Jardim Gonçalves: Governo de Sócrates “precisava de dominar o BCP”
O fundador do maior banco privado português conta que, durante o governo de Sócrates, "a pressão para meter no BCP gente da confiança do governo era grande e vinha de todo o lado".
O governo de José Sócrates precisava de “dominar o BCP” para ter mais facilidade na emissão de dívida pública junto da banca. E foi por isso que, em 2007, colocou Carlos Santos Ferreira, até ali presidente da Caixa Geral de Depósitos, a liderar o maior banco privado português. A sugestão é feita por Jorge Jardim Gonçalves, o fundador e histórico presidente do BCP, numa entrevista publicada este sábado pelo Público (acesso condicionado), na qual recorda os eventos que levaram à sua saída do banco, há dez anos.
Questionado pelo Público sobre se concorda que Vítor Constâncio, então governador do Banco de Portugal, estava alinhado com o grupo de acionistas que queria tomar o poder do BCP (onde se incluíam Joe Berardo, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, da Ongoing, António Mexia, líder da EDP, Carlos Santos Ferreira ou João Rendeiro, fundador do BPP), Jardim Gonçalves foge a comentar a atuação de Constâncio, preferindo atacar a de José Sócrates.
"Sócrates e Teixeira dos Santos precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública. Mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública.”
“O que sei é que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças [Fernando Teixeira dos Santos] precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública. Mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública”, recorda. Já o BCP “era independente” e o BPI “era pequeno”. Assim, “o Governo precisava de dominar o BCP, o que só era possível com a nomeação de um presidente”, acusa.
“Pelo que hoje se sabe, o professor Campos e Cunha [antecessor de Teixeira dos Santos no Ministério das Finanças] tinha-se recusado a nomear o Armando Vara para a CGD, decisão que Teixeira dos Santos viria depois a tomar. E Armando Vara acaba por ser escolhido pelo grupo de António Mexia e da Ongoing para ir com Carlos Santos Ferreira para o BCP”, diz ainda.
"A pressão para meter no BCP gente da confiança do governo era grande e vinha de todo o lado.”
Sobre Vítor Constâncio, Jardim Gonçalves recorda um episódio que, no seu entender, mostra como “a pressão para meter no BCP gente da confiança do governo era grande e vinha de todo o lado“.
“Na altura, [Constâncio] chamou o Filipe Pinhal [antigo presidente executivo do BCP] para lhe recomendar que não avançasse com a sua candidatura à liderança do BCP. Em simultâneo, sem nada lhe dizer, enquanto o Pinhal estava reunido com ele, Constâncio mandou chamar o Christopher Beck [que estava nas listas de Pinhal], mas colocou-o noutra sala. E informa o Beck que o BdP tem questões contra os dois e que quer clarificar, pois podem resultar em contra-ordenações. É então que a comunicação social começa a referir, para potenciais administradores do BCP, os nomes de Santos Ferreira, Armando Vara e Vítor Fernandes [agora no Novo Banco], que eram gestores da Caixa”, conta Jardim Gonçalves.
Fosun não tem “história autorizada”
O fundador do BCP comentou ainda a entrada do grupo chinês Fosun no capital do banco português, uma estratégia que critica duramente.
“Não gosto que se diga que Portugal não tem capital e que tem que vir um estrangeiro comprar as empresas. O BCP foi alienado, pois um acionista que compra 30% compra a instituição. E isto só acontece quando não há confiança no valor que uma determinada administração acrescenta”, comenta.
Sobre a Fosun em si, não tece comentários, porque diz não conhecer a empresa. “Mas não concordo que haja uma entidade estrangeira sem história autorizada a dominar o maior banco privado“, ressalva.
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