Governo quer quotas de emprego no privado para pessoas com deficiência

  • Lusa
  • 3 Dezembro 2016

secretária de Estado da Inclusão diz que o problema mais acentuado passa pela "temática da empregabilidade".

A secretária de Estado da Inclusão quer criar quotas de emprego no setor privado para as pessoas com deficiência e exigir o cumprimento destas no setor público, para combater o problema que mais afeta esta população.

Em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que hoje se assinala, a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, falou dos problemas que afetam esta população e dos próximos passos do Governo nesta área.

“Neste momento é fundamental focarmo-nos na temática da empregabilidade”, o “problema mais acentuado que temos”, mas também na inclusão pela educação, que teve uma “evolução muito positiva” nos últimos 20 anos, mas que precisa “permanentemente de melhorias”, disse Ana Sofia Antunes.

Na questão do emprego, além da regulamentação do código de trabalho na área da deficiência, da criação de quotas no setor privado e da exigência do seu cumprimento pelo setor público, a responsável pretende também promover “um programa alargado de empregabilidade para pessoas com deficiência”.

Citando as últimas estimativas do Eurostat, Ana Sofia Antunes considerou “bastante preocupante” a taxa de 16% de desemprego, até porque os valores reais poderiam ser muito superiores se englobassem as pessoas com “dificuldades mais severas”, que nem sequer “estão no âmbito do mercado de trabalho”.

Já quanto ao emprego, os números apontam que 44% estão a trabalhar, quando a taxa relativa às pessoas sem qualquer tipo de deficiência ronda os 70%.

“É uma diferença substancial” e “faz-nos pensar onde estão os restantes 56%” dos desempregados, questionou.

Contudo, estes dados, que são de 2014, já podem ter sofrido uma “evolução favorável”, como aconteceu com a taxa de desemprego no último ano.

Desde que assumiu a pasta, há um ano, Ana Sofia Antunes tem a porta do seu gabinete aberta para receber as pessoas, ouvir as suas preocupações e reclamações de situações, que procura ir resolvendo caso a caso.

As preocupações que lhe chegam em maior número prendem-se com as dificuldades em encontrar trabalho, situações de carência económica, alguns atrasos na obtenção de produtos de apoio e queixas de pais que discordam da forma como o filho está a ser acompanhado na escola.

Segundo a secretária de Estado, a falta de recursos económicos é um dos problemas que mais afeta esta população, sobretudo os que não têm rendimento de trabalho, que sobrevivem com o apoio do Estado, através das prestações sociais, como o subsídio mensal vitalício ou a pensão de invalidez.

“São valores baixos (…) e estas pessoas acabam por depender muito do apoio e da solidariedade das suas famílias e esta é uma das realidades que mais nos preocupa e que vamos procurar combater com a criação da nova prestação social para pessoas com deficiência”, sublinhou.

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Santos Silva: É preciso olhar para o referendo em Itália com alguma serenidade

  • Lusa
  • 3 Dezembro 2016

Ministro dos Negócios Estrangeiros diz que a Europa tem “todos os mecanismos necessários para controlar eventuais efeitos indesejáveis de perturbação nos mercados financeiros”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendeu hoje o respeito pelos mecanismos da democracia, considerando que “é preciso olhar” para o referendo em Itália, que se realiza no domingo, “com alguma serenidade”.

“Julgo que é preciso olhar para a situação italiana, bem como para a situação austríaca, com alguma serenidade, porque nós temos que nos habituar a respeitar os mecanismos da democracia”, disse, acrescentando que “o povo italiano é soberano”.

Os italianos votam em referendo no domingo uma reforma constitucional que visa reduzir o poder do Senado e aumentar a estabilidade política, mas que se transformou num plebiscito ao primeiro-ministro, Matteo Renzi.

Questionado esta manhã no Porto sobre o referendo, o chefe da diplomacia portuguesa afirmou que “a zona euro é suficientemente forte, a intervenção do Banco Central Europeu (BCE) tem sido suficientemente equilibrada e robusta” para a Europa ter “todos os mecanismos necessários para controlar eventuais efeitos indesejáveis de perturbação nos mercados financeiros”.

“Qualquer que seja o resultado [do referendo em Itália], esse resultado representa a escolha do povo italiano”, sustentou.

Para Santos Silva, independentemente de “toda a gente” saber qual o seu partido político e qual a família política europeia a que pertence, percebendo assim como votaria se fosse eleitor italiano, “não é nada de entrar em perturbação”.

“Dispomos dos instrumentos necessários para acudir a eventuais dificuldades supervenientes, designadamente nos mercados financeiros”, afirmou.

Uma eventual derrota de Renzi no referendo pode ter um importante impacto económico, como sugerem a repetida subida das taxas de juro da dívida soberana das últimas semanas e a preocupação crescente com os créditos de cobrança duvidosa que ensombram a banca italiana.

