Dívida da TAP é atrativa? Credibilidade paga riscos
Numa operação inédita, a companhia aérea está no mercado para captar 50 milhões de euros através de dívida para o retalho. Dá um juro de 4,375%. É muito? É pouco? Analistas dizem que paga o risco.
No processo de preparação para levantar voo na bolsa, a TAP está a “arrumar a casa”. A redução do passivo enquadra-se nesse objetivo, sendo que para isso a companhia aérea decidiu avançar com uma emissão de obrigações destinadas também a investidores de retalho. A operação arranca esta segunda-feira, apresentando um argumento que a empresa espera que seja de peso: Dá uma taxa de juro de 4,375%. Será suficiente para compensar o risco a que se estará a expor?
Num mundo de juros negativos nos mercados financeiros, mas também de taxas muito baixas (quase zero) nos depósitos bancários, taxas como a que a empresa portuguesa se propõe a pagar salta à vista. Mas quando o juro é elevado, habitualmente o risco também o é. Isso mesmo tem sido percetível com as emissões, por exemplo, das Sociedades Anónimas Desportivas (SAD), que apresentaram taxas de 3%, 4% e 5%.
“Apesar de em 2017 a TAP ter apresentado lucros, em 2018 apresentou um prejuízo de 118 milhões de euros, o que acaba por justificar esta taxa de juro mais alto”, diz João Farrajosa, account manager da XTB. “A mudança de estratégia nos últimos anos só terá efeito a longo prazo, e dentro de dois anos começará a notar-se essas mudanças”, nota Pedro Amorim, analista da Infinox, salientando que a “taxa de juro está ajustada ao risco específico”.
"A TAP não deixa de ser uma transportadora aérea com bastante impacto e credibilidade, não só em Portugal como na Europa. Essa credibilidade consegue trazer um certo ‘conforto’ aos investidores, acabando por ser uma remuneração justa para o risco.”
O track record da TAP em termos de resultados, mas também em termos de endividamento devem ser tidos em conta, mas a companhia aérea portuguesa tem a seu favor uma boa imagem pública. “A TAP não deixa de ser uma transportadora aérea com bastante impacto e credibilidade, não só em Portugal como na Europa”, sendo que essa “credibilidade consegue trazer um certo ‘conforto’ aos investidores, acabando por ser uma remuneração justa para o risco”, diz Farrajosa.
Overbooking?
A emissão arranca esta segunda-feira, 3 de junho, podendo os investidores colocar as ordens até dia 18, com o investimento mínimo a ser de 1.000 euros, equivalente a uma obrigação. Há 50 mil destes títulos disponíveis, mas, dizem os analistas contactados pelo ECO, poderão ser poucos. Mesmo com os 32 riscos da empresa explicados nas 1.057 páginas do prospeto, o juro alto num contexto de taxas quase nulas noutros produtos deverá levar a um overbooking.
“As condições são bastante vantajosas. Penso que a procura irá ser maior do que o esperado”, diz João Farrajosa. “Num clima em que as taxas de juro oferecidas pelos depósitos dos bancos são extremamente baixas (perto dos zeros), os portugueses vão ver esta obrigação como uma alternativa a diversificação das suas poupanças“, acrescenta Pedro Amorim, alertando, contudo, os investidores para que não coloquem toda sua carteira nestes títulos.
Outro ponto que os pequenos investidores devem ter em atenção é o dos custos. “À subscrição das Obrigações TAP 2019-2023 estarão associadas outras despesas e comissões”, salienta a TAP no prospeto da emissão. “O subscritor poderá, em qualquer momento prévio à subscrição, solicitar ao intermediário financeiro a simulação dos custos do investimento que pretende efetuar, por forma a obter a taxa interna de rendibilidade do mesmo”, alerta.
Um voo de teste
Esta emissão, a primeira que a TAP faz para o retalho, acontece numa altura em que a companhia área revela a ambição de rumar à bolsa, tendo apontado 2020 para o fazer. “Estamos a preparar a empresa para o momento em que surgir uma oportunidade [de entrar em bolsa], avançarmos“, disse recentemente Antonoaldo Neves, CEO da TAP. A colocação destas obrigações poderá ser um bom “voo de teste” ao apetite pelas ações que venham a ser dispersas.
“A emissão destas obrigações é ótima para os investidores analisarem a sua possível entrada no capital na empresa num futuro próximo“, diz o analista da Infinox, salientando o mérito que a operação tem em termos de estratégia de redução do passivo. Começar pela dívida “faz parte da estratégia [de entrada em bolsa] de muitas operações que são feitas pelas empresas a nível mundial”, remata o especialista, ao ECO.
“A redução do passivo ajuda a melhorar o aspeto financeiro da empresa, o que acaba por fazer aumentar o interesse junto dos investidores. No entanto, a TAP não deve ficar por aqui, visto que ainda terá que encontrar uma solução para os prejuízos crónicos (2017 foi uma exceção à regra) a que a empresa tem sido sujeita se quer ter sucesso nessa entrada em bolsa“, conclui João Farrajosa, account manager da XTB.
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