OPEP prestes a prolongar acordo. Será suficiente para puxar pelos preços do petróleo?
O mercado está a contar com um prolongamento por nove meses do acordo da OPEP para cortar a produção. Os preços devem reagir com uma subida. Mas esta recuperação enfrenta obstáculos.
Passaram seis meses desde que os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) chegaram a acordo para cortar a produção de petróleo. Mas o mercado espera que este compromisso seja prolongado quando se reunirem esta quinta-feira. em Viena. Por um motivo: os esforços dos produtores não se traduziram, até agora, numa diminuição do excesso da matéria-prima no mercado. Isto num cenário em que os preços do “ouro negro” continuam baixos e a produção nos EUA ainda está a aumentar. Mas há agora um novo desafio: as medidas de Donald Trump.
A OPEP ainda enfrenta uma oferta de petróleo superior à procura. Ou seja, a política de cortes do cartel para forçar a subida dos preços não conseguiu reduzir o desequilíbrio do mercado, em parte devido ao aumento da produção norte-americana. Esta conclusão é da própria OPEP. Por isso, quando os países se reunirem esta quinta-feira para falarem sobre o mercado petrolífero, é provável que cheguem (novamente) a acordo, mas desta vez para um prolongamento dos cortes.
Mas por quanto tempo? Podem ser apenas seis meses — o que dececionaria o mercado. Tudo indica que será um prolongamento por nove meses. Uma ideia que foi esta quarta-feira reforçada por um comité — composto por seis países da OPEP e fora do cartel — que apoia uma extensão até março de 2018, de acordo com dois delegados presentes na reunião. A Rússia, Arábia Saudita e Iraque já estão a bordo. Neste momento, dez dos 21 países envolvidos neste acordo já alcançaram a meta de redução da produção.
Que países é que alcançaram o alvo para a produção em abril?
Mas os investidores estão à espera de mais. “O mercado está à espera de algo extra, especialmente depois de a Arábia Saudita e a Rússia se terem já comprometido com o prolongamento do acordo por nove meses”, afirma Amrita Sen, analista de petróleo da Energy Aspects, à Bloomberg.
"O mercado está à espera de algo extra, especialmente depois de a Arábia Saudita e a Rússia se terem já comprometido com o prolongamento do acordo por nove meses.”
Uma das possibilidades é um aumento dos cortes. Um cenário que já foi afastado pelo ministro do Petróleo do Kuwait. O mesmo ministro que deixou o alerta de que “nem todos” os produtores podem alinhar no prolongamento até março de 2018. Uma extensão até ao primeiro trimestre do próximo ano vai ajudar os produtores a alcançarem o objetivo de cortar as reservas globais, disse o ministro saudita. Al-Falih refere que se mantiverem os cortes e se se juntarem mais um ou dois pequenos produtores, então isso será suficiente para se regressar ao reequilíbrio até este período.
Preços devem chegar aos 60 dólares…
Esta quinta-feira, o Brent segue nos 54,45 dólares e o WTI está a negociar nos 51,81 dólares. Mas os preços ainda podem subir mais. Os analistas apontam para que, nos próximos meses, o barril chegue aos 60 dólares. “Os ministros da OPEP deverão insistir nesta discussão e isso significa que haverá maior volatilidade dos preços. Esperamos que os preços cheguem aos 60 dólares nos próximos meses”, comenta um analista do UBS, citado pela Bloomberg.
Segundo a consultora FGE, a reação inicial do mercado ao prolongamento do acordo deverá ser positiva — com o Brent a subir para os 55 dólares — antes de se assistir a um recuo nos preços dentro de alguns meses.
…mas há obstáculos
A OPEP e outros 11 produtores concordaram, no ano passado, cortar a produção até 1,8 milhões de barris por dia. Este corte devia durar apenas seis meses, mas a redução não tem sido tão rápida quanto desejado. Apesar de o processo estar a ser lento, já está a dar frutos. Os preços do petróleo estão a recuperar. Mas esta subida dos preços está a alimentar o maior obstáculo a estes esforços: a produção de petróleo de xisto nos EUA.
Os EUA aumentaram a produção em 500 milhões de barris por dia, para 9,3 milhões, desde que a Arábia Saudita deu início às discussões sobre o corte da produção, no final de 2016. A Agência Internacional de Energia estima mesmo que a produção norte-americana vai tocar um recorde de mais de 10 milhões de barris por dia no próximo ano, mantendo uma oferta elevada no mercado, o que pressiona as cotações.
Outro desafio: Donald Trump
Mas há outro obstáculo… e chama-se Donald Trump. O Presidente dos EUA pode trazer um novo obstáculo à OPEP no próximo ano, na sua tentativa de reequilibrar o mercado. Trump anunciou uma proposta para vender metade das reservas petrolíferas do país a partir de 2018 — reservas que totalizam quase 700 milhões de barris. Uma venda que colocaria ainda mais crude no mercado.
Mas, segundo os analistas, esta venda de 270 milhões de barris ao longo de uma década teria um impacto limitado nos preços do petróleo. Isto porque seriam vendidos 74 mil barris por dia, uma pequena parte do consumo global de 96 milhões de barris. De qualquer maneira, abrandaria os esforços do cartel para reduzir as reservas globais, que já estão perto de máximos históricos.
Mesmo assim. o otimismo mantém-se. O acordo da OPEP “tem funcionado e eu sei que vai funcionar ainda melhor na segunda metade [do ano]”, afirma o ministro da Energia dos Emirados Arábes Unidos, à margem de uma conferência em Abu Dhabi. “Precisamos de dar mais algum tempo ao mercado.”
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