Sport TV: “A Nowo não pode querer usufruir de um serviço que não paga”
A Sport TV impôs um aumento do preço de acesso à Nowo na ordem dos 15%, mas fê-lo porque os conteúdos desportivos estão mais caros, garante a empresa ao ECO.
O contrato que a Sport TV impôs à Nowo, e que era 15% mais caro do que o anterior, é justificado pela estação desportiva com “a subida de custo dos conteúdos desportivos”, disse ao ECO fonte oficial da empresa liderada por Nuno Ferreira Pires. A Nowo não aceitou esta nova condição e a falta de acordo, bem como a “elevada dívida” que terá contraído junto da empresa, levaram ao desfecho conhecido no final desta semana: a Sport TV cortou o sinal à operadora.
A Nowo denunciou esta sexta-feira que a Sport TV optou por sair da sua grelha de televisão, depois de a estação ter proposto novas condições no último dia de vigência do contrato que a telecom portuguesa não quis aceitar. Entre elas estava um aumento do custo de acesso na ordem dos 15% (trata-se do preço que as operadoras pagam aos canais de televisão para os poderem distribuir nas suas plataformas). O corte da Sport TV foi visto pela Nowo como “uma decisão sem precedentes no mercado português” e a empresa chegou a admitir avançar para tribunal.
No entanto, em reação ao comunicado da Nowo, a Sport TV deu um novo contexto: acusou a Nowo de lhe dever muito dinheiro — concretamente, segundo o Público, cerca de quatro milhões de euros. Ainda assim, o ECO colocou algumas questões à Sport TV acerca de algumas das alegações da Nowo, perguntas essas que mereceram resposta da estação televisiva.
Acerca da acusação da Nowo de que a Sport TV propôs as novas condições só na véspera do último dia de vigência do contrato, a empresa garante que essa afirmação “é falsa”. “A proposta da Sport TV, como em qualquer processo negocial, foi evoluindo, desde fevereiro até julho, mais precisamente no sentido de tentar acomodar todas as sugestões que nos foram sendo efetuadas”, diz fonte oficial.
Quanto à subida do custo de acesso em 15%, a Sport TV é perentória e justifica o aumento do preço com “a subida de custo dos conteúdos desportivos”. “É uma realidade conhecida por todo o mercado e a Nowo está em posse dessa mesma informação”. Em contrapartida, a Nowo tinha considerado essas condições “desleais, desadequadas e desajustadas face à realidade do mercado”.
A Sport TV vai mais longe e diz que, “no que aos conteúdos de futebol nacional diz respeito, e que é o core business da Sport TV, nomeadamente nos novos contratos efetuados com os maiores clubes portugueses, verificou-se uma subida muito acentuada nesta época desportiva. Trata-se, de resto, de uma informação que foi amplamente noticiada desde 2016 e cujo impacto se inicia agora na época desportiva de 2018/2019″, refere fonte oficial da empresa.
“A Nowo não pode querer usufruir de um serviço que não paga. E cobrar esse serviço aos clientes”
Este caso pode ser visto à luz do atual contexto do mercado: a Eleven Sports entrou este ano em Portugal e arrebatou os direitos de transmissão da Liga dos Campeões à Sport TV, tendo firmado com a Nowo um contrato para a distribuição destes novos canais na sua grelha. O novo player do mercado dos conteúdos desportivos premium atribuiu também à Nowo a responsabilidade de negociar a distribuição destes canais nas plataformas de televisão das operadoras concorrentes: a Meo, a Nos e a Vodafone, que são acionistas da Sport TV.
Esta situação tem vindo a polarizar os setores de media e telecomunicações: de um lado, as três principais operadoras, aliadas à Sport TV; do outro, a Nowo, aliada à Eleven Sports. As várias partes têm tentado negociar tréguas, que se traduziriam no acesso das outras operadora à Eleven Sports, mas não só não foi fechado qualquer acordo como, a partir de agora, a Nowo fica sem acesso à Sport TV.
