Já só sobram quatro gestores da Caixa. Quem vai, quem fica?
António Domingues ficou menos de três meses à frente do banco público. Depois da sua renúncia, seis administradores seguiram-lhe os passos. Quem sobra?
Começaram por ser 19, os administradores nomeados pelo Governo para liderar a Caixa Geral de Depósitos. O Banco Central Europeu não gostou de todos e só aprovou 11, que tomaram posse a 31 de agosto deste ano. Menos de três meses e muitas polémicas depois, António Domingues está de saída e uma boa parte da equipa vai seguir-lhe os passos.
Contas feitas, sobram quatro administradores (três executivos e um não executivo) que ainda não renunciaram aos respetivos cargos.
Quem sai e quem fica no banco público? Recordemos.
António Domingues: CEO e chairman num só
A Comissão Europeia não concordava com o modelo, mas o Governo português insistiu e conseguiu uma solução temporária. António Domingues saiu do BPI, onde esteve 27 anos, para acumular o cargo de CEO e de chairman da Caixa Geral de Depósitos, cargos que iria ocupar em simultâneo durante seis meses, se não tivesse renunciado aos mesmos. No final desses seis meses, ou seja, em fevereiro de 2017, deveria ficar apenas como presidente executivo.
O ainda presidente da CGD ia receber quase o dobro do que recebia o antecessor no cargo: um salário anual de 423 mil euros, em comparação com os 232,1 mil euros anuais de José de Matos. Isto sem contar com os prémios variáveis, que podiam atirar a remuneração do atual CEO para mais de 600 mil euros. O salário era quase igual àquele que recebia no BPI, onde ganhava 423,5 mil euros anuais, assim como um bónus de cerca de seis mil euros de diuturnidades.
Ao novo salário na CGD, António Domingues ia, ainda, juntar a sua pensão do BPI: por ter vindo de uma instituição privada, não existem restrições a esta acumulação de uma pensão privada e de um salário público. A acrescentar ao património de António Domingues há ainda as suas ações e opções no BPI: 56 mil ações (que valem cerca de 62 mil euros) e opções no valor de 233 mil euros para exercer a partir de julho de 2015.
Rui Vilar, o não executivo sem vencimento
O atual vice-presidente executivo da CGD não é uma cara nova no banco público. Entre 1989 e 1995, foi presidente executivo do conselho de administração da CGD e, este ano, aceitou o convite de António Domingues para uma posição não executiva, que acumula com outros cargos: é administrador não executivo da Fundação Gulbenkian e é presidente do conselho geral da Universidade de Coimbra, por exemplo.
O antigo presidente da REN ainda não decidiu se vai ou não ficar na CGD. Em declarações ao Expresso, Rui Vilar refere que só aceitou o cargo na condição de não receber vencimento e que, agora, vai “pesar as razões” antes de decidir se fica no banco.
Emídio Pinheiro: Do topo do BFA para a CGD
Foi companheiro de Domingues no BPI, banco para onde entrou em 1990. Emídio Pinheiro passou por vários cargos dentro da instituição até, em 2005, chegar ao cargo que segurou até sair para a Caixa: presidente da Comissão Executiva do Banco de Fomento Angola (BFA).
Ia ganhar 337 mil euros anuais na CGD, como os restantes administradores executivos desta lista, mas o seu salário anterior é mais difícil de conhecer. O relatório e contas de 2015 do BFA indica que foram pagos aos sete membros da Comissão Executiva do Conselho de Administração um total de 395,2 milhões de kwanzas angolanos, o que, ao câmbio atual, são cerca de 2,1 milhões de euros, o que inclui tanto a remuneração fixa como a variável (por exemplo, prémios de desempenho).
Dividido aritmeticamente, resulta em cerca de 300 mil euros para cada um dos sete membros da Comissão Executiva do BFA, da qual Emídio Pinheiro era presidente.
Henrique Cabral Menezes: Enviado do Brasil
Era o único administrador executivo escolhido por António Domingues a vir da estrutura da CGD, mas o líder do Banco Caixa Geral Brasil tinha subido na escada dentro do BPI desde 1998, tendo chegado a administrador entre 2007 e 2009.
Desde o início de 2014 que Henrique Cabral Menezes gere o Banco Caixa Geral Brasil, que conta com duas agências no país do outro lado do Atlântico, e é detido, quase na totalidade, pela CGD. Entre a saída do BPI e o regresso à banca com a entrada no banco público, Cabral Menezes esteve no setor privado a fundar o Douro Capital Management e a fazer consultadoria no Reino Unido.
Tiago Ravara Marques: Made in BPI
Era diretor de Recursos Humanos do BPI, onde fez a sua carreira, quando António Domingues o foi buscar para lhe propor um lugar executivo no conselho de administração do banco público.
Já foi administrador do BPI Pensões e, desde 2000, tomava conta dos recursos humanos, tendo tido um papel na negociação do contrato coletivo de trabalho da banca. É um dos três administradores que não vai apresentar demissão e que se disponibiliza a ficar se o próximo presidente da CGD assim o quiser. Até porque não deixou o lugar assegurado no banco de origem.
Pedro Leitão, ex-PT chumbado pelo BCE
Pedro Leitão é, juntamente com os dois administradores que se seguem nesta lista, um dos nomes propostos acerca dos quais o Banco Central Europeu mostrou reservas, dizendo que deveriam frequentar um curso na escola francesa INSEAD sobre Gestão Bancária Estratégia.
Entre os sete administradores executivos, Pedro Leitão é o único que não tem nenhuma experiência em banca — nem laços ao BPI. Antes de chegar à CGD, foi administrador da antiga PT, até se demitir em novembro de 2014, na sequência do caso GES, altura em que detinha 758 ações da operadora.
Estava na direção da PT quando se investiu na dívida da Rioforte, ligada ao Grupo Espírito Santo, o que deixa Leitão envolvido num processo civil que ainda não está resolvido.
Paulo Rodrigues da Silva
Começou no BPI em 1992 e lá ficou até ao ano 2000, mas, durante a maior parte do tempo que se seguiu, foi administrador da Vodafone, onde exerceu cargos de gestão. Na altura em que foi chamado para a Caixa Geral de Depósitos, tinha um papel de consultor na operadora.
João Tudela Martins
Mais um que saiu com António Domingues do BPI para a CGD. Era diretor de risco no BPI desde fevereiro de 2016 e começou no banco de investimento, enquanto diretor comercial, em 1996. Fez toda a sua carreira no BPI e vai, também ele, frequentar a formação no INSEAD. Tal como Tiago Ravara Marques, também não tem lugar assegurado no banco de origem.
Herbert Walter
Antigo presidente do Dresdner Bank, um dos cinco maiores bancos da Alemanha, Herbert Walter foi também administrador executivo do BPI, em representação da Allianz. Passou ainda pelo Deutsche Bank e foi administrador da Allianz.
Ángel Corcostegui
É fundador do fundo de private equity Magnum Capital, juntamente com João Talone (antigo administrador do BCP e da EDP). Foi presidente do Santander Central Hispano, entre 1994 e 2000, ano em que o banco comprou o Totta.
Pedro Norton
Deixou o cargo de presidente executivo da Impresa, onde entrou em 1992, em janeiro deste ano. A ideia da nomeação da Pedro Norton era retirar benefícios da sua experiência na área dos media.
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