Comércio mundial trava a fundo
A OMC reviu em baixa previsão para crescimento do comércio mundial em 2016. A evolução será mais lenta após a crise financeira de 2009.
As trocas comerciais em todo o mundo estão a travar a fundo. É preciso recuar aos tempos da crise financeira de 2009 para observar um crescimento tão fraco do comércio mundial. Segundo as estatísticas hoje divulgadas pela Organização Mundial de Comércio, este ano, as trocas comerciais deverão crescer apenas 1,7%, muito abaixo dos 2,8% inicialmente previstos em abril.
As previsões para 2017 também foram revistas em baixa — a evolução deverá situar-se entre os 1,8% e os 3,1%, contra os 3,6% estimados anteriormente. A razão deste maior pessimismo prende-se com “a maior volatilidade da economia” e o abrandamento do crescimento mundial, que este ano se deverá ficar pelos 2,2%, como explicou o diretor-geral da organização, Roberto Azevêdo, em conferência de imprensa. Esse abrandamento é sobretudo notório nas economias em desenvolvimento, como a China e o Brasil, mas também na América do Norte, que teve, em 2014-15, o mais forte crescimento das importações de todas as regiões, mas que desacelerou desde então.
Comércio abranda para níveis da crise
“O abrandamento dramático do crescimento das trocas comerciais é grave e deveria servir como um sinal de alarme”, disse Roberto Azevêdo. “É particularmente preocupante no contexto de um crescente sentimento antiglobalização. Temos de garantir que isto não se traduzirá em políticas mal orientadas, que tornariam a situação muito pior, não só numa perspetiva comercial, mas também de criação de postos de trabalho e de crescimento económico e de desenvolvimento, que estão tão intimamente relacionados com um sistema comercial aberto”, acrescentou.
Para a OMC, os últimos dados revelam um desenvolvimento dececionante e revelam um enfraquecimento recente na relação entre o comércio e o crescimento do PIB. A tendência de longo prazo tem revelado que, tipicamente, o comércio tem crescido 1,5 vezes mais depressa do que o PIB, embora nos anos 90 o volume do comércio de mercadorias tenha crescido cerca de duas vezes mais depressa do que o crescimento real do PIB mundial. Contudo, nos últimos anos, o rácio resvalou de um para um, abaixo do pico do anos 90 e da média de longo prazo. É a primeira vez que isso acontece em 15 anos.
"O abrandamento dramático do crescimento das trocas comerciais é grave e deveria servir como um sinal de alarme.”
Desde as previsões que a OMC fez em abril houve vários riscos negativos que se concretizaram, nomeadamente um período de turbulência financeira que afetou, no início do ano, a China e outras economias em desenvolvimento, mas que desde então se amenizaram, defende a organização sedeada em Genebra.
Contudo, há alguns indicadores de que o comércio poderá recuperar na segunda metade de 2016, embora o ritmo de expansão deverá manter-se lento. Isto porque persistem uma série de incertezas, incluindo volatilidade nos mercados financeiros que vão desde as alterações na política monetária nos países desenvolvidos, a possibilidade de aumentar a retórica anti-comércio mundial e os efeitos potenciais do Brexit no Reino Unido, que aumentou a incerteza sobre os futuros acordos de comércio na Europa uma região na qual o crescimento do comércio tem sido relativamente forte.
A OMC reconhece que o Brexit não provocou um abrandamento imediato na atividade económica, medida pela produção industrial ou emprego — o principal impacto foi uma queda de 13% na taxa de câmbio da libra face ao dólar e uma quebra de 11% face ao euro. “Os efeitos a longo prazo ainda não se fazem sentir”, diz a OMC no relatório hoje publicado. A organização apesar de admitir que há previsões para todos os gostos — de bastante otimistas até bastante pessimistas — frisa que assume o cenário intermédio, com um abrandamento do crescimento no próximo ano, mas não uma recessão.
O diretor-geral da OMC defendeu que este é o momento de tentar criar “um sistema comercial mais inclusivo”, com um “maior apoio aos países mais pobres, mas também empresários e pequenas empresas, assim como grupos marginalizados nas economias”. “Este é o momento de aprender as lições que a história nos dá e reassumir o compromisso com a abertura dos mercados, que pode ajudar a impulsionar o crescimento económico”, concluiu Roberto Azevêdo.
Veja quais as principais conclusões do relatório:
- O volume do comércio de mercadorias deverá crescer 1,7% em 2016, acompanhado de um crescimento real do PIB de 2,2%. Este será o ritmo de crescimento mais lento das trocas comerciais e do Produto desde a crise financeira.
- O crescimento do comércio foi mais fraco do que o esperado, na primeira metade de 2016 devido à quebra da procura por importações e abrandamento do PIB nos principais países em desenvolvimento e na América do Norte.
- O comércio em 2017 deverá crescer entre 1,8% e 3,1%, um intervalo que reflete as potenciais alterações nas relações entre o comércio e o PIB.
- Alguns indicadores relacionados com o comércio melhoraram, incluindo as exportações e o movimento de contentores nos portos, mas regra geral as trocas comerciais permanecem fracas.
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