“Pronto, a decisão está tomada”. A opinião de Sócrates em 6 pontos
Ex-primeiro-ministro escreve um artigo no Jornal de Notícias. Diz ser amigo de Manuel Pinho, aponta o dedo à direção do PS e diz "ter chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo".
Num artigo de opinião, José Sócrates afirma que é amigo de Manuel Pinho, que considera “um homem honesto” e “incapaz” de “receber um vencimento privado enquanto exercia funções públicas”. E diz ser “mentira” a ideia de que foi Ricardo Salgado quem lhe sugeriu o nome de Pinho para o Governo.
O texto publicado no Jornal de Notícias, com data de 3 de maio, acrescenta ainda uma nota final, em que o ex-primeiro-ministro fala em “injustiça” por parte da direção do PS, que “ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”. Chegou “o momento de pôr fim a este embaraço mútuo”, conclui Sócrates, dizendo que endereçou uma carta ao PS a pedir a desfiliação do partido. Veja os pontos mais importantes do artigo do antigo governante.
“[…] Sou amigo de Manuel Pinho”
“Começo pelo princípio: sou amigo de Manuel Pinho, pessoa que considero e estimo”. É assim que começa o artigo escrito por José Sócrates e publicado esta sexta-feira no Jornal de Notícias, intitulado “A clarificação devida”.
“[…] é quem acusa que tem o dever de provar o que diz”
Logo de seguida, José Sócrates estabelece um segundo ponto. “Segundo: tenho ouvido o que se diz sobre a sua relação com o Banco Espírito Santo durante o período em que foi ministro do meu Governo e sobre isso tenho a dizer que a minha primeira exigência é que o Ministério Público prove o que diz”, escreve.
O ex-primeiro-ministro diz que não pactua com a “operação em curso de inverter o ónus da prova como, de forma geral, os jornalistas e os ativistas disfarçados de comentadores têm feito” e salienta que “o primeiro dever de um Estado decente é provar as gravíssimas alegações que faz seja contra quem for, ainda que estas tenham sido, como habitualmente, feitas através da Comunicação Social”. O antigo governante frisa então que “é quem acusa que tem o dever de provar o que diz”.
“[…] tenho Manuel Pinho por um homem honesto”
José Sócrates indica, “em terceiro lugar” que tem “Manuel Pinho por um homem honesto e incapaz de uma coisa dessas, tal como é descrita – receber um vencimento privado enquanto exercia funções públicas”. E por isso recusa-se “sequer a discutir hipóteses” que considera “inadmissíveis, sem que o Estado, que o afirma, prove o que está a dizer”.
Adianta que partilha o desejo dos colegas de Governo “de que Manuel Pinho negue imediatamente as alegações”, mas diz não sobrepor o desejo “de esclarecimento imediato ao seu direito de se defender de tão graves imputações quando achar que o deve fazer”. “Por mais que isto custe a quem é seu amigo e foi seu colega, é isto que a decência impõe”, remata.
“Esta mentira tem sido há muito tempo disseminada pelo Ministério Público”
Num “último ponto” para se “defender da ignóbil intrujice que acompanha a notícia”, Sócrates fala na “ideia de que o nome de Manuel Pinho para fazer parte do Governo” lhe “terá sido sugerido pelo dr. Ricardo Salgado”. “Esta mentira tem sido há muito tempo disseminada pelo Ministério Público e convenientemente divulgada por jornalistas, que nenhum esforço fazem para verificar a sua veracidade”, frisa.
O antigo governante afirma que a primeira vez que se encontrou com Ricardo Salgado desde que foi eleito líder do PS “foi no dia 13 outubro de 2006, conforme registado na secretaria da Residência Oficial do Primeiro-Ministro” e garante que nunca fez “parte do seu grupo de amigos nem dos seus círculos sociais”. “A história da proximidade com o dr. Ricardo Salgado é, portanto, falsa e disparatada”, assinala.
Pinho era “conselheiro económico do então líder Ferro Rodrigues”
José Sócrates aponta ainda para a escolha de Manuel Pinho. “Depois, há mais: a escolha que fiz de Manuel Pinho como porta-voz do PS para a área da economia, e mais tarde para o Governo, aconteceu naturalmente na decorrência da colaboração que este há muito prestava, na condição de independente, ao PS, como conselheiro económico do então líder Ferro Rodrigues“.
Foi como “membro do chamado grupo económico da Lapa (por reunir regularmente no Hotel da Lapa)” que Sócrates conheceu Pinho, diz o artigo, e muitas “pessoas dentro e fora do PS conhecem esta história”.
“Durante quatro anos suportei todos os abusos”
O texto acrescenta uma nota final, com José Sócrates a indicar que, já depois de escrever o artigo, ouviu Carlos César, presidente do PS.
“Durante quatro anos defendi-me das acusações falsas e absurdas que me foram feitas”, avança então Sócrates. “Durante quatro anos suportei todos os abusos: a encenação televisiva da detenção para interrogatório; a prisão para investigar; os prazos de inquérito violados sucessivamente como se estes não representassem um direito subjetivo que não está à disposição do Estado; a campanha de difamação urdida pelas próprias autoridades com sistemáticas violações do segredo de justiça; o juiz expondo na televisão a sua parcialidade com alusões velhacas; a divulgação na televisão de interrogatórios judiciais com a cumplicidade dos responsáveis do inquérito”, acrescenta.
E aponta, depois, para uma “espécie de condenação sem julgamento”. “Na verdade, durante estes quatro anos não ouvi por parte da Direção do PS uma palavra de condenação destes abusos, mas sou agora forçado a ouvir o que não posso deixar de interpretar como uma espécie de condenação sem julgamento”, nota José Sócrates.
O ex-primeiro-ministro frisa que desde sempre encontrou “um apoio e um companheirismo” nos militantes do PS. “Mas a injustiça que agora a Direção do PS comete comigo, juntando-se à Direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”. E por isso Sócrates deixa o Partido Socialista.
“Considero, por isso, ter chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo. Enderecei hoje uma carta ao Partido Socialista pedindo a minha desfiliação do Partido. Pronto, a decisão está tomada. Bem vistas as coisas, este post scriptum é congruente com o que acima escrevi”, conclui.
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