Imigração deixa coligação de Merkel à beira do abismo
O cerco a Merkel está bem apertado. O partido irmão da CDU quer fechar as fronteiras aos refugiados, e já deu um prazo de duas semanas para a chanceler resolva o problema.
Angela Merkel esteve seis meses em negociações à esquerda e à direita para conseguir formar Governo. Contou logo à partida com o braço bávaro do seu partido, a União Social Cristã (CSU), mas batalhou até conseguir os 399 lugares necessários para ter a maioria absoluta. Só em março entrou a bordo o Partido Democrata Alemão (SPD).
No entanto, entre braços de ferro, demissões e cedências, o perigo de Merkel surgiu dentro da sua própria casa. Com a pasta do Interior a ser entregue a um membro da CSU, Horst Seehofer, parece que os planos deste em relação à imigração não estão alinhados com os da CDU. E se não se alinharem, um Governo de coligação entre a CDU e o SPD não serão suficientes para manter a maioria absoluta.
Seehofer vê como única solução para os refugiados que chegam diariamente ao território alemão o fechar das portas de entrada, mesmo que estes tenham já permissão para se estabelecerem noutros países da União Europeia. Ou seja, sob este novo plano, todos os refugiados que cheguem às fronteiras alemãs devem voltar para trás.
Já os sociais cristãos do partido de Merkel defendem a total integração dos que fogem do sul de África e do Médio Oriente, mas com a ajuda dos países vizinhos. “Este é um desafio europeu que também precisa de uma solução europeia”, apontou a chanceler há alguns dias. Mas o Governo alemão poderá mesmo cair se não se chegar a um acordo? Depende da flexibilidade de Merkel.
Ministro tem autoridade para enviar refugiados para trás
A CDU está presente em todas as regiões da Alemanha, menos na Baviera. É aí que o seu partido irmão, a CSU, cumpre as funções sociais cristãs. É também nessa zona que os princípios de extrema-direita defendidos pelo AfD estão a germinar, com o partido a esperar que floresçam a tempo das eleições regionais de outubro.
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Com receio de perder o lugar na linha da frente, a CSU e o seu líder, Horst Seehofer, têm sido obrigados a adotar posições mais radicais. Mesmo que isto ponha em causa uma relação fraterna de sete décadas. E até o lugar na chancelaria.
“Se o CSU não concorda com nenhuma cedência nas políticas migratórias, o Governo atual pode cair muito brevemente”, apontou à Bloomberg Holger Schmieding, analista do Berenberg. Contudo, a posição do ministro do Interior permite-lhe ser aquele que dita as cedências e não o que as aceita.
A verdade é que Seehofer tem a autoridade e o poder suficientes para fazer cumprir este fecho de fronteiras. E a única forma que Merkel teria para o travar seria através da sua demissão. O ministro deu então duas semanas de margem à chanceler para que esta possa falar com os seus parceiros europeus e negociar uma potencial divisão de responsabilidades. Merkel aceitou.
“A solução tem de ser europeia”
A luta de Merkel e Seehofer em relação à constante vaga de refugiados não é nova. Já em 2015 e 2016 os dois governantes tinham estado de costas voltadas em relação a este assunto. Esta foi resolvida em parceria com um país vizinho que precisava de algo que a Alemanha tinha. Dinheiro.
Em 2016, a Turquia aceitou manter no seu território milhares de requerentes de asilo a troco de ajuda financeira europeia. Já em 2018, Merkel está em conversações com países como a Itália — que já recebeu mais de 15 mil refugiados este ano — e a Grécia — que albergou 12 mil — para tentar resolver o problema.
O prazo de duas semanas coincide também com a cimeira europeia de 28 e 29 de junho, altura em que Merkel terá de ter o seu plano ensaiado na perfeição. Isto se não quiser perder a maioria no Bundestag.
E se nada resultar?
Com o relógio a contar, há já vários sinais que apontam para que a solução não seja assim tão fácil desta vez. Esta nova Itália, liderada por Giuseppe Conte, já afirmou que não está disponível para receber mais ninguém. Na sua primeira declaração ao Senado, o primeiro-ministro afirmou que o seu país “exigir com firmeza” para que seja assegurado o “respeito efetivo de uma repartição equitativa das responsabilidades e para criar sistemas automáticos de repartição obrigatória dos candidatos a asilo.”
Não havendo acordo na União Europeia, Seehofer poderá prosseguir com o plano, o que se traduz na demissão de alguém: ou do presidente ou da chanceler. Aí dar-se-á a quebra de laços que junta os dois partidos, deixando ambos mais fracos e suscetíveis a ataques da oposição de extrema-direita.
(Notícia atualizada às 15h13 com a informação de que Merkel aceitou o prazo dado.)
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