Calexit: O Silicon Valley quer uma Califórnia independente

  • Marta Santos Silva
  • 10 Novembro 2016

A campanha está a ser liderada pelo co-fundador do Hyperloop, que já recebeu apoio de vários outros empresários e investidores. Entretanto, Londres quer recebê-los de braços abertos.

A conversa começou ainda antes da vitória de Trump, entre empresários e investidores do Silicon Valley, no seu meio privilegiado de comunicação: o Twitter. “Se Trump ganhar vou anunciar e financiar uma campanha legítima para a Califórnia se tornar uma nação independente”, escreveu o co-fundador do Hyperloop, Shervin Pishevar.

Se a ideia parece fora da caixa no mínimo, outros investidores não acharam isso. O fundador e CEO da startup Design Inc, Marc Hemeon, respondeu logo: “Quero apoiar-te nisto. Como posso ajudar?” Outros investidores juntaram-se: o business angel Jason Calacanis disse que parecia a solução lógica e Dave Morin, da Slow Ventures, escreveu: “Ia agora mesmo escrever isso. Vou ser teu sócio nisto”.

Primeiro era só conversa de redes sociais, mas depois Shervin Pishevar confirmou tudo à CNBC, com a maior das seriedades. “Podemos voltar a entrar na união [de estados] depois de a Califórnia ser uma nação”, afirmou, defendendo que a Califórnia, que tem a sexta maior economia do mundo, tem muito poder. “Vai chamar-se Nova Califórnia”.

Em parte, este movimento é motivado por aquilo que alguns dos seus apologistas consideram uma injustiça: o facto de nos Estados Unidos existir um Colégio Eleitoral, o que significa que Hillary Clinton teve mais votos do que Donald Trump no total do país, mas não vence por não ter ganho em certos estados.

Em cada estado, o candidato vencedor, mesmo que seja por uma pequena margem, recebe todos os votos no Colégio Eleitoral que pertencem a esse estado — esses votos não são diretamente proporcionais à população de cada estado, havendo antes um número mínimo e um número máximo de votos para cada estado. O sistema foi criado para que os estados com menor população tivessem uma hipótese de defender os seus interesses, evitando que os estados mais populosos decidissem o destino de toda a união. Mas agora alguns afirmam que o facto de existir um Colégio Eleitoral significa que o voto de um cidadão na Califórnia vale três vezes menos do que um voto no Wyoming.

Outra parte do argumento é a Califórnia ser um dos estados mais progressistas em termos políticos e mais diverso em termos étnicos dos EUA, o que não se coaduna com as visões extremistas de Donald Trump nestas questões, para além de contar com muito poder económico e com alguns dos grandes pólos de inovação no país, incluindo Silicon Valley e instituições como a Caltech.

Calexit já existia mas Silicon Valley dá mais força

A campanha está a ser apelidada de Calexit, numa referência à saída do Reino Unido da União Europeia, e na verdade o apoio recente dado pelos empresários de Silicon Valley é só o seu fôlego mais recente. O movimento foi começado no final de 2015 pelo ativista Louis Marinelli, que criou o projeto Yes California, com base na estrutura desenhada pela Catalunha para a implementação da independência, a começar com um referendo em 2019.

A mudança parece ser atrativa para os empresários e investidores de Silicon Valley que foram desprezados repetidamente por Donald Trump — defendeu que a Apple devia deixar de ter fábricas na China e acusou Mark Zuckerberg (fundador do Facebook) de, com a sua proposta de facilitar a imigração de cérebros para os EUA, querer prejudicar as mulheres e minorias étnicas norte-americanas, entre outras declarações controversas.

Também um deputado democrata na assembleia estadual já disse estar disposto a levar a proposta até lá, embora acompanhando com uma hashtag que indica que poderá não estar a falar a sério.

Para onde vão os exilados do Silicon Valley?

Londres está atenta a esta comoção e já se prevê aumento de preços do imobiliário nas zonas de King’s Cross e Shoreditch, escreve o Evening Standard, que falou com o agente imobiliário da Stirling Ackroyd, Nick Davies. “Londres vai dar-lhes abrigo”, disse Davies ao jornal. “Se eles já tiverem sedes na capital, vão expandi-las. Caso contrário vão tentar abrir escritórios em Londres.

Não foi o único. Colin Hargreaves da Gryphon Property Partners disse que o mercado de tecnologia de Londres tinha a ganhar com a vitória de Trump devido à “consternação atual nos centros norte-americanos”, se esta se tornasse mais pronunciada.

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