Pode também reforçar a posição de partidos populistas como a Liga do Norte e o M5E, que defendem um referendo sobre a permanência de Itália no euro e não hesitariam em tornar esse um tema central da campanha em caso de eleições antecipadas.

Segundo as últimas sondagens, a reforma constitucional será derrotada, com 55% para o “não” e 45% para o “sim”, mas a elevada percentagem de indecisos – 15% a 25% – pode revelar-se determinante.

Apoiantes e detratores da reforma fizeram campanha como se o referendo fosse de facto um teste à gestão de Renzi, mas foi o próprio Renzi quem personalizou a reforma e anunciou que se demitiria se ela fosse chumbada.

Nos últimos dias, no entanto, o primeiro-ministro disse ter sido “um erro” colocar o referendo como um plebiscito à sua gestão, afirmando que a consulta “não é sobre o governo”, mas voltou a vincular a sua continuidade no cargo à aprovação da reforma.

O governo está sozinho na defesa da reforma constitucional e a oposição assegura que exigirá a sua demissão em caso de vitória do “não”.

A reforma, como a caracteriza Renzi, vai modernizar o país, reduzir os custos da política, agilizar o processo legislativo e facilitar a estabilidade num país que teve 63 governos nos últimos 70 anos.

O principal ponto da reforma é a eliminação do chamado “bicameralismo perfeito”, retirando quase todo o poder legislativo ao Senado, que passa a ser um órgão consultivo formado por 100 senadores, contra os atuais 315, escolhidos pelos governos regionais e locais.

Para a oposição, pelo contrário, a reforma é “um fato à medida de Renzi”, segundo o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e uma iniciativa ilegítima por não assentar num consenso, segundo o Movimento 5 Estrelas (M5E).

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Mourinho terá ocultado ganhos publicitários em offshores

  • ECO
  • 3 Dezembro 2016

Desde que chegou à Premier League, o treinador receberá rendimentos por direitos de imagem através de uma estrutura offshore, diz o Expresso.

José Mourinho terá utilizado offshores para ocultar ganhos publicitários. A notícia é avançada pelo Expresso (acesso pago), que hoje faz capa com “o dinheiro escondido dos melhores do mundo”.

Em 2004, depois de ganhar a Liga dos Campeões com o FC Porto e antes de assinar com o Chelsea, o ‘Special One’ colocou a sua carreira nas mãos do agente Jorge Mendes. Desde que chegou à Premier League, há 12 anos, Mourinho receberá os rendimentos por direitos de imagem através de uma estrutura offshore que se reparte entre Irlanda, Ilhas Virgens Britânicas e Nova Zelândia, indica o semanário.

O Expresso cita a revista Der Spiegel — numa investigação da rede europeia de jornalismo EIC à qual o Expresso também se associou — indicando que a Agência Tributária de Espanha realizou uma inspeção às declarações de Mourinho em 2014. Um ano depois foi imposta uma sanção. O valor final da coima ficou em 2,1 milhões de euros, que corresponde a 20% das suas receitas entre 2010 e 2013.

Na mesma edição, o Expresso também dá conta de uma investigação do fisco espanhol a Cristiano Ronaldo (acesso pago). O assunto já tinha sido abordado ontem pelo El Mundo, tal como noticiou o ECO.

O Expresso afirma que o consórcio do European Investigative Collaborations (EIC) enviou várias perguntas a todos os visados mas não obteve resposta de Cristiano Ronaldo, José Mourinho ou Jorge Mendes. Mas na quinta-feira, depois de uma notícia do El Confidencial que citava fontes próximas de Ronaldo, a Gestifute, empresa de Jorge Mendes, emitiu um comunicado garantindo que “tanto Cristiano Ronaldo como José Mourinho estão em dia com as suas obrigações fiscais tanto em Espanha como no Reino Unido”.

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Caixa: Prejuízos entre dois e três mil milhões de euros

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 3 Dezembro 2016

Dados constam do plano estratégico elaborado pela administração de António Domingues.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai fechar as contas de 2016 com prejuízos entre dois e três mil milhões de euros, noticia o Expresso (acesso pago).

Os dados constam do plano estratégico elaborado pela administração de António Domingues, que resulta do acordo com a Comissão Europeia e com o Banco Central Europeu: assumir as perdas este ano para libertar os próximos, diz o semanário. Ainda que a nova administração tenha espaço para mudar medidas, o sentido do acordo internacional mantém-se, até porque dele depende o aumento de capital.

Este só não é o maior prejuízo na história da banca portuguesa, porque o BES já apresentou perdas de 3,57 mil milhões de euros.

