Férias da Páscoa ditam trambolhão de 800 milhões nos depósitos
O stock de depósitos encolheu em 803 milhões de euros no mês de abril, para se situar num total de 141.979 milhões. Ou seja, o valor mais baixo desde fevereiro do ano passado.
As aplicações em depósitos sofreram mais um rude golpe. O montante total aplicado pelos portugueses em depósitos encolheu em mais de 800 milhões de euros, em abril, com o saldo total a baixar para mínimos de mais de um ano, mostram dados do Banco central Europeu (BCE). A quebra das aplicações no produto de poupança preferido pelos portugueses coincidiu com o mês em que se celebrou a Páscoa, período em que tradicionalmente os portugueses abrem mais os cordões à bolsa. Mas acontece também num contexto em que, devido à baixa remuneração oferecida, muitos portugueses têm sido levados a canalizar as suas poupanças para outros produtos mais rentáveis.
Segundo dados divulgados pela entidade liderada por Mario Draghi, nesta segunda-feira, os portugueses detinham um total de 141.071 milhões de euros aplicados em depósitos. Este valor representa uma quebra de 803 milhões de euros, face ao total de 141.874 milhões que estavam depositados nos bancos no final do mês anterior. É também o saldo total mais baixo desde fevereiro do ano passado, mês em que os portugueses detinham um total de 141.016 milhões de euros aparcados em depósitos.
Os mais de 800 milhões de euros de perdas de ativos sofridos pelos depósitos, em abril, resultaram de uma diminuição de 756 milhões de euros de quantias que estavam aplicadas a prazo. E também da diminuição em 63 milhões de euros dos valores que estavam em depósitos à ordem. A quebra do saldo de depósitos foi ainda a maior desde a registada em novembro último, mês em que ocorreu uma diminuição de 841 milhões de euros.
Evolução do saldo dos depósitos no último ano
A quebra registada em abril no “bolo” total de depósitos coincidiu com a Páscoa, época em que tradicionalmente e, à semelhança do que acontece na quadra natalícia, os portugueses tendem a aumentar bastante os seus gastos. Ainda recentemente, e a propósito da expectativa positiva revelada por Mário Centeno face ao desempenho económico do país no segundo trimestre deste ano, Rui Constantino, economista-chefe do Santander, salientava precisamente a habitual contribuição da Páscoa para o aumento dos gastos das famílias. “A Páscoa é o segundo mês mais forte de consumo privado do ano, a seguir ao Natal”, notou o economista ao ECO.
Depósitos atraem menos, porque também pagam menos
Parte da explicação para a quebra do montante global dos depósitos terá a ver também com a cada vez mais baixa remuneração oferecida por este tipo de produtos. Os últimos dados disponibilizados pelo Banco de Portugal, indicam que, em março, a taxa de juro das novas aplicações em depósitos a prazo se fixou nos 0,31%, em média. Trata-se da remuneração mais baixa de um histórico de mais de 17 anos.
Estes juros mínimos surgem no seguimento da fraca apetência dos bancos em captar recursos dos seus clientes, tendo em conta não só o nível historicamente baixo dos indexantes como o facto de já não precisarem desses ativos para puxarem pelos seus rácios de capital. A prioridade dos bancos passa agora sim por dar crédito.
Quem não se deixa prender por esses juros mínimos são os aforradores. Estes têm apostado cada vez mais noutras soluções de poupança e, em concreto, nas disponibilizadas pelo Estado. Produtos de poupança que tendem a oferecer retornos bastante mais atrativos quando comparados com a generalidade dos depósitos a prazo e que, por isso, têm captado elevadas quantias junto dos aforradores portugueses.
Em abril, o valor total aplicado pelos portugueses em certificados ultrapassou pela primeira vez a fasquia dos 25 mil milhões de euros. Este aumento está a ser alimentado pelos certificados do Tesouro que, em março, ultrapassaram pela primeira vez os certificados de aforro no cabaz de aplicações dos portugueses. Ao mesmo tempo que os certificados de aforro registam fortes resgates, os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM) continuam a atrair aforradores, tudo graças a uma oferta de retornos com muito pouca concorrência.
No primeiro ano, os CTPM remuneram com uma taxa de juro bruta de 1,25% no primeiro ano. Nos quatro anos seguintes a taxa de juro sobe gradualmente para atingir um valor médio de 2,25%, em termos brutos, nos cinco anos de aplicação. Imbatível não só face à taxa de juro dos depósitos como em comparação com a dos certificados de aforro onde, para além da perda do prémio extraordinário de 275 pontos base nas séries mais antigas, as novas subscrições também oferecem muito pouco. Quem neste mês de maio subscrever unidades de participação da série D, a única em comercialização, vai contar com uma taxa de juro bruta de 0,669%.
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