Os manuais de economia podem ajudar Portugal a ganhar? Goldman Sachs tem dúvidas
Ronaldo é a estrela da companhia mas a seleção não pode contar apenas com o seu melhor ativo para fazer boa figura na Rússia. O segredo do sucesso está no espírito da equipa, defende a Goldman Sachs.
Cristiano Ronaldo é o mais valioso ativo da seleção nacional, mas Fernando Santos deve saber que uma andorinha não faz a primavera. É que, se os manuais de economia ensinam que um país deve produzir aquilo onde tem mais vantagem comparando com outros, no futebol é mais difícil que esta máxima sirva de regra de ouro. E a vitória de Portugal no Euro de 2016 mostra isso mesmo.
“O sucesso de Portugal em 2016 envolveu a compensação que a equipa teve de fazer pela ausência de Ronaldo que saiu da partida mais cedo, ainda na primeira metade do jogo, sendo forçada a jogar sem a sua estrela”, conta a Goldman Sachs no relatório “The World Cup and Economics”, onde relaciona teorias económicas com futebol.
O banco de investimento cita um jornal para resumir o sentimento vivido no verão de há dois anos: “A equipa de um só homem sagrou-se campeã europeia, ao derrotar a equipa anfitriã sem o homem sem o qual não poderiam aparentemente ganhar.” “Esta experiência sugere que o sucesso no futebol assenta mais na ideia de jogar em equipa do que na especialização de uma parte do campo.”
O Goldman Sachs acredita que se Portugal for bem-sucedido no campeonato mundial de 2018 será porque, “como em qualquer outra equipa, conseguiu trabalhar em conjunto, em vez de alavancar o desempenho no seu melhor ativo”.
É por isso que o banco de investimento elabora sobre o facto de uma das regras mais conhecidas dos manuais de economia não ter aplicação direta ao futebol. O Goldman recorda que, na teoria das vantagens comparativas que David Ricardo expôs, em 1817, na obra “Princípios da economia política e tributação”, o economista britânico defendeu que as economias constroem o sucesso à volta de um número pequeno de atividades.
"Uma equipa fica mais vulnerável a choques se confiar a alavancagem no jogador-estrela.”
E pegando nos exemplos de Portugal e Inglaterra — parceiros comerciais de longa data — defendeu que a economia lusa se especializasse na produção de vinho, apesar de conseguir produzir também vestuário de uma forma mais barata do que a Inglaterra. Era o vinho onde Portugal conseguia uma vantagem comparativa superior.
“Todas as economias têm uma vantagem comparativa em alguma coisa”, diz o Goldman, mas “as explicações padrão para a especialização das economias sugerem que fazer igual no futebol é difícil”.
No entanto, o Goldman lembra algumas lições mais recentes da economia portuguesa para avançar explicações para dentro de campo. “Uma equipa fica mais vulnerável a choques se confiar a alavancagem no jogador-estrela”, diz o Goldman, lembrando que uma economia tem mais capacidade de adaptação a eventos inesperados.
"Todas as economias têm uma vantagem comparativa em alguma coisas, mas as explicações padrão para a especialização das economias sugerem que fazer igual no futebol é difícil.”
O banco de investimento argumenta que perante um choque os recursos de uma economia podem ser desviados — uma lição que Portugal aprendeu no período da troika, diz o Goldman –, mas no futebol um choque pode provocar um dano que “afeta todos os jogadores e equipa”.
Ou seja, convém não pôr todos os ovos no mesmo cesto. E o segredo parece estar no espírito de equipa. Ou não fosse Portugal o país que se encheu de bandeiras nas janelas e varandas para puxar pela seleção das quinas no Euro 2004, quando Luís Felipe Scolari treinava a seleção. Na altura Portugal derrotou seleções como Inglaterra e Espanha, terminando a competição no segundo lugar depois de perder com a Grécia.
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