O valor final só ficará abaixo dos três mil milhões de euros por efeitos fiscais. Como? De acordo com a notícia publicada neste sábado, além das perdas do ano, a Caixa vai contabilizar imparidades relacionadas com o passado assumindo perdas em créditos que têm pouca probabilidade de serem pagos. O valor final das imparidades aproxima-se do montante que o Estado prevê injetar (2,7 mil milhões de euros). Portanto, a CGD fica “limpa” e prevê lucros no próximo ano.

Os lucros continuam nos anos seguintes e em 2020 atingirão 670 milhões de euros. O Estado vai então receber dividendos — nesse ano a rentabilidade do capital será de 9% — mas, até lá, é preciso cortar custos e aumentar receitas. Entre 2017 e 2020 deverão sair 2.240 pessoas do banco, diz o plano recentemente apresentado às direções internas da Caixa. Acrescem as 490 saídas em 2016. Mas aqui estão apenas incluídas pré-reformas e reformas. Do encerramento de 180 balcões até 2020 poderão resultar rescisões pontuais.

Por outro lado, o produto bancário será de quase mil milhões de euros em 2016, subindo, de acordo com o plano, até 1,75 mil milhões de euros em 2020. O crescimento médio de 15% em cada um dos quatro anos resulta do aumento de comissões aos clientes e spreads no crédito. Já as taxas pagas nos depósitos vão baixar, diz o Expresso. Além disso, o plano prevê a venda de operações em Espanha, Brasil e África do Sul e encerramentos em Nova Iorque e Londres.

Falta agora saber se o novo presidente, Paulo Macedo, vai manter o mesmo projeto ou se poderá adaptar os meios para atingir os mesmos objetivos.

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La Pasta Fresca: Trazer Itália para Lisboa pode começar por aqui

  • Marta Santos Silva
  • 3 Dezembro 2016

Numa altura em que o referendo preocupa, Stefania assegura: "Itália fica na Europa". Afinal foi assim que, com Giuseppe, se instalou em Lisboa para divulgar a massa fresca... e para a dar a provar.

Dois engenheiros mecânicos napolitanos, uma vontade de divulgar a massa fresca e um amor por Lisboa: são os ingredientes improváveis que, bem misturados, deram no La Pasta Fresca. Stefania Raiola abandonou a Fiat e Giuseppe Godono saiu do seu trabalho na General Electric para seguirem o sonho, que se concretizou num restaurante e fábrica de massa fresca perto do Campo Pequeno, em Lisboa.

Desde julho de 2015, quando inauguraram o espaço acolhedor que agora ocupam na Avenida 5 de Outubro, que os dois ainda não conseguiram voltar a Itália, por estarem a fundar e a tomar conta do estabelecimento a que Stefania chama carinhosamente o “recém-nascido”. Mas o referendo deste domingo em Itália está na cabeça de Stefania, que não votou “pela primeira vez em muitos anos”, como forma de protesto.

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Giuseppe Godono e Stefania Raiola no La Pasta Fresca.Paula Nunes / ECO

O caminho até Lisboa teve muitas curvas para o casal. Stefania foi a primeira a conhecer a capital portuguesa, chegada em 2006 para liderar o departamento de marketing dos veículos comerciais na Fiat. E quando, quatro anos depois, teve de voltar para Itália, foi com a ideia de regressar. Foi viver para Turim e iniciou uma relação com Giuseppe, que vivia na Sicília. “São 1600 quilómetros. Cinco anos assim”, conta ao ECO. “Se era para mudar de cidade, e era…”

Decidiram viver juntos em Lisboa e começar aí um pastificio — a palavra italiana para uma fábrica de massa fresca artesanal. “Desde o início que queríamos abrir uma fábrica, um laboratório de massa fresca, mas também com restauração. Porque a venda não iria ser suficiente, primeiro porque não existe hábito” de consumir este produto em Portugal, esclarece Stefania.

O desafio de vender “pasta fresca” aos portugueses

Os dois eram engenheiros mas Giuseppe sempre gostara de cozinhar, Stefania tinha jeito para os vinhos, e ambos tinham vontade de aplicar a experiência de gestão num negócio próprio. Giuseppe sublinha cuidadosamente que gostar de cozinhar não é o mesmo que saber cozinhar para um restaurante. “Não é só fazer um bom prato. É preciso fazer dez pratos bons diferentes”, explica. E o casal de napolitanos não se atirou de cabeça para a aventura.

“Antes de abrir fui alguns meses aprender com um amigo que tinha um restaurante na Sicília, para aprender a logística, os tempos…” diz Giuseppe. A abertura em Lisboa foi planeada com igual cuidado: Stefania explica que fizeram análises de mercado, definiram o público-alvo da massa fresca e escolheram com dedo cirúrgico o bairro onde se iam instalar. “Este é um bairro que durante o dia está cheio de pessoas de fora que vêm para aqui trabalhar, está cheio de empresas, bancos, ministérios”, explica. “E também estamos cheios de turistas, porque à nossa volta temos seis hotéis de cinco estrelas”.

