FMI admite erros nos resgates. Fez diagnósticos muito otimistas e exagerou na dose de austeridade
Previsões demasiado otimistas, financiamento insuficiente, metas desajustadas e medidas para o cortar o défice mais gravosas para a economia que o previsto: a análise do próprio FMI aos seus resgates.
Naquela que é a sua primeira grande análise dos resgates em que participou durante o período da crise financeira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu que alguns programas que desenhou e ajudou a implementar em países como Portugal tinham previsões económicas e metas desajustadas da realidade e mais austeridade do que era suposto.
Não é a primeira avaliação que o FMI faz dos programas de resgate que têm vindo a implementar, mas é o primeiro desta natureza. Na avaliação publicada esta segunda-feira, o FMI avalia 133 programas que estiveram ativos entre setembro de 2011 e dezembro de 2017 — entre eles Portugal, Irlanda e Grécia, apesar de não apresentar conclusões específicas para estes países. No final, o Fundo acredita que três quartos de todos os programas tiveram sucesso, pelo menos parcial.
Apesar do sucesso apontado, os membros do Fundo encontraram várias falhas (ou oportunidades para melhorar como lhe chamam) nos programas que foram implementados ao longo destes anos, algumas destas que foram apontadas repetidamente por responsáveis de governos e instituições onde forma aplicados estes programas.
- Previsões excessivamente otimistas: “Uma grande maioria dos programas tinham na sua base previsões otimistas”, diz o FMI. O problema? Ao terem previsões demasiado otimistas, os programas estavam condenados ao insucesso porque não tinham o financiamento e o ajustamento necessários. As previsões colocavam ainda a fasquia mais elevada do que deveria estar e colocando em causa a confiança dos investidores.
- Programas subestimaram impacto da austeridade no crescimento: “Os programas também terão subestimado sistematicamente o impacto do ajustamento no crescimento”. Segundo o FMI, a análise feita pelos técnicos sugere que os técnicos do Fundo que desenharam os programas avaliaram por baixo o impacto que o ajustamento, tanto nas contas públicas como no setor privado, teriam no crescimento económico. Só esta má avaliação deve ser responsável por pelo menos um quarto do erro de previsão.
- Consolidação orçamental foi menos amiga do crescimento do que estava previsto: “Esta análise conclui que muitos programas aplicaram um nível de consolidação orçamental que foi menos amigo do crescimento que o inicialmente previsto”. Os técnicos do FMI dizem que a consolidação orçamental foi conseguida através de cortes no investimento, retirando a hipótese a estas economias de crescer mais futuro, quando essa consolidação devia ter sido feita reduzindo a despesa e aumentando a receita.
- FMI precisa de ir além das áreas a que está habituado: Os técnicos dizem que as mudanças estruturais propostas pelo FMI a cada um destes países eram tendencialmente em áreas que o FMI domina, e não necessariamente aquelas que o país mais precisava. Segundo a avaliação, quando é crítico para atingir os objetivos do programa, o FMI tem de ir além das áreas em que está habituado a trabalhar — política orçamental e monetária — e, para isso, em de começar a desenvolver trabalho em áreas diferentes, como no mercado de trabalho.
- Programas poderiam passar de três para cinco anos: Uma das sugestões dos técnicos é alargar, em casos excecionais, o tempo que duram estes programas. Tradicionalmente, os programas não vão além dos três anos. A avaliação diz que o FMI deveria considerar alargar alguns programas para cinco anos, quando as reformas exigidas precisarem de mais tempo para produzir efeitos.
- É preciso avaliar melhor os níveis de dívida pública: Não é uma conclusão nova e até já há trabalho em curso, especialmente depois do que aconteceu com a Grécia. Os técnicos dizem que é necessário criar e implementar sistemas que sejam mais eficazes a avaliar os níveis de dívida pública, evitando assim qualquer análise parcial da dívida de um país.
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