Como convencer Wall Street a parar de trabalhar
Desde que saiu de Wall Street, Khemaridh Hy começa seu dia às 5:15 com um selfie no Snapchat e a mensagem “Momento da prática diária. Esteja presente no agora!”.
Após 20 minutos de meditação, ele dirige-se ao elevador e posta no Twitter uma frase do filósofo Lao Tzu, aquela que começa assim: “Pare de partir e você chegará”. Sai para tomar café e escreve no blog sobre “o número” — a quantia que uma pessoa precisa de guardar para sair do mercado financeiro.
“Se o número permite que você viva um perfil como o dos títulos, lembre-se que você também é uma opção de venda a descoberto”, escreve Hy em seu Macbook. “Na jornada da vida, não queremos ser opções de compra a descoberto?”
Talvez tudo isso venha com a roupagem dos novos tempos, tingida por jargões financeiros enigmáticos e possivelmente indecifráveis para a maioria dos mortais, mas os devotos de Hy leem cada palavra. Eles acreditam que Hy conhece o segredo. Afinal, ele deixou a BlackRock aos 35 anos, quando atuava como chefe de pesquisa em Nova Iorque de um fundo da instituição com uma carteira de 19,5 mil milhões de euros (22 mil milhões de dólares).
Na jornada da vida, não queremos ser opções de compra a descoberto?
Isso foi há 17 meses. Agora, Hy é o pastor de alguns e seu credo tem a ver, como ele diz, com “ser seu eu mais autêntico”. Ele posta incansavelmente sobre assuntos diversos, distribuindo conselhos — desde banho gelado em prol da resistência mental até a ingestão de apenas quatro sobremesas por semana — e escrevendo interpretações sobre, entre outras coisas, por que os skaters acabam por ser bons funcionários.
Com meros 2.000 seguidores, você poderia pensar que ele estaria envergonhado. Mas por trás dos números há pelo menos uma pessoa de cada um dos 60 principais hedge funds do mundo, representando aproximadamente 675 mil milhões de dólares em ativos.
Entre os seguidores dele estão Ross Garon, ex-diretor-gerente da SAC Capital Advisors que dirige a área de investimento quantitativo da Point72 Asset Management, e Mark Godvin, sócio da HBK Capital Management. Brad Katsuyama, fundador da mais recente operadora de bolsa de valores dos EUA, a IEX Group, recomenda que seus funcionários leiam o site de Hy, RadReads, para expandirem a mente. “Autorreflexão ou autoconhecimento”, diz Katsuyama, “é extremamente importante.”
Os seus textos mais recentes tocaram em tópicos como a prática exigida para alcançar a paz interior e o que ele descreveu como “encontrar a alegria na Introspeção Incómoda”. Ele prega sobre a sua descoberta de que fazer o que gosta e trabalhar no mercado financeiro não precisam de ser ideias excludentes. Ele está ligeiramente obcecado com o medo da morte e com o que as pessoas podem aprender com isso.
Ao mesmo tempo, ele tem uma preocupação mais mundana, a respeito do que vai fazer da vida. Hy tem muitos aspetos já decididos, mas reconhece que, em algum momento, terá de ganhar dinheiro novamente, monetizando de alguma forma seu website RadReads, criando um negócio ou aceitando um emprego. Ele ainda está a tentar harmonizar “o número”.
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