? Transportes públicos: Lisboa vs. capitais europeias
Um túnel sem fim de problemas. É assim que muitos lisboetas (e até turistas) relatam o quotidiano do sistema de transportes públicos da capital portuguesa. De Inglaterra à Noruega, da Dinamarca à Suécia, passando por Itália, Holanda e Alemanha: os testemunhos dos portugueses com experiência em Lisboa fazem a comparação.
Comecemos por Londres. A capital inglesa recebe milhões de turistas, mas não é por isso que os transportes falham. Quem o garante é Joana Santos, natural do Barreiro (Setúbal), que durante anos se deslocou nos autocarros, comboios e metro de Lisboa, também por ter vivido em Linda-a-Velha: “Em plena hora de ponta é comum muitas estações limitarem a entrada para impedir o ‘overcrowding’ e também é comum irmos tal e qual sardinhas em lata em muitas carruagens”. Mas esse menor conforto é compensado pela eficiência: “Prefiro chegar rápido a casa em vez de ter um lugar sentada no metro”.
Em Lisboa, o sentimento de segurança não existe, nem de dia nem de noite.
Essa eficácia dos transportes reflete-se também na forma como estão interligados. A movimentação entre os vários locais da cidade é mais fácil quando comparado à capital portuguesa: “Em Lisboa, se estiverem no centro, até consegues arranjar alternativas, mas se viveres, por exemplo, em Linda-a-Velha ou na Margem Sul, és capaz de esperar uma hora só por um dos transportes de ligação”. Além disso, Joana Santos elogia a “rede de segurança brutal” nos transportes londrinos, em comparação com Lisboa onde o “sentimento de segurança não existe, nem de dia nem de noite”.
O mesmo acontece na Noruega, relata outra portuguesa: “Um fator que destaco é a segurança, os transportes cá são muito mais seguros, mas isso já se deve à própria população“. Sara Lopes nasceu em Braga, estudou em Coimbra e passou por Lisboa, durante uns meses, antes de rumar até à Noruega. “Lisboa tem uma boa rede de transportes, um bocado confusa mas bem preparada. O problema é o trânsito que dificulta a circulação de autocarros, o que faz com que uma pessoa demore mais de 1h entre Santa Apolónia e Belém”, explica Sara Lopes ao ECO.
Já o sistema norueguês de transportes públicos são muito mais modernos: há tomadas USB para carregar o smartphone, ambas as portas dos autocarros servem de entrada e de saída do autocarro, permitindo a circulação mais fluente e efetiva de passageiros, e os transportes estão preparados para transportar carrinhos de bebés. Melhor: “Se o local de espera for um ponto de interesse/local de escalas com autocarros, existem salas de espera com aquecimento geralmente associado a um restaurante/quiosque“. É natural: faz frio na Noruega.
Uma vantagem de uma boa rede de transportes públicos é a minimização do número de automóveis nas ruas da cidade.
De um país nórdico para outro, vejamos o exemplo da Dinamarca pela voz do português António Sousa, de 28 anos. “A rede de serviços é muito mais abrangente aqui, já que para além de incluir autocarro e metro, incorpora também o comboio suburbano com estações espalhadas por toda a área metropolitana”, começa por dizer. O transporte de bicicletas é facilitado, “o que no dia-a-dia se revela muito eficaz na articulação dos métodos de transporte mais sustentáveis”. Maior frequência, mais informação dos horários sempre atualizada e aquisição sem complicações são vantagens. Além disso, o metro de Copenhaga é recente (foi construído em 2002).
Acresce que, em termos de dimensão, Copenhaga é mais pequena do que Lisboa. “No entanto, a percentagem de pessoas que se desloca para o centro da cidade todos os dias é abismal. Uma vantagem de uma boa rede de transportes públicos é a minimização do número de automóveis nas ruas da cidade”, destaca António Sousa, referindo a utilização abundante de bicicletas e espaços verdes. De referir que, ao contrário do centro de Lisboa, Copenhaga é uma cidade plana, o que facilita a circulação de bicicletas.
São bons. Mas não é o paraíso
Calma. Nem tudo é positivo na Inglaterra, Noruega ou Dinamarca. Os comboios — apesar de Joana não os utilizar — têm sido recentemente afetados por greves e o mau tempo facilmente afeta horários. Acresce o facto de a qualidade das estações de metro ou paragens de autocarro não ser a melhor. Mas há mais. “Paga-se muito por um serviço de qualidade. Embora sejam preços adequados aos ordenados que se recebem aqui”, considera a portuguesa de 23 anos. São 150 libras por mês.
Existe um grande respeito pelos utilizadores de transportes públicos em Londres.
Parece um valor exagerado, mas Joana Santos elenca logo as vantagens: “Em hora de ponta, há metros a chegarem de um em um minuto e, fora da hora de ponta, espera-se, num dia mau, no máximo dez minutos. No entanto, se tudo estiver a trabalhar regularmente, espera-se no máximo cinco minutos. Além disso, quase nunca há greves e existe metro 24 horas às sextas e sábados“. A portuguesa relata ainda que caso haja greve, há transporte alternativo gratuito. “Existe um grande respeito pelos utilizadores de transportes públicos em Londres, porque também existe a consciência de que, sem eles, Londres é um completo caos”, afirma.
“Em Lisboa, utilizava o L123, gastando também mais do que 100€ e não tinha a qualidade de serviço que tenho aqui: havia muito mais greves, atrasos e cancelamentos de comboios, para além do facto de que muitas vezes esperava 15 minutos por um metro que, quando chegava, já vinha a abarrotar porque só tem três carruagens”, descreve Joana Santos na comparação que faz entre Londres e Lisboa. Já na capital londrina há maior confronto e frequência, as rotas cobrem toda a cidade e é frequente haver lugar sentado.
Usa-se muito o transporte aéreo. É o método mais fácil e cómodo para viajar longas distâncias.
Também na Noruega os bilhetes são “caros”, considera Sara Lopes, de 26 anos. Facilmente se paga cinco euros por uma viagem só. Mas a portuguesa até deixa uma dica para quem for a terras norueguesas: Os bilhetes “ficam mais baratos se forem adquiridos através de uma app que permite comprar curtas e longas distâncias bem como viagens também de barco (cá na Noruega justifica-se o uso constante de barco)”, revela.
Além do preço, não há transportes públicos durante a noite. Começam às 6h da manhã, mas terminam à meia-noite, exceto sextas e sábados em que há “um autocarro noturno quando a cidade fecha”. Além disso, “usa-se muito o transporte aéreo também, é o método mais fácil e cómodo para viajar longas distâncias (e mais barato)”, remata Sara Lopes.
Já na Dinamarca, o preço dos bilhetes parece ser menos chocante. “É mais atrativo para os utentes do que em Lisboa. Isto considerando que a qualidade dos transporte de Copenhaga é melhor e o ordenado médio na Dinamarca superior ao de Portugal“, analisa António Sousa. No caso da capital dinamarquesa o preço varia consoante a distância percorrida. No centro da cidade, por exemplo, uma viagem custa 1,60 euros independentemente do meio de transporte escolhido.
“A minha impressão é que no geral as pessoas estão satisfeitas com os transportes coletivos. Mas é claro que há sempre coisas a melhorar, e a opinião pública revela isso mesmo”, considera António Sousa. O que querem os utentes dinamarqueses? Um preço mais baixo e maior frequência de serviço… Onde é que já ouvimos isto?
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