Quase 180 anos de história, 1,9 mil milhões de dívida e 600 mil turistas por repatriar. Sete respostas sobre a falência da Thomas Cook
Como entrou em falência? Quantos turistas há por repatriar? Qual o impacto em Portugal? Conheça a resposta a estas e outras questões que a insolvência da agência de viagens suscitou.
Ao fim de quase 180 anos de história, a Thomas Cook, uma das empresas de viagens mais antiga do mundo, fechou portas. O anúncio da falência deste operador turístico — que foi confirmado às 2h00 pela Autoridade de Aviação Civil britânica — deixou milhares de turistas “encurralados” nos seus destinos de férias, a precisar de ajuda do Governo e das companhias de seguros.
A “insolvência imediata” da empresa britânica resultou do colapso das negociações que tinham como objetivo estabelecer um acordo de financiamento. O grupo precisava de arrecadar 200 milhões de libras (cerca de 227 milhões de euros) em fundos adicionais, reivindicados pelos bancos, como o RBS ou o Lloyds.
Conheça a resposta a estas sete perguntas e saiba qual o desfecho de 178 anos de história, bem como quais são, agora, as pontas soltas deixadas pelo operador turístico.
- O que fazia a Thomas Cook?
Criada em 1841, a empresa com sede em Londres administrava companhias aéreas, hotéis e resorts. A Thomas Cook vendia pacotes turísticos para mais de 19 milhões de clientes em todo o mundo. O grupo possui 105 aeronaves e um total de 200 complexos hoteleiros com a sua marca.
- Como é que a operadora de viagens centenária entrou em falência?
Com quase 180 anos de existência, a certa altura, a Thomas Cook viu-se obrigada a voltar-se para o mundo digital. Contudo, a essa transição para o online não foi fácil, acabando mesmo por perder terreno face às suas concorrentes digitais. As receitas encolheram e a dívida começou a aumentar, com os bancos a reivindicarem milhões de euros. O ritmo não quebrou e a agência de viagens britânica acabou com uma dívida, acumulada há dez anos, que já ascendia aos 2,1 mil milhões de dólares (cerca de 1,9 mil milhões de euros).
De acordo com a Reuters (acesso livre, conteúdo em inglês), a chinesa Fosun, maior acionista da Thomas Cook, conseguiu um pacote de resgate no valor de mais de um milhar de milhão de euros, mas os bancos — como o RBS ou o Lloyds — exigiram outros 227 milhões de euros já esta semana.
Era fundamental, por isso mesmo, obter um acordo de financiamento durante as negociações entre os seus acionistas e os bancos, sobretudo tendo em conta a época do ano: a chegada dos meses de inverno, nos quais se preveem menos receitas, combinada com os pagamentos devidos às cadeias de hotéis pelos serviços deste verão. A Thomas Cook não conseguiu, no entanto, encontrar fundos necessários para garantir a sua sobrevivência e, por isso, entrou em “liquidação imediata”, fechando as portas ao fim de 178 anos, disse o operador turístico em comunicado.
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- Quantos empregos estão em risco?
De acordo com o The Guardian (acesso livre, conteúdo em inglês), cerca de nove mil empregos no Reino Unido estão, agora, em risco.
- O que aconteceu aos clientes que estão agora a gozar os pacotes de férias da Thomas Cook?
Com a insolvência da Thomas Cook, centenas de milhares de turistas que viajaram através da empresa britânica, ficaram “presos” nos seus destinos de férias. Os clientes que gozavam de pacotes de férias organizados pela operadora de viagens no exterior não conseguiram sair dos complexos (hotéis e resorts) sem pagar os valores decorrentes das estadas, já depois de terem efetuado o mesmo pagamento à Thomas Cook.
- Há quantos turistas “encurralados” nos seus destinos de férias?
Estima-se que haja 600 mil turistas por repatriar. Desses, 150 mil britânicos irão, agora, ser repatriados por ação do Governo britânico, naquela que já é intitulada Operação Matterhorn. De acordo com a Autoridade da Aviação Civil, esta será mesmo a maior operação de repatriamento em tempos de paz da história do Reino Unido, com um custo que rondará os 700 milhões de euros.
De acordo com a BBC (acesso livre, conteúdo em inglês), já há um site que disponibiliza informação útil para que os clientes britânicos da Thomas Cook possam regressar ao seu país.
A operação de repatriamento — que terá de ser organizada pelas autoridades — começa esta segunda-feira e estende-se até ao dia 6 de outubro.
- Há portugueses nesses 600 mil turistas?
Questionada pela ECO, a Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT) afirma que, “à partida, há zero portugueses implicados” nestes turistas por repatriar. Contudo, em relação aos turistas portugueses que tenham adquirido pacotes de férias da Thomas Cook, a Secretaria de Estado do Turismo refere que “foram já acionados os mecanismos de informação e apoio ao consumidor”.
Por outro lado, entre os 600 mil turistas, há britânicos “encurralados” em terras portuguesas. De acordo com a Secretaria de Estado do Turismo, liderada por Ana Mendes Godinho, “segundo a informação da embaixada britânica, há 500 pessoas afetadas no Algarve”.
- A falência da Thomas Cook terá algum impacto na economia portuguesa?
Apesar de as entidades responsáveis pelo turismo em Portugal estarem, ainda, a calcular o possível impacto, esta manhã, em declarações à TSF, Elidérico Viegas, fundador e vice-presidente da Confederação do Turismo Português (CTP) e presidente e fundador da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) disse que a falência da Thomas Cook terá um impacto “terrível” no turismo algarvio.
“O impacto é enorme, enormíssimo. A Thomas Cook opera em vários países, sobretudo nos principais emissores de turistas para o Algarve. Não apena no Reino Unido, mas também na Alemanha e na Holanda (…) Para além dos turistas que vamos deixar de receber, as dívidas acumuladas ao longo dos últimos meses irão afetar terrivelmente a situação das empresas”, disse, acrescentado que os prejuízos podem “ascender a milhões de euros”.
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