Porquê cozinhar com massa fresca?

Um grande desafio na venda da massa fresca para fora é o desconhecimento e a falta de hábito dos portugueses. “Aqui há uma cultura da massa, mas não é uma massa de excelência, é mais uma massa de acompanhamento”, explica Stefania. “É um trabalho de divulgação”. A criação do restaurante faz parte dele: mostrar às pessoas aquilo que um prato de massa pode ser e depois incentivar a compra do produto. “Temos que dar a provar, se não ninguém vai comprar”, resume Stefania.

Agora o La Pasta Fresca já entrou mais na rotina — a equipa, que custou muito a constituir, já está mais segura, e as rotinas mais fixas. Agora, o próximo desafio será abrir um novo espaço para vender a massa fresca. “Os nossos custos fixos já temos”, diz a gerente do restaurante de forma otimista. Gostaria de instalar o novo ponto de venda num bairro onde vivam muitos portugueses, mas os pormenores, para já, ficam por revelar.

Para Stefania, o referendo é “histeria coletiva”

Mesmo vivendo em Lisboa, o referendo italiano para alterar a Constituição — e que se transformou num voto de confiança no primeiro-ministro Matteo Renzi — tem a capacidade de deixar Stefania Raiola exaltada. “É um fenómeno de histeria coletiva”, afirma a gerente do La Pasta Fresca. “As pessoas estão a dar ao referendo um significado que não tem”.

É muito forte o sentido de pertença à Europa. Nem o [Beppe] Grillo vai conseguir acabar com isso.

Stefania Raiola

Fundadora do La Pasta Fresca

A transformação do debate público em Itália acerca do referendo, que se desviou da discussão da alteração constitucional para uma aprovação ou rejeição do governo de Renzi, deixou Stefania tão frustrada que acabou por decidir não votar. “Realmente tenho pena de não ter exercido o meu direito. Mas é porque não acredito nem nas razões do Não, nem nas razões do Sim”, explica.

E será que acredita que uma queda do governo de Renzi e uma chegada de um partido populista ao poder poderia fazer com que Itália saísse da União Europeia? A napolitana está confiante de que tal não vai acontecer. “É muito forte o sentido de pertença à Europa. Nem o [Beppe] Grillo vai conseguir acabar com isso”, afirma.

E destaca as facilidades dadas pelo mercado único e livre circulação de pessoas e mercadorias, que lhe são muito pessoais. “Quisemos abrir aqui uma empresa e pronto, somos cidadãos europeus, porque não? A expansão além-fronteiras só pode trazer coisas boas”, explica. Coisas boas como um pastificio no Campo Pequeno, para dar a provar a massa fresca italiana.

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Sonae compra 51% da Go Natural

O grupo de Paulo Azevedo e Ângelo Paupério anunciou a aquisição de 51% da cadeia de restaurantes especializados em alimentação saudável. Valor da aquisição não foi divulgado.

A Sonae MC, unidade de retalho alimentar do grupo Sonae, anunciou a compra de 51% do capital da Go Well, detentora da marca Go Natural, avançou o grupo de Paulo Azevedo em comunicado enviado esta sexta-feira à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Em comunicado a Sonae adianta que “esta operação vai permitir à unidade de retalho alimentar da Sonae reforçar a sua aposta na oferta de soluções adaptadas ao estilo de vida saudável e à Go Natural alavancar novas oportunidades de crescimento”.

O valor da operação não foi divulgado, estando a operação sujeita à aprovação da Autoridade da Concorrência e da dependência de obtenção de um conjunto de acordo com terceiros.

A Go Well opera 22 restaurantes especializados em alimentação saudável em Portugal, tipicamente localizados em centros comerciais. A Go Well opera exclusivamente através da marca “Go Natural”, tendo registado em 2015, um volume de negócios de 6,4 milhões de euros.

A Sonae sublinha que “esta aquisição encontra-se alinhada com a ambição da Sonae MC de ampliar a sua presença em Health & Wellness, em particular no segmento de alimentação saudável e assenta no pilar estratégicos da Sonae: reforço e alavancagem da sua base de ativos e competência chave”.

Luís Moutinho, ceo da Sonae MC adianta em comunicado que: “A Go Natural é uma marca reconhecida no mercado pela oferta distintiva na área da alimentação saudável, estando alinhada com o nosso racional estratégico de promoção de hábitos de vida saudável. Em parceria com os atuais acionistas, vamos potenciar as suas mais-valias e promover novas oportunidades de crescimento e desenvolvimento”.

Já Joana e Diogo Martorell, fundadores da Go Natural acrescentam que: “A parceria com a Sonae marca um ponto de viragem na estratégia de crescimento da Go Natural, permitindo não só acrescentar valor ao nosso leque de competências, como também potenciar uma aceleração de crescimento e de criação de novas oportunidades para a marca”.

