Crédito malparado é um dos maiores riscos para a estabilidade da banca
Entre as empresas não financeiras, o crédito em risco de incumprimento representa cerca de 21% do total concedido.
Os quase 18 mil milhões de euros de créditos em risco de não serem pagos continuam a ser uma das maiores ameaças à estabilidade financeira dos bancos nacionais, apesar dos esforços de constituição de imparidades que têm sido feitos para cobrir estes riscos.
A conclusão consta da última edição do Relatório de Estabilidade Financeira, publicada esta quarta-feira pelo Banco de Portugal, que salienta que “os atuais níveis de non-performing loans constituem um risco para a estabilidade financeira, dados os seus impactos adversos sobre a rendibilidade, solvabilidade e nas condições de acesso ao mercado das instituições mais afetadas“.
"[Os créditos em risco] constituem um entrave à geração de resultados.”
“Ao nível da rendibilidade, o facto de estes créditos gerarem um rendimento significativamente inferior ao inicialmente contratualizado, ou mesmo nulo, bem como a necessidade de reconhecimento de perdas por imparidade associadas a estas exposições devido à redução das expectativas de recuperação dos valores em dívida, constituem um entrave à geração de resultados“, refere ainda o relatório.
O caso mais preocupante é o das empresas não financeiras, entre as quais o crédito em risco de incumprimento já representa cerca de 21% do total de crédito concedido. Já no crédito concedido a particulares para habitação, o cenário está “estável desde 2011%”, com o crédito em risco a representar cerca de 6% do total.
No final de setembro, o crédito malparado totalizava cerca de 17,8 mil milhões de euros, representando 9% do total dos empréstimos concedidos pela banca.
A acompanhar a evolução do malparado está o esforço dos bancos para reduzir o impacto do mesmo. “O esforço de constituição de imparidades realizado pelos bancos prosseguiu no primeiro semestre, em linha com o observado nos últimos anos. Este reforço foi particularmente significativo no segmento das sociedades não financeiras, onde os níveis de materialização do risco de crédito são mais elevados”. Neste segmento, o rácio de cobertura atingiu os 73,6% do crédito em risco no primeiro semestre. No crédito a particulares para habitação, a cobertura foi de 36,6% do crédito em risco.
"O setor bancário enfrenta desafios de natureza diversa, num período de transição para um quadro regulamentar mais exigentes e condições económicas adversas.”
Apesar dos “níveis elevados” de crédito em risco, há “sinais de estabilização“, ressalva o regulador da banca, sobretudo graças a este aumento “substancial” dos rácios de cobertura.
Ainda assim, reconhece, “o setor bancário enfrenta desafios de natureza diversa, num período de transição para um quadro regulamentar mais exigente e condições económicas adversas”. Entre os desafios está a “persistência dos baixos níveis de taxas de juro“, a inexistência de uma “retoma sustentada da atividade económica” e a “incerteza em torno do contributo da atividade internacional“.
Neste contexto, “a recuperação da rendibilidade dos bancos portugueses terá de passar, necessariamente, por um controlo adequado do risco de crédito e por esforços adicionais de racionalização de custos“, reforça o Banco de Portugal.
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