Questionada sobre se o corte do serviço da Sport TV à Nowo está, de alguma forma, relacionado com as negociações para a inclusão dos canais da concorrente Eleven Sports nas grelhas dos acionistas da Sport TV (Meo, Nos e Vodafone), fonte oficial da empresa aponta para uma “situação insustentável” e endurece o discurso: “A Nowo não pode querer usufruir de um serviço que não paga, com a agravante de estar a cobrar esse mesmo serviço aos clientes”, indica.
A Nowo não pode querer usufruir de um serviço que não paga, com a agravante de estar a cobrar esse mesmo serviço aos clientes.
Mas a dívida da Nowo também não pode ser esquecida. A Sport TV alega que, já em julho de 2018, a Nowo tinha para com a estação uma “elevada dívida vencida” que “continua por liquidar”. Como a Sport TV terá aceitado continuar a prestar o serviço desde julho até esta sexta-feira passada, há ainda um valor a pagar por este serviço. Tudo somado, rondará os quatro milhões de euros, de acordo com o Público. O ECO contactou a Nowo depois das acusações de dívida por parte da Sport TV, mas fonte oficial da empresa disse que não vai, para já, fazer quaisquer comentários.
Contudo, esta não é a única dívida mediática da Nowo. Em meados de setembro, o ECO avançou que a Altice Portugal, dona da Meo, instaurou um pedido de insolvência contra a Oni/Nowo, as duas do mesmo grupo, alegando incumprimento por parte da operadora liderada por Miguel Venâncio. Só esta semana que passou é que houve um entendimento: o grupo Nowo pagou mais de metade da dívida à dona da Meo e desenhou um plano de pagamentos, enquanto a Altice Portugal aceitou retirar o pedido de insolvência contra o grupo concorrente. Em causa, apurou o ECO, estará uma dívida que era de cerca de oito milhões de euros.
Contratos milionários com clubes inflacionaram preço dos conteúdos no mercado
A subida do preço grossista da Sport TV — aquele que é pago pelas operadoras pelo acesso aos conteúdos — também tem de ser vista à luz do que aconteceu no verão quente de 2016, em que as principais operadoras de telecomunicações decidiram assinar um acordo de partilha de direitos televisivos depois de a Meo e a Nos terem gastado centenas de milhões em contratos de exclusividade com os principais clubes nacionais: Benfica, Porto, Sporting e até Sporting Clube de Braga.
Na verdade, a história começa um pouco antes, em dezembro de 2015, quando a Nos adquiriu os direitos de transmissão televisiva dos jogos do Benfica na Luz, um contrato válido por três anos e com possibilidade de se estender por mais sete. O valor pago foi de 400 milhões de euros. Dias depois, a Meo chegava-se à frente, assinando um vínculo com o FC Porto para transmissão exclusiva dos jogos a partir de 2018 e por um período de dez épocas, por 457,5 milhões de euros. Já perto do final do ano, a Nos voltou à ribalta, assinando dois contratos: um de 446 milhões de euros com o Sporting a partir de 2018 e também por dez anos, e outro de 100 milhões de euros com o Sporting de Braga. Embora os valores não sejam diretamente comparáveis — cada contrato tem cláusulas próprias –, foram suficientes para pôr o setor a mexer. E a mexer muito.
Já em 2016, durante o verão, as hostilidades acalmaram-se: Meo, Nos e Vodafone anunciavam um acordo de partilha de direitos desportivos, que deitou por terra a ideia da exclusividade com os clubes (estes, na verdade, foram quem ficou a ganhar com aquela que foi apelidada de ‘guerra dos conteúdos’). Em fevereiro de 2017, a a Meo entrou no capital da Sport TV e a estrutura acionista da estação passou a incluir, para além da Olivedesportos, de Joaquim Oliveira, as três principais operadoras de telecomunicações portuguesas. A fatura dos contratos milionários tem vindo a ser (gradualmente e indiretamente) passada aos clientes.
Nesta altura, estávamos longe de saber que a Eleven Sports se preparava para entrar no mercado. Ou mesmo que iria conseguir fazer uma proposta suficientemente aliciante à UEFA para ficar com a Liga dos Campeões, um dos conteúdos desportivos premium mais caros do mercado.
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