APB diz que estrangeiros estão à caça de crédito em Portugal
O aumento do crédito à habitação em Portugal deve-se, em grande medida, à procura de empréstimos por parte dos estrangeiros, diz Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos.
O crédito às famílias está em máximos da década, com mais de 13 mil milhões de euros disponibilizados pela banca nos primeiros 11 meses do ano passado. Contudo, esse nível de concessão não preocupa Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que identifica na habitação e nos estrangeiros grande parte da responsabilidade por esse crescimento.
Os empréstimos para a compra de casa estão em máximos de 2010, tendo representado cerca de 60% do total do crédito disponibilizado às famílias nos primeiros 11 meses do ano passado. No total foram mais de 7,4 mil milhões de euros que os bancos concederam em crédito com esse fim naquele período, 29% acima do registado no ano anterior.
“É preciso entender por que é que o crédito à habitação tem vindo a ter um aumento significativo”, começa por dizer Fernando Faria de oliveira, em entrevista ao ECO, para logo de seguida atribuir ao crédito concedido a não residentes em Portugal a responsabilidade por essa evolução. “Em grande parte, esse crédito à habitação é concedido a estrangeiros“, especifica o presidente da associação que representa os bancos portugueses, numa conversa em antecipação ao Banking Summit, promovido pela APB e SIBS, onde será debatida a revolução digital do setor.
É preciso entender por que é que o crédito à habitação tem vindo a ter algum aumento significativo. Em grande parte esse crédito à habitação é concedido a estrangeiros.
Associar os estrangeiros à aceleração da concessão de crédito à habitação poderá surpreender à partida, já que o mais imediato seria atribuir esse crescimento à procura de crédito por parte dos portugueses. Mas tal, não parece ser assim. “Não há dúvida de que o mercado de aquisição de habitação, designadamente nos grandes centros Lisboa, Porto e Algarve, passou a ser extremamente apetecido por parte de não residentes do nosso país”, diz Faria de Oliveira.
De facto, cada vez mais estrangeiros procuram Portugal não só como turistas, mas também para comprar casa. Há quem venha tentado pelos vistos gold que lhes dão livre trânsito para entrar na Europa. Outros decidem investir no imobiliário português ou escolhem vir viver para Portugal após a reforma.
De acordo com a APEMIP, no ano passado foram vendidas 152 mil casas em Portugal. Desse total, cerca de 25% foram parar às mãos de estrangeiros, revelou recentemente Luís Lima, presidente da APEMIP, ao Diário de Notícias (acesso pago). Segundo o representante das imobiliárias, os maiores compradores foram cidadãos brasileiros e franceses.
Nível do crédito não preocupa
É perante este contexto que Faria de Oliveira diz não haver razões de preocupação em relação ao rumo da concessão de crédito, suportando-o ainda no rigor, na sua avaliação, com que os bancos estão a disponibilizar esses empréstimos. “Hoje em dia são aplicados pelos bancos rigorosos critérios de avaliação da capacidade do seu cliente satisfazer os compromissos que assume quando contrata um crédito à habitação. Nesta matéria, estou seguro que as instituições bancárias nacionais estão a seguir práticas rigorosas de avaliação desse risco”, salienta o representante dos bancos, antecipando “uma era de rigor” neste âmbito.
Hoje em dia são aplicados pelos bancos rigorosos critérios de avaliação da capacidade do seu cliente satisfazer os compromissos que assume quando contrata um crédito à habitação. Nesta matéria, estou seguro que as instituições bancárias nacionais estão a seguir práticas rigorosas de avaliação desse risco.
Essa expectativa vem ser agora reforçada, depois o Banco de Portugal ter decidido recomendar aos bancos a limitação de alguns critérios tidos em conta na atribuição de crédito às famílias, visando prevenir algum facilitismo que possa surgir no futuro. Especificamente, decidiu recomendar a criação de limites para o rácio entre o montante do financiamento face ao valor do imóvel que serve de garantia (LTV), o estabelecimento de um teto máximo para o rácio entre os encargos com créditos e o rendimento familiar, bem como uma limitação à maturidade dos empréstimos.
Este tipo de medidas, tendencialmente mais restritivas, poderão levar algumas famílias a recuar na decisão de recorrer ao crédito, ajudando a travar o aumento da concessão. Uma má notícia para os bancos. “O sistema bancário português está preparado para fornecer o crédito necessário à economia“, contextualiza Fernando Faria de Oliveira. “Queixamo-nos é de procura insuficiente“, remata.
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