços de cowork, showrooms, salas de reuniões, exposições ou salas de formação.
Apesar disso, já antes do diploma do Executivo, várias unidades hoteleiras, um pouco por todo o país, tinham começado a reinventar os seus serviços de maneira a poderem abrir portas a profissionais em teletrabalho ou a nómadas digitais. A segurança, a possibilidade de aceder aos serviços do hotel e, também, a perspetiva de trabalharem remotamente sem o fazer na sua própria casa são as principais razões de quem procura os hotéis para o teletrabalho e com estadias cada vez mais prolongadas.
Profissionais estendem (cada vez mais) as estadias
À Pessoas, Joana Almeida, diretora do Sheraton Hotel & Spa, conta que a procura de espaços para reuniões pontuais também está a crescer e o aluguer das suítes por longas temporadas — dois a três meses — é requisitado, na maioria das vezes, por profissionais de microempresas no setor dos serviços. “As pessoas já não querem esta mistura [profissional e familiar] a longo prazo, do trabalho e do ambiente familiar, mas ter um espaço onde têm todos os serviços integrados e podem trabalhar em segurança”, sublinha a responsável.
"As pessoas já não querem esta mistura [profissional e familiar] a longo prazo, do trabalho e do ambiente familiar, mas ter um espaço onde têm todos os serviços integrados e podem trabalhar em segurança.”
Mais a sul, o Sheraton Cascais criou o programa “Resort Office” e oferece os mesmos serviços. Aqui, há profissionais que alugam escritórios por dois meses e pretendem ficar um ano, e até visitantes que decidiram mudar-se para Portugal e abrir o escritório no Sheraton Cascais, conta à Pessoas Pedro Santos, diretor-geral do Sheraton Cascais Resort.
A procura é “cada vez mais elevada, tanto de portugueses como de estrangeiros. No geral, podemos traçar um perfil de profissionais que estão cansados do teletrabalho e que sentem que precisam de fazer uma divisão de espaço entre a sua casa e o seu local de trabalho“, assegura o responsável.
“Tem à sua disposição um escritório com todas as condições de um escritório, nomeadamente secretária, blocos de notas, canetas, cadeira confortável, impressora, acesso a internet de alta velocidade, casa de banho privativa, acesso ao estacionamento, à piscina do resort e ainda ao nosso ginásio”, descreve o responsável.
Mudar de escritório, da cidade para o campo
“Temos a vantagem de poder aliar o teletrabalho ao contacto com a natureza e à família. Trabalhar em casa pode ser um desafio para muitos profissionais pois é difícil conjugar a atividade laboral com as responsabilidades domésticas e parentais. Trabalhar no Zmar é poder compatibilizar o trabalho com a sensação de férias e liberdade, onde é possível trabalhar em conexão com a natureza, e levar a família”, detalha à Pessoas Laura Santinhos, marketing manager do Zmar.
Nos 81 hectares no coração do Alentejo, e com segurança 24 horas, o resort Zmar já tem espaço para receber profissionais em teletrabalho e nómadas digitais. Até agora, tem recebido maioritariamente famílias com crianças fora de idade escolar e que ficam, pelo menos, uma semana em teletrabalho.
Em setembro e outubro, também o grupo Selina vendeu mais de 50 passes CoLive só para Portugal, principalmente para expatriados e nómadas digitais, estrangeiros a viver em Portugal e que trabalham para empresas remotas. O serviço Selina Nomad CoLive é precisamente pensado para nómadas digitais e para quem quer trabalhar remotamente enquanto viaja.
“Há casos de hóspedes que reservam para apenas uma semana e, quando descobrem o pacote CoLive, acabam por aderir”, conta à Pessoas Manuel Rito, global marketing project manager do grupo Selina. “Estamos a oferecer pacotes de uma e duas semanas e começamos a perceber que o cliente quer mais tempo e, por isso, este produto aparece no momento certo”, sublinha.