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Ronaldo terá escondido 150 milhões de euros em paraíso fiscal

O jogador português do Real Madrid terá usado desde 2009 empresas nas Ilhas Virgens Britânicas para ocultar quase 150 milhões de euros em direitos de imagem.

O internacional português Cristiano Ronaldo, jogador do Real Madrid, terá usado um paraíso fiscal para esconder quase 150 milhões de euros e pagar menos impostos. A informação foi apurada pelo consórcio de jornalistas European Investigative Collaborations (EIC), com base em informações reveladas pelo Football Leaks.

De acordo com o jornal espanhol El Mundo, que faz parte do consórcio, Cristiano Ronaldo terá escondido as receitas provenientes de diretos de imagem em empresas fantasma sedeadas no offshore das Ilhas Virgens Britânicas, nas Caraíbas. O esquema terá começado em 2009, meses antes da chegada do craque ao clube madrileno, e envolve mesmo contratos para o período de 2015 a 2020.

Nessa altura, terá sido a Tollin Associates a receber os direitos de imagem do craque português. Esses direitos foram transferidos para uma sociedade irlandesa com ligação ao empresário português Jorge Mendes, empresa que firmou contratos com marcas como Nike e Samsung. Essas marcas pagaram, depois, à empresa que, transferindo as receitas de volta para a Tollin, as terão canalizado para contas do futebolista no final de 2014. No total, 74,8 milhões de euros em receitas publicitárias.

Mais tarde, no final de 2014, ter-se-á recorrido a um esquema semelhante, agora com as empresas fantasma Adifore Finance e Arnel Services, também nas Caraíbas. Cristiano Ronaldo terá vendido os direitos de imagem relativos ao período de 2015 a 2020 a essas empresas por 75 milhões de euros. No total, quase 150 milhões de euros em receitas que, segundo o jornal, só terão sido tributados em 5,4 milhões de euros pelo fisco espanhol — isto é, menos de 4% do valor total.

Por pagar, terão ficado 63,5 milhões de euros em impostos. Cristiano Ronaldo estará sob investigação das autoridades espanholas há mais de um ano e, sob suspeita, as declarações de rendimentos entre 2011 e 2013, de acordo com o jornal espanhol. Estas informações, investigadas por 60 jornalistas de 12 jornais europeus, representam a maior fuga de informação da história do desporto. São mais de 18 milhões de documentos conseguidos pela revista alemã Der Spiegel que, esta manhã, fez capa com o caso:

Recorde-se que, esta quinta-feira, já tinha sido notícia de que Ronaldo usara uma empresa irlandesa para fugir aos impostos. A notícia mereceu reação da Gestifute, empresa do agente Jorge Mendes, que numa declaração pública garantiu que as obrigações fiscais de Ronaldo e de José Mourinho — outro nome envolvido no escândalo e por razões semelhantes — estão em dia.

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EBA: Malparado é um dos principais riscos para a banca

A European Banking Authority (EBA) alerta que o elevado nível de malparado é uma ameaça séria para o setor financeiro europeu. A baixa rentabilidade também é um risco.

Há riscos para a banca? Há. E não é um. São dois, embora um implique o outro. O malparado e a banca rentabilidade são duas sérias ameaças para o sistema financeiro europeu, diz o mais recente estudo a 131 bancos realizado pela European Banking Authority (EBA).

O rácio de malparado nos bancos europeus encolheu para 5,4% na semana metade deste ano, dos 6,5% registados no final de 2014. “Apesar de haver sinais de melhoria, a qualidade dos ativos é ainda fraca”, diz a EBA.

“Existem diferenças na qualidade dos ativos entre vários países, com mais de um terço das instituições a registarem rácios de malparado acima dos 10%”, refere o relatório. E esse nível de incumprimento nos créditos está a ter impacto na rentabilidade dos bancos.

“Em países como a Grécia, Itália, Chipre, Espanha e Portugal, os bancos são menos rentáveis devido ao elevado malparado, isto apesar da capacidade dos bancos gerarem um nível aceitável de resultados líquidos“, nota o estudo.

Outro ponto a afetar a rentabilidade são os custos operacionais. Na Bélgica, Alemanha, França, Itália, Áustria e Portugal, mas também, embora menos, na Dinamarca, Luxemburgo, Holanda e Reino Unido, os gastos operacionais afetam significativamente a capacidade de os bancos produzirem resultados líquidos de forma eficiente.

Relativamente à questão dos gastos operacionais, a EBA nota que “em muitos casos, os bancos nestes países revelam elevados níveis de ‘outras despesas’, incluindo provisões” que são muitas vezes resultado da necessidade de colocar de parte dinheiro para cobrir perdas com o crédito de cobrança duvidosa.

Rácios mais sólidos

Apesar de apontar para o problema do malparado, e o impacto que este tem nas contas dos bancos, reduzindo os rácios de capital das instituições, a EBA nota uma melhoria nesses mesmos rácios.

