Corrida ao Eurogrupo. Os prós e contras dos candidatos
Mário Centeno é o preferido na corrida à presidência do Eurogrupo. Mas há outros três candidatos. No dia da eleição, conheça as vantagens e desvantagens de cada um.
É dia de decisões. Mário Centeno vai ficar a saber se vai conseguir acumular o cargo de ministro das Finanças do Governo de António Costa ao de líder do Eurogrupo. É uma corrida ao lugar até agora ocupado por Jeroen Dijsselbloem. Centeno parte em vantagem, mas não está sozinho. Há mais três candidatos: o ministro das Finanças da Eslováquia, Peter Kazimir, o ministro das Finanças do Luxemburgo, Pierre Gramegna, e a ministra das Finanças da Letónia, Dana Reizniece-Ozola.
Foi em março que as primeiras notícias sobre uma possível candidatura de Mário Centeno à presidência do Eurogrupo surgiram. De lá para cá o ministro das Finanças português tem gerido o dossiê com cuidado — nunca fechou a porta à possibilidade, mas também nunca se assumiu abertamente como candidato. A decisão só foi oficializada no final da semana passada, 30 de novembro, a data limite para a admissão das candidaturas.
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O Governo português confirmou que Centeno candidatou-se para ser o próximo presidente do Eurogrupo, o grupo informal dos ministros das Finanças da Zona Euro. E o ministro português reúne vários apoios. Angela Merkel e Emmanuel Macron reuniram-se com os primeiros-ministros de Portugal e de Itália, para decidirem quem deveria avançar: se Centeno, se o ministro italiano, Pier Carlo Padoan. A escolha recaiu no ministro português, que é o candidato oficial do Partido Socialista Europeu (PSE). Centeno tem “todo o apoio” dos socialistas europeus, disse Serguei Stanishev, presidente do PSE.
Mário Centeno: Um socialista que vem do sul
Mário Centeno é independente, mas ser ministro de um Governo socialista dá-lhe um trunfo no atual momento da política europeia. As três maiores instituições da União Europeia estão neste momento entregues a conservadores. Mas não é o único pró nesta corrida à liderança do Eurogrupo. O facto de vir de um país do sul também pesa. Um dos objetivos da política europeia tem sido manter o equilíbrio entre o norte e o sul da Europa nos cargos de topo.
Para além disso, é um ministro das Finanças que provou que consegue controlar as contas públicas, mantendo o défice abaixo dos 3% num país que acabou de sair de um resgate financeiro — e deverá levar o défice para 1,1% em 2018. Mas com política de devolução de rendimentos e não de austeridade. Se Centeno ficar à frente do Eurogrupo, passará a mensagem de que as regras e a política europeia permitem a todas as economias — mesmo as mais endividadas — corrigirem as suas finanças e progredir, pesando tanto como as restantes.
Apesar de ter alguns trunfos, Centeno também tem características que o podem impedir de chegar ao cargo: ser ministro de país que acabou de sair do resgate, e que ainda está excessivamente endividado, pode pesar na decisão. Ou mesmo o facto de Portugal correr um “risco de desvio” significativo das regras do braço preventivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento por não estar a fazer esforço de ajustamento estrutural, nem estar a conter suficientemente a subida da despesa.
Prós:
- Ministro de um Governo socialista: Mário Centeno é independente, mas ser ministro de um Governo socialista dá-lhe um trunfo no atual momento da política europeia. É que, neste momento, as três maiores instituições da União Europeia estão neste momento entregues a conservadores;
- Vem de um país do sul: o facto de Mário Centeno ser governante de Portugal pode trazer-lhe alguma vantagem. Um dos objetivos da política europeia tem sido manter o equilíbrio entre o norte e o sul da Europa nos cargos de topo;
- Controlo das contas públicas: é um ministro que provou que consegue controlar as contas públicas e manter o défice abaixo dos 3% de um país que acabou de sair de um resgate financeiro. Mas com política de devolução de rendimentos e não de austeridade.
Contras:
- O estigma do resgate: ser ministro de país que acabou de sair do resgate, e que ainda está excessivamente endividado, pode pesar na decisão;
- Dificuldade em cumprir as regras: Portugal saiu do Procedimento por Défice Excessivo, mas isso não quer dizer que seja um país cumpridor. Como a carta que Pierre Moscovici e o vice-presidente Valdis Dombrovskis enviaram a Centeno demonstra, o país corre um “risco de desvio significativo” das regras do braço preventivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento;
- Não se destaca nas reuniões do Eurogrupo: Centeno não é, segundo a Bloomberg, um ministro que tome a iniciativa nos encontros do grupo. Para além disso, a sua carreira de economista num banco central pode passar a imagem de ser uma pessoa sem arcaboiço político necessário para comandar o Eurogrupo.
Peter Kazimir: Socialista que quer ganhar com os desalinhados
Peter Kazimir confirmou a sua candidatura à liderança do Eurogrupo na quinta-feira, quando acabou o prazo para o efeito. Assim como Mário Centeno, o ministro das Finanças da Eslováquia tem a vantagem de ser socialista. Tem ainda outra parecença com o ministro português: vem de um país pequeno.
