Um a um, os bancos estão a vender os edifícios na baixa lisboeta. E a ganhar milhões
Novo Banco, CGD, BPI e BCP. Os bancos portugueses venderam, ou estão prestes a fazê-lo, edifícios emblemáticos na Baixa de Lisboa, aproveitando a subida dos preços para encaixar milhões de euros.
Lembra-se do Monopólio? Quem jogava queria sempre conseguir pôr casas nas ruas mais caras, nomeadamente na Avenida da Liberdade, no Rossio, mas também na Rua do Ouro. E este jogo refletia exatamente o que acontecia na Baixa de Lisboa, onde todos queriam estar. Mas esta tendência inverteu-se para alguns: os bancos estão de saída da baixa pombalina. Aproveitando a escalada dos preços no imobiliário, patrocinada pelo turismo, as instituições financeiras estão a “fazer as malas” com milhões de euros que darão um forte contributo para o regresso à rentabilidade.
O primeiro a vender um edifício emblemático na Baixa de Lisboa foi o Novo Banco, que depois de ter alienado um imóvel no Marquês de Pombal colocou agora no mercado a histórica sede do BES na Avenida da Liberdade por 100 milhões de euros. Mas a grande maioria dos bancos — onde se inclui a Caixa Geral de Depósitos (CGD), BPI e, agora, BCP — só agora é que começou a vender os imóveis nesta zona prestigiada da capital. As instituições financeiras estão a alienar ativos que não são considerados estratégicos.
“Os bancos estão a fazer movimentos de concentração em menos edifícios, racionalizando a forma como ocupam o espaço de trabalho”, afirma o diretor geral da CBRE ao ECO. Para Francisco Horta e Costa, as instituições financeiras “estão a focar-se na sua atividade que é captar depósitos e conceder empréstimos. Deter imóveis não faz parte da atividade das instituições financeiras”.
"Os bancos estão a tirar partido das oportunidades, da procura e dinâmica de investimento que o mercado nacional regista atualmente que se tem assumido como um dos mercados europeus mais atrativos.”
Entre as instituições financeiras com ativos à venda na baixa pombalina, o BPI foi o mais recente a vender um edifício na Rua do Ouro. Este imóvel ocupa um quarteirão inteiro e é delimitado pelas ruas mais históricas da cidade. O emblemático imóvel foi vendido por mais de 66 milhões de euros a um fundo internacional, num processo que foi, segundo a consultora JLL, “muito disputado”.
Antes, e tal como o ECO avançou, foi a vez de o BCP vender um edifício na mesma rua. Com cerca de 8.850 metros quadrados distribuídos por seis pisos, esta operação está avaliada entre 40 e 50 milhões de euros. Isto de acordo com o preço médio do metro quadrado na Baixa de Lisboa.
E não há duas sem três. Além do BPI e do BCP, também a CGD tem à venda um imóvel… na Rua do Ouro. Foi neste quarteirão com 13.810 metros quadrados que se situou a principal agência do banco público, num tempo em que a Baixa ainda era o centro financeiro de Lisboa. Agora, aqui apenas se mantêm o Santander Totta, o Montepio, além do Banco de Portugal, que se mudou da Almirante Reis.
“Os bancos estão a tirar partido das oportunidades, da procura e dinâmica de investimento que o mercado nacional regista atualmente que se tem assumido como um dos mercados europeus mais atrativos”, refere a consultora Worx ao ECO. “Por força das auditorias e demonstrações de resultados a que estão obrigados, as entidades bancárias necessitam de rentabilizar os seus portefólios, o que muitas vezes implica ter de vender esses ativos”, acrescenta.
Para o diretor geral da CBRE, “o momento atual do mercado é favorável à venda destes ativos por bons preços”, tendo em conta a forte subida do preço do metro quadrado nos últimos tempos. “Foi uma boa coincidência para os bancos, já que teriam sempre que vender estes ativos para se concentrarem no seu core business“, acrescenta Francisco Horta e Costa.
“O aumento do número de turistas fez aumentar as taxas de ocupação e os preços médios dos hotéis, bem como aumentou o volume de vendas nas lojas. Além disso, há muita procura de apartamentos em zonas históricas e isso fez aumentar o interesse em prédios nestas zonas, como é a Baixa de Lisboa, que há uns anos a esta parte estava deserta”, remata.
Este aumento do turismo está a permitir aos bancos encaixarem centenas de milhões de euros com imóveis históricos. “O boom do turismo veio dar a conhecer ao mundo a marca Portugal e com isso o mercado residencial e, mais particularmente, a reabilitação urbana ganhou ainda mais terreno“, nota a equipa da Worx. “O investimento estrangeiro no pais em ativos residenciais tem constituído uma importante e significativa fatia do investimento global, destinado posteriormente ao desenvolvimento de unidades residenciais turísticas ou imóveis residenciais para rendimento”, acrescenta.
O edifício vendido pelo banco liderado por António Ramalho no Terreiro do Paço está, segundo o Expresso, a ser transformado em 28 apartamentos de tipologias T0 e T2, devendo ficar terminado em 2019. Mas a maioria está a ser adquirida para unidades residenciais turísticas, ou seja, para posteriormente serem convertidos em hotéis.
"O momento atual do mercado é favorável à venda destes ativos por bons preços. Foi uma boa coincidência para os bancos, já que teriam sempre que vender estes ativos para se concentrarem no seu core business.”
O melhor exemplo desta realidade é o facto de o BCP ter vendido o seu edifício a uma cadeia de hotéis. Foi o Sana Hotels que comprou o imóvel da instituição financeira, para abrir o quarto hotel na capital. Depois do Epic Sana Lisboa Hotel, perto do Marquês de Pombal, do Evolution Lisboa Hotel, no Saldanha, e do Sana Lisboa Hotel, no Parque Eduardo VII, o Sana chega agora à zona mais prestigiada de Lisboa para responder a uma procura cada vez maior por parte dos turistas. E esta cadeia não é a única a reforçar a presença: há 100 novos hotéis em construção por todo o país.
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