“O rácio ‘common equity Tier 1’ aumentou em 80 pontos base entre junho de 2015 e 2016 para 13,6%. O rácio Tier 1 ‘fully loaded’ estava em 12,1% em junho de 2015 e 13,2% em junho deste ano”, sendo esta evolução resultado das restrições de regulação e do não pagamento de dividendos.

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Wall Street estável à espera da Fed

As bolsas norte-americanas fecharam pouco alteradas, mas com tendência positiva. O Dow Jones contrariou: corrigiu dos recordes consecutivos.

As bolsas norte-americanas encerraram pouco alteradas, com o índice industrial, o Dow Jones, a corrigir dos máximos históricos consecutivos atingidos nas últimas sessões. Os dados económicos mais sólidos voltaram as atenções dos investidores para a subida de juros da Fed.

Depois de nas últimas sessões o Dow Jones ter contrariado a tendência do S&P 500 e do Nasdaq, nesta última sessão da semana houve uma inversão na lógica. O índice industrial fechou a perder 0,11% para 19.170,42 pontos, corrigindo de recorde, já o S&P 50 somou 0,02% e o Nasdaq, das tecnológicas, somou 0,09%.

O Departamento do Trabalho norte-americano revelou que foram criados 178 mil novos postos de trabalho no último mês, face aos 142 mil empregos constituídos em setembro. Apesar da aceleração, o número apresentado em novembro desapontou os economistas sondados pela Bloomberg, que projetavam mais 180 mil trabalhos. Tudo somado, a taxa de desemprego caiu 0,3 pontos para 4,6%.

A melhoria do desemprego tem sido apontada pela Fed como um dos principais fatores para a revisão em alta da taxa de juro de referência. Com a taxa de desemprego em apenas 4,6%, os investidores estão a dar como certa a subida do preço do dinheiro já em dezembro.

O mercado atribui já uma probabilidade de 100% a um movimento de subida de juros nos EUA na próxima reunião da Fed, em dezembro, segundo cálculos da Bloomberg, com base na evolução dos futuros no mercado de obrigações.

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Corte da OPEP? Costumamos aldrabar, diz a Arábia Saudita

A OPEP chegou a acordo para reduzir a oferta. Mas vai mesmo fazê-lo? O antigo ministro do petróleo saudita reconhece que o cartel tende a aldrabar na produção.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) conseguiu alcançar um acordo com vista à redução da oferta da matéria-prima. O objetivo é claro: puxar pelos preços. Mas isso só acontecerá se, efetivamente, o cartel cumprir. Mas o antigo ministro saudita do Petróleo diz que regra geral há quem não o faça.

Ali al-Naimi, o ex-ministro do petróleo da Arábia Saudita, diz que o acordo alcançado tem potencial para reequilibrar o mercado petrolífero. “A única arma que temos [para reequilibrar o mercado para puxar pelos preços] é travar a oferta”, diz à Bloomberg. Mas reconhece que isso não é fácil. “A parte triste é que regra geral nós aldrabamos”.

A OPEP acordou em cortar em 1,2 milhões de barris por dia, enquanto a Rússia e outros produtores fora do cartel comprometeram-se a reduzir a sua própria produção em mais de 600 mil. Esta decisão histórica levou a uma reação expressiva das cotações no mercado. O barril de petróleo disparou mais de 10%, chegando quase aos 55 dólares em Londres.

Em 2014, a Arábia Saudita opôs-se ao corte da produção, a menos que todos se comprometessem a fazer o mesmo. Como não havia esse compromisso, não aceitou.

Ali al-Naim também mantém alguma reserva quanto à participação da Rússia neste corte. “Irá a Rússia cortar a produção em 300 mil barris? Não sei. No passado não o fizeram”, nota.

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É Natal. Luzes já brilham em Lisboa

  • ECO
  • 2 Dezembro 2016

A iluminação de Natal percorre 30 ruas de toda a capital. Veja o vídeo.

O Natal está a chegar. Com ele, as tradicionais iluminações. Em Lisboa, as luzes já se acenderam, dando brilho a mais de 30 ruas da capital num investimento de 700 mil euros.

As luzes decorativas que vão estar acesas durante a quadra natalícia, até aos Reis, “vão animar mais de 30 arruamentos por toda a cidade, num total de mais de dois milhões de lâmpadas LED“, diz a Câmara Municipal de Lisboa.

“Na emblemática praça junto ao rio destaca-se uma Árvore de Natal com o tamanho equivalente a um prédio com 10 andares. Este ano, a iluminação das principais artérias totaliza mais de 164 quilómetros de cordão de luz”, nota.

Num vídeo publicado no site da autarquia, partilhado nas redes sociais, é possível ter uma ideia de como estas iluminações natalícias dão mais cor às ruas da capital.