Muito procurada pelas suas residências artísticas, a Cerdeira, em plena Serra da Lousã, preparou as suas casas revestidas de pedra para os “novos clientes” que começam a aparecer. É que, em plena pandemia, “porque não fazê-lo em comunhão com a natureza, numa aldeia de xisto?”
“Tendo em conta a situação epidemiológica atual, acreditamos que o distanciamento social é a melhor forma de vencer a luta contra a Covid-19. Por isso, decidimos abrir a Cerdeira em condições excecionais: vamos receber hóspedes que queiram trabalhar na Cerdeira e proporcionar almoços diários. Esta poderá ser uma oportunidade para pessoas que vivam em meios urbanos e queiram trabalhar num local remoto e rural, enquanto usufruem da calma transmitida pela natureza e montanhas”, assinala o site da aldeia.
Os pacotes de “Trabalho remoto na Cerdeira” começam nas quatro noites para duas pessoas, em regime de meia pensão. A Casa do Forno, Janela ou Escada custam desde 368 mas a estadia entre domingo a quarta pode custar, na Casa do Vale ou Árvore, 508 euros para o mesmo período.
Também para dar ainda mais resposta às empresas e aos profissionais que procuram um espaço para trabalhar fora de casa, vai nascer em dezembro a primeira rede de espaços cowork em vários hotéis do país, a Co-Work-Hotel, criado pela GoodWork. “A utilização será muito simples: o profissional regista-se, adquire um pacote de utilização, seleciona o hotel de interesse, escolhe o espaço de trabalho, apresenta-se no hotel, e trabalha confortavelmente”, explica Pedro Tinoco, promotor do projeto e diretor da rede GoodWork | Co-Work-Hotel, em comunicado.
Os valores variam entre os 75,99 euros para pack de horas e os 189,99 euros para uma utilização a full-time. Estará disponível a partir de meados de dezembro e as reservas podem ser feitas através de uma app ou do site oficial.
Um escritório ou uma nova casa?
A 50 minutos de Lisboa, no Bom Sucesso Resort, em Óbidos, há várias vilas de luxo privadas espalhadas por mais de 150 hectares e que estão a atrair cada vez mais profissionais em teletrabalho. Neste resort, a casa mais pequena tem 200 metros quadrados e todas as casas estão afastadas o suficiente para garantir privacidade, com um espaço exterior significativo. Pode não parecer um hotel à primeira vista mas oferece todos os serviços de hotelaria, com alguns extras. Se viver nestas vilas — ainda que temporariamente –, é possível receber as compras feitas no Continente de Óbidos à porta de sua casa, ter acesso privado ao ginásio ou serviços médicos.
Ainda com baixa procura, estas possibilidades estão a atrair cada vez mais famílias, em teletrabalho, e profissionais liberais, para a zona do Bom Sucesso. “Recebíamos pedidos de entre uma semana e quinze dias e, nesta altura, temos reservas de um mês e três meses”, principalmente de famílias em teletrabalho e profissionais liberais, sublinha Pedro Portugal, CEO do Bom Sucesso Resort, em conversa com Pessoas.
É uma “bolha”, quase “um mundo à parte”, metaforiza Pedro Portugal, CEO do Bom Sucesso Resort. Mas a procura de estadias mais longas nas vilas do Bom Sucesso tem disparado e, no caso dos proprietários das vilas que utilizavam as casas como segunda habitação, passaram a utilizá-las como habitação principal.
“Não sendo um quarto de hotel, acabamos por conseguir dar às pessoas um serviço de hotelaria muito próximo do que é um hotel, com o conforto que só conseguimos ter quando falamos em casas”, ressalva o responsável.
A proximidade a Lisboa, a privacidade e a segurança, parecem ser os fatores mais atrativos para quem pode trabalhar fora de casa e escapar à fadiga da sua habitação principal e a este movimento pode estar a tornar-se uma possibilidade real, até para quem tem razões para não se deslocar.
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Uma suíte ou uma vila de luxo: o novo escritório deles é num hotel
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