Boris Johnson pode dar novo impulso à libra, mas “espera está a matar a economia do Reino Unido”
A moeda britânica está barata devido à pressão do Brexit nos últimos três anos. Novo adiamento da data alivia e a expectativa é que Johnson consiga dar impulso, mas há dúvidas sobre novo Parlamento.
O pior cenário possível — de um hard Brexit — parece afastado, aliviando a tensão vivida pela libra esterlina há três anos. Com a data do divórcio entre Reino Unido e União Europeia (UE) adiada até 31 de janeiro, o futuro da moeda britânica será determinado nas eleições antecipadas e no desenho do próximo Parlamento.
O primeiro Brexit Day marcado foi 29 de março. Seguiu-se 12 de abril e, depois, passou para quinta-feira, 31 de outubro. Esta data também caiu e, três adiamentos depois, o limite acordado é agora até 31 de janeiro de 2020. “A extensão do prazo e a perspetiva de eleições parlamentares, que tornem possível o apoio necessário para que se alcance um desenlace, criam um novo momento de pausa, com os mercados a adotarem uma postura de expectativa“, explica Ricardo Evangelista, senior trader da ActivTrades.
“Muitos investidores reagiram à incerteza quanto ao desfecho do Brexit voltando as costas à libra, justificando assim as perdas sofridas cada vez que surgia no horizonte a possibilidade de um Brexit sem acordo, para o qual os mercados olham como sendo o pior desfecho possível para o processo. No último mês, a moeda britânica ganhou mais suporte nos mercados, atingindo máximos de cinco meses porque a probabilidade de uma saída sem acordo é agora menor”, aponta.
Os últimos três anos, desde o referendo do Brexit em junho de 2016, têm sido uma roda-viva para a libra, enquanto o shortselling disparou. O hard Brexit, ou seja saída sem qualquer acordo, era visto como o pior cenário para a moeda, pelo que de cada vez que a hipótese ganhava forma, a libra afundava. Por outro lado, quando o cenário se torna menos provável, a libra avança, beneficiando do sentimento mais positivo em relação ao futuro da economia britânica.
A libra está atualmente subvalorizada em 25%, segundo a estimativa Allianz Global Investors (GI). “O Reino Unido é um sítio muito interessante para investir neste momento, mas têm de se estar disposto a lidar com a volatilidade política”, sublinhou Neil Dwane, estratega global da gestora de ativos.
Libra ao sabor das negociações do Brexit
Fonte: Reuters
O Parlamento britânico aprovou esta terça-feira a marcação de eleições antecipadas no Reino Unido para o dia 12 de dezembro, depois de o primeiro-ministro Boris Johnson ter retirado de votação o acordo que tinha sido alcançado em Bruxelas. O trabalhista Jeremy Corbyn vai agora defrontar o conservador Johnson.
“Segundo as mais recentes sondagens, os Conservadores têm uma vantagem saudável contra os Trabalhistas e é esperado que vençam as eleições com uma maioria razoável. Isto poderá, claro, mudar ao longo da campanha, como a anterior primeira-ministra Theresa May descobriu em 2017“, afirmou Azad Zangana, economista e estratega sénior para a Europa da Schroders.
A vitória de Johnson poderá dar impulso à libra, devido à expectativa de que consiga avançar com um plano de saída, sendo que a ActiveTrades estima que a moeda volte a atingir 1,40 dólares.
“A maior ameaça é o partido do Brexit. Liderado por Nigel Farage, quer que o Brexit aconteça o mais depressa possível e sem acordo“, alerta, no entanto, Zangana. Já Dwane considera que “o pior cenário seria um Parlamento semelhante ao que temos agora” que continue o impasse e resulte em novos adiamentos do divórcio porque “a espera está a matar a economia do Reino Unido”.
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