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O que está em jogo no referendo italiano

  • Marta Santos Silva
  • 2 Dezembro 2016

Não é só a Constituição e a oportunidade de estabilizar os notoriamente efémeros governos italianos. O governo de Renzi pode cair e Itália pode mesmo vir a sair do euro... e da UE.

epa05654136 Italian Prime Minister Matteo Renzi during the recording of the Rai TV program 'Porta a porta', hosted by journalist Bruno Vespa (R) in Rome, Italy 30 November 2016. A Constitutional Referendum takes place on 04 December. Reports state that the Constitutional reforms are planned to end Italy's gridlock-ridden system of 'perfect bicameralism' by turning the Senate into a smaller, regionally based body with fewer powers, to make lawmaking cheaper and faster. Prime Minister Renzi is campaigining for the 'Yes' side. EPA/GIUSEPPE LAMI

O que poderia ser apenas um referendo de alteração à Constituição assume proporções de voto de confiança no governo em Itália, onde o primeiro-ministro Matteo Renzi prometeu demitir-se se a emenda constitucional que tem sido o pilar do seu mandato for rejeitada pelo voto popular.

As alterações à Constituição, prometem os seus defensores, vão fortificar as legislaturas notoriamente efémeras de Itália, que em 70 anos de democracia já teve 63 governos. Outros argumentam que as mudanças vão pôr demasiado poder nas mãos de um executivo. No entanto, o mais importante a curto prazo não é o que se vai votar no referendo, mas sim um complexo jogo político entre Renzi, primeiro-ministro há dois anos, e três partidos populistas que ganham terreno, relevância e votos.

As sondagens dão a vitória ao “Não” no plebiscito de dia 4 de dezembro. Com o executivo de Renzi em risco e o primeiro-ministro a garantir que nem um governo interino liderará, a Itália pode voltar a cair num período de instabilidade que dará mais força a partidos populistas e eurocéticos, com alguns analistas a prever uma saída da moeda única e mesmo um Italexit.

Afinal o que se vai votar no referendo?

O referendo vai servir para aprovar ou rejeitar uma alteração profunda ao sistema político italiano através de uma alteração à Constituição.

Defendida por Matteo Renzi e pelos partidos italianos mais próximos do centro, a parte principal da alteração constitucional é a redução dos poderes do Senado, que na configuração atual duplicam essencialmente os da Câmara de Deputados. A aprovação de uma lei é muitas vezes lenta, enquanto o documento salta de uma câmara parlamentar para a outra.

Se a mudança for aceite, a aprovação do Senado passa a ser necessária apenas em leis relativas a alguns temas particulares — no que toca aos outros temas, o voto do Senado passa a ser apenas uma recomendação que pode ser invalidada com uma segunda votação na Câmara de Deputados. O referendo reduz ainda o número de senadores de 315 para 100, e estes deixam de receber um salário.

O mais importante, porém, já não é o que consta no referendo, mas sim a confiança popular em Matteo Renzi, que foi eleito há dois anos pelo partido de centro-esquerda PD com uma plataforma de progresso e mudança.

A mudança é pela “eficiência” e “simplicidade”…

As alterações constitucionais, advoga Matteo Renzi, tornariam o sistema político italiano mais eficiente, os governos mais estáveis e aprovação de leis mais rápida.

“Se querem que este país mude — não por mim, não por vocês, mas pelo bem dos nossos filhos — se quiserem um sistema mais simples, apoiem-me, porque não consigo fazê-lo sozinho”, disse Matteo Renzi num comício em Treviso no qual defendeu o “Sim” no referendo que se tem tornado o assunto chave da sua legislatura.

O “Sim” no referendo também é apoiado por 98% dos CEOs que responderam a uma sondagem da Bloomberg — os dirigentes de 42 das 100 maiores empresas italianas. Para os empresários italianos, que há décadas pedem reformas, uma mudança no sistema de governo para o tornar mais eficiente seria mais do que bem-vinda.

Os empresários também defendem um “Sim” no referendo porque a permanência de Matteo Renzi na liderança do governo italiano promoveria uma estabilidade que o país raramente viu na sua história, continuando a tendência de crescimento que a Itália tem visto no mandato de Renzi, como se vê no gráfico abaixo, com dados da Bloomberg.

“O principal problema é que o debate agora mudou desde o mérito das reformas para um voto político acerca do governo”, disse à Bloomberg o chairman da CIR, Rodolfo de Benedetti. “Se perguntassem aos italianos se queriam um sistema político mais eficiente e menos caro, quem diria que não?”

…ou é o “serial killer do futuro”?

As sondagens indicam que uma maioria dos eleitores se prepara para dizer “Não”. Aqueles que se opõem à reforma constitucional defendem que esta põe demasiado poder na Câmara de Deputados, que, graças a uma alteração da lei eleitoral que entrou em vigor este verão, vai passar a ter sempre governos maioritários a partir da próxima legislatura.

