Fernando Negrão. O perfil do homem que quer ter “sessões de trabalho” com António Costa
Fernando Negrão foi eleito líder parlamentar do PSD. É deputado há 16 anos. Já passou por governos, mas por pouco tempo. Agora será a cara da oposição de Rui Rio no Parlamento.
Entre 2014 e 2015 foram vários os deputados que se destacaram na comissão de inquérito à gestão do BES e do GES. Um desses deputados foi o presidente da própria comissão, Fernando Negrão, que foi elogiado por outros partidos. Segundo um artigo do Público (acesso condicionado), Mariana Mortágua elogiou a sua “inteligência discreta” e Pedro Nuno Santos, atual secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, destacou o seu papel “determinante”. A par de Mortágua, Negrão insurgiu-se contra a “falta de memória” do ex-presidente executivo da PT, Zeinal Bava, por exemplo. No final da comissão, foi claro: “Valeu a pena”.
O agora líder parlamentar, Fernando Mimoso Negrão, tem 62 anos — é mais velho do que Rio, que tem 60 anos. Na vida política já esteve perto de cargos de topo, mas ficou por três vezes pelo caminho: foi ministro da Segurança Social, da Família e da Criança no Governo de Pedro Santana Lopes que poucos meses durou, foi ministro da Justiça no segundo Executivo de Passos Coelho, que durou ainda menos, e perdeu a votação para ser o presidente da Assembleia da República para Ferro Rodrigues. Além disso, perdeu a corrida à Câmara de Lisboa, em 2007, e à de Setúbal, em 2005.
Desde 2002 que é deputado, sendo que nas últimas duas legislaturas eleito pelo círculo de Braga. Atualmente, está em duas comissões parlamentares: a dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantia e a comissão eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas. Em ambas estão paradas matérias à espera de Rui Rio: na primeira, a questão polémica das alterações ao financiamento partidário e na segunda, as novas regras para apertar a transparência dos cargos públicos.
Durante as eleições internas foi apoiante de Pedro Santana Lopes. Com a vitória de Rio e a saída de Hugo Soares, depois de muita especulação, anunciou que se iria candidatar à liderança parlamentar. Não sem antes falar com o novo líder, como o próprio explicou numa conferência de imprensa. “A ideia é criar uma direção no grupo parlamentar que seja coesa e determinada no seu trabalho político“, defendeu. Mas o que se pode esperar de Negrão, uma figura que até é bem vista pelos colegas apesar do resultado da votação, enquanto líder parlamentar?
Tenciono ter sessões de trabalho com António Costa nos debates quinzenais.
O próprio explicou. Fernando Negrão disse, em declarações à RTP, que não quer fazer dos debates quinzenais uma “guerra” com o primeiro-ministro. “Tenciono ter sessões de trabalho com António Costa nos debates quinzenais”, afirmou, horas antes de saber o resultado das eleições. É esse o seu estilo, disse, afastando a ideia de que vai procurar frases “que tenham efeito mediático”.
Contudo, coloca-se uma questão de legitimidade política dado que o seu resultado foi o pior dos últimos anos, ideia recusada por Fernando Negrão esta quinta-feira na conferência de imprensa onde anunciou que iria assumir o cargo. Leu os resultados à sua maneira, transformando os votos brancos em “benefício da dúvida” e deixou uma garantia: “Não tenho a maioria da bancada contra mim“.
Não tenho a maioria da bancada contra mim. Essa conclusão é errada.
Ainda assim, os problemas não devem acabar por aqui. O próprio afirmou que há “problemas éticos” na bancada, uma vez que deputados que estavam na sua lista terão votado em branco. “É perfeitamente condenável essa atitude”, comentou. Apesar de garantir que não vai alterar a composição da lista, a relação entre Negrão e os seus colegas já viu dias melhores. Mas continua a ter o apoio de Rui Rio.
Ao seu lado vai ter seis vice-presidentes, cortando para quase metade a direção parlamentar: a Adão Silva e António Leitão Amaro — que transitam da anterior liderança parlamentar de Hugo Soares — juntam-se Emídio Guerreiro, Carlos Peixoto, Rubina Berardo e António Costa Silva. A seu lado terá ainda os secretários da direção Bruno Coimbra, Manuela Tender e Clara Marques Mendes. A nova equipa conta ainda com 12 coordenadores e 14 vice-coordenadores para as várias comissões.
Uma viagem ao passado mostra que Negrão esteve durante muito tempo longe da política. É licenciado em Direito. “Muitas vezes a solução que acho mais adequada não é propriamente a do partido a que pertenço, nem é propriamente a do cliente”, chegou a confessar numa entrevista à Frontline em 2014. Também por causa do seu background criticou a forma como se fazem leis. “Fazemos demasiadas leis em Portugal, porque somos muito reativos“, disse.
Foi diretor-geral da Polícia Judiciária, magistrado judicial, oficial da Força Aérea Portuguesa, juiz e vogal do Conselho Superior da Magistratura. Em 2000, quando liderava a PJ, Negrão foi acusado pela Procuradoria Geral da República de violar o segredo de Justiça — tema sensível para Rui Rio — com uma jornalista do Diário de Notícias no caso da Universidade Moderna — uma situação que levou à sua demissão. O caso viria depois a ser arquivado, segundo noticiou o Público.
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