Metade dos depósitos dos portugueses nos grandes bancos não paga nada
De todo o dinheiro depositado nas cinco maiores instituições financeiras nacionais, praticamente metade não gera qualquer juro. Em todo o sistema, 38% das poupanças rende zero.
Tidos tradicionalmente como o produto de poupança preferidos dos portugueses, os depósitos perderam a quase totalidade do brilho não só na carteira dos portugueses como dos próprios bancos. Cenário que é particularmente notório entre as instituições financeiras de maior dimensão. O “desinteresse” nas poupanças dos portugueses é de tal ordem que quase metade do dinheiro depositado nos cinco maiores bancos nacionais não rende nada.
No final de 2018, os portugueses tinham depositados à guarda da Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Novo Banco, Santander e BPI cerca de 171 mil milhões de euros, mostram os respetivos relatórios e contas. Desse montante global, 89,4 mil milhões de euros estavam em depósitos a prazo e produtos de poupança, enquanto 81,6 mil milhões de euros estavam à ordem e não apresentavam qualquer remuneração. Ou seja, cerca de 48% do total.
Esta proporção é bastante distinta face à realidade do setor como um todo. No final de 2018, apenas 38% do dinheiro depositado pelos portugueses nos bancos nacionais estava disponível na conta à ordem e sem qualquer remuneração associada.
Esta diferença acontece num contexto em que os pequenos bancos lutam por fazer crescer a sua base de clientes e por isso se mostram mais disponíveis a remunerar as respetivas poupanças. Cenário bastante distinto é o que vivem as instituições financeiras de maior dimensão.
Para estas, a captação de depósitos deixou há muito de ser uma prioridade. O nível historicamente baixo dos juros de referência tornou, até certo ponto, o dinheiro dos clientes num “fardo”. Ainda recentemente, Paulo Macedo, presidente da CGD, salientou isso mesmo. “No passado [um banco] punha imediatamente a render juros e era remunerado. Hoje, quando tem mais liquidez é penalizado”, afirmou, referindo-se ao custo que os bancos têm por “estacionarem” o dinheiro junto do Banco Central Europeu. Mario Draghi cobra uma taxa de 0,4%.
Por isso não será de estranhar que o banco público ofereça remunerações que na maior parte dos seus depósitos a prazo rondam os 0,05%, em termos brutos. Já o BPI apresenta taxas de juro brutas nulas na grande maioria dos produtos de poupança. Nos restantes maiores bancos o cenário não é muito melhor.
A prioridade dos bancos passou sim a ser dar crédito, segmento onde vão buscar grande parte da sua rentabilidade a par do que acontece com as comissões bancárias.
No caso concreto do banco público, a sua margem financeira (diferença entre os juros cobrados e os juros pagos) cresceu no ano passado 2% à boleia dos juros amealhados no crédito, ajudando a CGD a apresentar lucros que permitem voltar a remunerar o Estado através de dividendos. No caso do BCP, a subida da margem financeira foi semelhante: 2,3%.
Dos 4,53% aos 0,13% nos juros dos depósitos
Certo é que para os portugueses ter o dinheiro depositado no banco nunca rendeu tão pouco. A taxa de juro média oferecida nas novas aplicações a prazo fixou-se em março nos 0,13%, um mínimo histórico, o que leva a que, atualmente, cada vez mais famílias optem por manter o dinheiro à ordem.
Essa situação é bastante distinta face ao que se passava há pouco menos de uma década, altura em que os grandes bancos digladiavam entre si com vista a captar o máximo de poupanças possíveis, acenando com rentabilidades muito atrativas.
A braços com a necessidade de reequilibrar os seus rácios, os bancos não se imiscuíam de pagar a “peso de ouro” para engordar os cofres com as poupanças dos portugueses. Os juros dos depósitos a prazo chegaram a tocar os 4,53% em outubro de 2011. Houve mesmo depósitos a oferecerem juros de 5%, 6% e 7%, euforia que colocou quase em xeque a sustentabilidade dos bancos e obrigou o Banco de Portugal a colocar um pé no travão e a castigar os que pagassem remunerações acima de um determinado prémio face à taxa de referência de mercado.
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