A mudança na forma de atribuição de assentos parlamentares faz com que o líder do governo cumpra sempre um mandato de cinco anos com uma maioria parlamentar garantida e sem ameaça de revolta no interior do partido. Assim, com o fim da dependência do Senado para a aprovação da maior parte das leis e com uma maioria na Câmara de Deputados, alguns acreditam que os mecanismos de controlo da atividade do governo desapareceriam por completo.

Mas não é apenas a contestação ao que consta no referendo que leva os números do “Não” a subir nas sondagens. As campanhas contra o referendo estão a ser lideradas por três partidos populistas.

Beppe Grillo, que lidera o mais popular destes partidos, o Movimento Cinco Estrelas, começou mesmo a chamar ao referendo o “serial killer”, ou assassino em série, “do futuro dos nossos filhos”, apelando ao voto no “Não”, que rejeita a reforma constitucional e faz cair Matteo Renzi.

Brexit, Trump, e agora Itália?

Existem vários paralelos entre o referendo italiano e dois outros grandes plebiscitos que marcaram 2016: o referendo da saída da União Europeia no Reino Unido — conhecido como Brexit –, e a eleição presidencial dos Estados Unidos que colocou o empresário populista Donald Trump na Casa Branca.

Em todos os casos, a campanha opunha um lado suportado pela maioria dos peritos e pelos partidos políticos do centro, enquanto o outro lado (a saída da UE, Donald Trump, o “Não” em Itália) era principalmente movido por retóricas populistas de rejeição do status quo. O próprio Donald Trump comparou a sua vitória ao “sim” ao Brexit: “Isto vai ser como o Brexit plus plus plus“.

Agora, há analistas que também fazem comparações entre o referendo italiano e o britânico — igualmente negativas. “O referendo em Itália pode ter um impacto ainda mais poderoso do que a votação do Brexit no Reino Unido”, escreve o analista financeiro John Mauldin, na revista Forbes.

O risco, segundo escreve Mauldin, não é propriamente a rejeição da alteração constitucional, mas sim a queda do governo de Matteo Renzi. “Isto colocaria a Itália numa crise política. Depois haveria um potencial real para a eleição de partidos que pediriam um referendo acerca da permanência na União Europeia. E neste momento não é óbvio o que os italianos escolheriam fazer”, afirma o analista.

O perigo a que se refere Mauldin está nos três partidos populistas e eurocéticos mais conhecidos em Itália. O mais forte é o Movimento Cinco Estrelas de Beppe Grillo, que conseguiu 21% dos votos dos italianos nas eleições de 2014 para o Parlamento Europeu, mas pouco atrás fica o partido do antigo presidente Silvio Berlusconi, Forza Italia, com 16,8% nessa eleição. Um pouco menos votado por se centrar mais no norte da Itália e ter pouca representatividade no sul está o Lega Nord, partido independentista que saiu da eleição de 2014 com mais de 6% dos votos.

Prevejo uma sequência de eventos que ponham em causa a participação da Itália na Zona Euro.

Wolfgang Münchau

EuroIntelligence

Entre estes três partidos, que se prevê ganharem ainda mais poder com a queda do governo de Matteo Renzi — que seria percecionada como uma vitória para o lado populista — o risco de um referendo à pertença à União Europeia torna-se maior. A questão coloca-se mais ainda graças à nova lei eleitoral já aprovada, que garante que o partido vencedor na segunda volta das eleições tenha direito a uma maioria parlamentar sem contestação interna. E se esse poder ficar nas mãos de um partido eurocético?

No Financial Times, o analista Wolfgang Münchau chega à mesma conclusão: “Prevejo uma sequência de eventos que ponham em causa a participação da Itália na Zona Euro”. O populismo, escreve Münchau, é alimentado em Itália pela diminuição da produtividade total dos fatores desde que o país entrou para o euro, enquanto a França e a Alemanha registaram uma subida, e pela imposição da austeridade na Europa em vez da criação de uma união económica e bancária mais consolidada. “No dia 5 de dezembro, a Europa pode acordar para uma ameaça imediata de desintegração”, escreve Münchau.

No entanto, não são só os populistas que rejeitam a proposta de Renzi. O antigo primeiro-ministro italiano Mario Monti também declarou, numa entrevista ao Corriere della Sera, que tenciona votar “Não” no próximo domingo. “A UE nunca pediu esta mudança constitucional e pode ficar calma. A Itália não arrisca cair para o lado e esmagar o euro, como há cinco anos”, disse Monti ao jornal. Para Monti, o “Sim” significa a aprovação de políticas despesistas e de um estado social mais expansivo.

No domingo, os italianos decidem. Mas uma coisa é certa: há muito mais em jogo do que uma mudança na Constituição. E os italianos, os europeus, e os mercados sabem disso.

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