Facebook permitiu que crianças gastassem milhares de euros em jogos. Mas neste jogo os pais não entravam
Os pais não sabiam de nada e, às vezes, nem mesmo as crianças. Apenas o Facebook estava consciente de que os menores gastavam o dinheiro dos seus pais nos jogos mas, ainda assim, não quis evitá-lo.
As crianças andavam às compras sem os pais saberem e o Facebook agradecia. Jogos como Angry Birds, PetVille ou Ninja Saga eram, na altura, os preferidos de muitas crianças que, para ganharem mais facilmente, compravam poções ou armas. Como? Através do cartão de crédito dos seus pais, que não sabiam de nada.
De acordo com o Reveal, do Centro de Jornalismo de Investigação dos Estados Unidos da América (acesso livre, conteúdo em inglês), apenas a rede social de Mark Zuckerberg sabia deste “jogo”. O que acontecia era que os pais colocavam os dados do cartão uma única vez na plataforma, para comprar algo para o jogo, e, a partir daí, o Facebook memorizava esses mesmos dados, excluindo a necessidade de confirmá-los ou voltar a introduzi-los nas futuras compras.
Segundo o Centro de Jornalismo dos Estados Unidos da América (EUA), o Facebook estava consciente de que muitos pais não sabiam que a empresa conservava os dados dos seus cartões, permitindo que os seus filhos continuassem a fazer compras sem precisar de nenhuma verificação ou palavra passe.
Isto porque o próprio Facebook já tinha feito uma pesquisa interna que o demonstrou. Muitas crianças não tinham, também, noção que estavam a fazer compras reais, com os cartões de créditos dos seus pais. Contudo, a rede social manteve este “jogo”, em que os pais não entravam, e, internamente, chamava-o de “fraude amigável”. Em causa estão milhões de dólares.
Uma equipa de colaboradores do Facebook, consciente do que estava a acontecer, ainda chegou a desenvolver um método que reduziria o problema, mas a gigante das redes sociais não implementou essa solução, dizendo que a estava focada em maximizar receitas.
De acordo com um comunicado do Facebook, a empresa abandonou esta prática em 2016. “Examinámos as nossas práticas e, em 2016, acordámos em atualizar os nossos termos e prover recursos específicos para pedidos de reembolso relativo a compras feitas por menores de idade no Facebook”, escreve a empresa.
Contudo, para ter uma ideia, nos EUA, estima-se que, entre 2008 e 2014, a empresa tenha somado mais de 30 milhões de dólares — cerca de 26 milhões de euros — em compras feitas por menores de 18 anos para adquirir itens relacionados com os jogos do Facebook. Já os reembolsos, por parte da rede social, andam à volta dos três milhões de dólares (cerca de 2,6 milhões de euros).
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