Mas há mais desvantagens do que vantagens para Kazimir nesta corrida ao Eurogrupo. Para começar, é visto como um desafiador dentro da família socialista. E o PSE deixou bem claro qual é a sua escolha: Mário Centeno. Fonte do PSE disse à Lusa que, em relação à eleição desta segunda-feira para a presidência do Eurogrupo, o ministro das Finanças português terá já “um apoio maioritário” entre os 19 Estados-membros que integram a Zona Euro.
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Além disso, o ministro pode ser socialista, mas, tal como o atual presidente do Eurogrupo, tem uma visão conservadora da gestão das contas públicas. E uma postura rígida com os países que violam as regras orçamentais. Ou seja, se for o escolhido, o ministro esloveno vai seguir a mesma linha de pensamento de Jeroen Dijsselbloem. Para além disso, há quem note que o alinhamento do candidato com as ideias de Berlim pode ser um impedimento à sua vitória.
Prós:
- Ministro socialista: Assim como Mário Centeno, o ministro das Finanças esloveno tem a vantagem de fazer parte de um Governo socialista. Kazimir assume desde 2012 a pasta das Finanças na Eslovénia, integrando o Governo do primeiro-ministro Robert Fico do partido social-democrata SMER-SD;
- Vem de um país pequeno: É mais uma parecença com o ministro português. Peter Kazimir tem estado à frente do Ministério das Finanças de um país com apenas cinco milhões de habitantes. Vir de um país pequeno pode significar que poderá estar numa boa posição de gerir disputas diplomáticas.
Contras:
- PSE apoia Centeno: Há dois socialistas nesta corrida à liderança do Eurogrupo. Entre Kazimir e Centeno, o PSE deixou claro que a sua escolha recai sobre o ministro português;
- Visão conservadora: O ministro esloveno pode ser socialista, mas tem uma visão conservadora da gestão das contas públicas. Para além disso, adota uma postura dura com os países que violam as regras orçamentais;
- Alinhamento com Berlim: O facto de o pensamento do ministro das Finanças da Eslovénia estar alinhado com as ideias de Berlim é visto como um possível travão à sua vitória.
Pierre Gramegna: O liberal do Luxemburgo
Outro dos candidatos à liderança do Eurogrupo é Pierre Gramegna. O ministro das Finanças do Luxemburgo tem a mesma vantagem que Centeno e Kazimir: vem de um país pequeno. O Luxemburgo tem cerca de 500 mil habitantes. Mas a sua candidatura tem pouco mais a acrescentar.
O facto de não pertencer à família socialista vira-se contra o ministro. Mas a principal desvantagem é ser ministro do Luxemburgo. É que Jean-Claude Juncker, um luxemburguês, ocupa a presidência da Comissão Europeia. E é difícil um país tão pequeno vir a ter dois cargos de topo em entidades europeias.
Prós:
- Vem de um país pequeno: Pierre Gramegna tem de competir com Centeno e Kazimir que vêm igualmente de países pequenos. Isto significa que podem estar em melhor posição para gerir disputas diplomáticas.
Contras:
- Ser do Luxemburgo: Jean-Claude Juncker, um luxemburguês, já ocupa a liderança da Comissão Europeia, o que diminuiu a probabilidade de Pierre Gramegna vir a ocupar uma posição numa entidade europeia de relevo;
- É liberal: O facto de não pertencer à família socialista é uma desvantagem para o candidato luxemburguês. As três maiores instituições da União Europeia estão neste momento entregues a conservadores. Por isso, é expectável que se procure um ministro com mais proximidade aos socialistas, para evitar um desequilíbrio excessivo de forças políticas na Zona Euro.
Dana Reizniece-Ozola: Uma jogadora de xadrez numa corrida
A ministra das Finanças da Letónia, campeã internacional de xadrez, tem 36 anos e é a candidata mais jovem ao cargo ocupado por Jeroen Dijsselbloem. Se vencer, será a primeira vez que um país báltico ocupa um cargo europeu desta relevância. Mas é pouco provável que isto venha a acontecer, uma vez que há quem diga que o país apenas avançou com a sua candidatura para garantir uma quota mínima feminina nesta corrida à liderança do Eurogrupo.
Dana Reizniece-Ozola foi militante do partido For Latvia and Ventspils até 2014 e agora pertence à coligação centrista União dos Verdes e Agricultores, o que é, ao mesmo tempo, uma vantagem e desvantagem. A ministra letã não é conservadora, por isso não é penalizada pelo PSE, mas também não tem o apoio da família socialista. Para além disso, mostrou-se contra a adesão da Letónia à moeda única — sinalizando o seu euroceticismo.
Prós:
- Ser mulher: Numa altura em que a o tema da igualdade de género e de quotas em cargos de topo está na agenda, e havendo um número reduzido de mulheres na liderança de entidades europeias, esta pode ser uma vantagem;
- Economia forte: A Letónia tem uma economia a crescer acima de 4%, um nível baixo de dívida pública e um défice em torno de 1%, o que pode ser uma vantagem. Sobretudo quando se compara com o cenário económico português.
Contras:
- Contra a adesão ao euro: A ministra das Finanças da Letónia mostrou-se contra a adesão do país à moeda única em 2014;
- Não tem o apoio do PSE: Por pertencer aos Verdes, não tem o apoio da família socialista.
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