Draghi abre a porta, mas juros da casa ainda descem
Revisão da prestação da casa no próximo mês? Não precisa ter receio (ainda). As prestações do crédito vão voltar a baixar ligeiramente, apesar dos crescentes sinais de fim dos estímulos do BCE.
Se tem crédito à habitação, prepare-se… para voltar a pagar menos. As prestações vão voltar a baixar para quem tem revisão do contrato no próximo mês. Apesar de Mario Draghi começar a dar sinais de que a política monetária poderá começar a ser reavaliada em breve, abrindo a porta ao fim dos estímulos que colocaram as taxas de juro em terreno negativo, as famílias portuguesas vão beneficiar de um novo alívio nos encargos com a casa, mas muito ligeiro.
O sobe e desce das Euribor, as taxas interbancárias a que estão associados praticamente todos os contratos de crédito à habitação das famílias portuguesas, foi muito ligeiro. Ainda assim, o resultado foram médias mensais das Euribor a três, seis e 12 meses mais negativas, tanto face ao mês anterior como às registadas nos meses de referência das últimas revisões das prestações. Assim, quem tem um crédito com a taxa de mais curto prazo vai sentir uma redução de 0,01% no valor a pagar ao banco. Nos créditos com taxa a seis meses a prestação desce 0,69% e com a de 12 meses cai 1,7%.
Estas descidas traduzem-se em alguns euros ao final dos próximos meses (até às próximas revisões). Considerando um crédito no valor de 100 mil euros, a 30 anos, e com um spread de 1%, no caso da Euribor a três meses a mensalidade vai baixar… quatro cêntimos, passando de 306,75 para 306,71 euros de acordo com os cálculos do ECO. No caso da taxa a seis meses cai 2,15 euros para 309,57 euros, encolhendo no dobro (5,46 euros) no caso dos empréstimos indexados à taxa a 12 meses, que não são atualizados há mais tempo. A prestação desce para 314,89 euros.
Mario Draghi deixa alerta?
São reduções pequenas, mas continuam a ser descidas nas prestações. Isto numa altura em que começa a crescer a expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) possa começar a repensar a política monetária que tem seguido para a Zona Euro. Especialmente tendo em conta que a inflação está a dar sinais de recuperação. Mario Draghi, o presidente do BCE, usou o palco de Sintra, onde se realizou o Fórum do BCE, para abrir a porta a essa inversão. Ou, pelo menos foi essa a leitura dos mercados.
"A ameaça de deflação já não existe e que as forças reflacionárias [impulso dos preços por via de políticas orçamentais] estão em jogo.”
Ainda há fatores que estão a pesar na recuperação da inflação, mas são “principalmente temporários” e podem ser resolvidos com a política monetária do BCE, disse Draghi. Sublinhou que a “ameaça de deflação já não existe e que as forças reflacionárias [impulso dos preços por via de políticas orçamentais] estão em jogo”, uma mensagem que levou os investidores a acreditarem que o BCE pode começar a retirar os estímulos mais cedo que o previsto. O euro subiu, os juros da dívida soberana também. Especialmente na periferia da Zona Euro.
Juros a subir. Ai o facilitismo…
Mesmo num cenário de inversão da política monetária, os juros tenderão a subir de forma moderada — é, pelo menos, esse o sinal que tem sido deixado por Mario Draghi –, pelo que o impacto nos encargos das famílias deverá acontecer gradualmente, permitindo tempo para que os orçamentos familiares sejam ajustados. Ainda assim, já há alertas para os bancos. “Os bancos portugueses permanecem expostos à evolução das taxas de juro de referência, na medida em que as suas carteiras de crédito continuam a apresentar um peso significativo de empréstimos concedidos com taxas de juro indexadas [as Euribor] e caracterizados por maturidades longas”, diz o Banco de Portugal.
A entidade liderada por Carlos Costa teme que o cenário de juros historicamente baixos constitua um incentivo para que os bancos assumam mais risco em termos da nova concessão de crédito. “É fundamental que as instituições financeiras avaliem corretamente e de forma prospetiva o risco inerente aos novos fluxos de crédito, principalmente a capacidade de crédito dos mutuários para além do colateral dado em garantia”, isto tendo em conta que “uma eventual subida das taxas de juro de mercado, mesmo que gradual, poderá condicionar a capacidade de serviço da dívida” por parte dos devedores. E o facilitismo da banca pode sair caro.
"Os bancos portugueses permanecem expostos à evolução das taxas de juro de referência, na medida em que as suas carteiras de crédito continuam a apresentar um peso significativo de empréstimos concedidos com taxas de juro indexadas [as Euribor] e caracterizados por maturidades longas.”
Mais crédito, mais barato
O alerta do Banco de Portugal surge num contexto de transição na política monetária, mas também de transição no ritmo de concessão de crédito por parte dos bancos. Depois de anos com a torneira fechada, e numa altura em que o setor necessita de aumentar as receitas para regressar à rentabilidade, os novos empréstimos estão a disparar, especialmente para o consumo e a habitação.
O aumento da concessão de financiamentos para a compra de casa está a ser acompanhado por um conjunto alargado de revisões em baixa dos spreads do crédito à habitação. A maioria dos bancos pratica taxas mínimas em torno de 1,5% — alguns bancos dão 1,25%, sendo que o Banco CTT foi o último a mexer na taxa para 1,3%. Os spreads chegaram, em média, perto da fasquia dos 3% durante o período mais crítico da crise, isto depois de terem sido de praticamente zero nos anos anteriores.
Em abril, os últimos dados disponíveis, foram concedidos 536 milhões de euros em novos empréstimos com essa finalidade, um valor abaixo dos 760 que se tinham verificado em março. De salientar, no entanto, que os valores do novo crédito registados em março tinham sido os mais elevados desde o início da crise, no final de 2010. Apesar disso, e com os juros em mínimos, o saldo do crédito continua em queda. Os dados do BCE mostram que o total dos empréstimos para compra de casa emagreceu 122 milhões de euros para 94,69 mil milhões de euros em maio.
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