Standard & Poor’s classifica rating da emissão de dívida da TAP como “lixo”
Antonoaldo Neves está em roadshow, esta terça-feira, em Londres. Na primeira avaliação de rating à TAP, S&P avaliou a operação no nível especulativo de BB-, a três níveis de "investment grade"
A TAP quer voltar a emitir dívida. Desta vez são 300 milhões de euros apenas para investidores institucionais, segundo comunicou esta segunda-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os títulos têm um prazo de cinco anos e a taxa de juro ainda não é conhecida. A Standard & Poor’s foi a primeira agência a avaliar a operação da TAP e classificou-a como investimento especulativo, a três níveis de “investment grade”, idêntico à American Airlines, acima da notação de companhias como a Turkish Airlines, a GOL ou a SAS, e apenas a um ‘notch’ da Air France (BB). Companhias de países com notação de rating superior à de Portugal.
“A sociedade Transportes Aéreos Portugueses, S.A. anunciou hoje a sua intenção de lançar uma oferta dirigida a investidores institucionais de obrigações sénior com o valor nominal agregado indicativo de 300 milhões de euros com maturidade em 2024 e taxa de juro a ser definida após o período da oferta“, anunciou a empresa em comunicado à CMVM.
O anúncio da TAP é, para já, uma declaração de intenções em que a transportadora aérea diz pretender avançar com a operação, mas não garante que o vá fazer. Ou seja, estará apenas a sondar o mercado para perceber o interesse de grandes investidores em novos títulos de dívida da empresa. “Não existe garantia de que a oferta será concluída ou, se concluída, quanto às condições da sua conclusão“, alertou a TAP no primeiro comunicado ao mercado.
O ECO sabe que o CEO Antonoaldo Alves está em roadshow e vai presentar a oferta a investidores esta terça-feira, em Londres, e também na quarta-feira. O objetivo é que a operação esteja fechada, o mais tardar, na quinta-feira.
A agência de notação financeira S&P avalia a operação em BB-, ou seja, no terceiro nível de “lixo”, com outlook estável. “O nosso rating preliminar da TAP reflete a posição de liderança da companhia aérea no aeroporto de Lisboa, onde detém 55% dos slots“, refere numa avaliação emitida após o anúncio da TAP. Ao nível de “investment grade” estão companhias como a Lufthansa e a IAG.
Além da posição competitiva da companhia aérea no aeroporto de Lisboa e de 25% dos resultados serem gerados com as rotas para o Brasil (onde enfrenta baixa concorrência), também o facto de o Estado, através da Parpública, deter uma posição de controlo na TAP, ajuda o rating.
Ainda assim, não o suficiente para ser considerado um investimento de qualidade. “Este mercado emergente [o Brasil] expõe o grupo TAP a elevado nível de volatilidade, como se viu em 2018 quando a instabilidade política e eleições governamentais prejudicaram o tráfego aéreo de e para o Brasil”, alerta a S&P. “Também expõe o grupo ao valor do real brasileiro“.
Nova dívida vai servir para pagar à banca
Caso a oferta avance, as receitas conseguidas têm dois objetivos. Por um lado, a “antecipação do reembolso de determinados empréstimos no âmbito do passivo existente da TAP e extensão do respetivo prazo médio de maturidade” e, por outro, o “pagamento de comissões e despesas relacionadas com a oferta das obrigações”.
A estratégia justificou o outlook estável da S&P, que diz que o refinanciamento dos empréstimos bancários, “que estão sujeitos a uma margem apertada de negociação”, permite “eliminar o risco de incumprimento a 31 de dezembro de 2019”. Do total de 651,8 milhões de euros em dívidas aos bancos, 176,3 milhões atingem a maturidade em menos de um ano.
Esta nova operação junta-se a outra emissão realizada pela empresa este ano. A TAP, em junho, fez a sua primeira emissão de obrigações para o mercado de retalho. A companhia aérea registou uma procura total superior à oferta e acabou por captar 200 milhões de euros em obrigações com maturidade em 2023, em que oferecia uma taxa de juro de 4,375%.
Esta foi a maior emissão de retalho por uma empresa portuguesa de obrigações nos últimos sete anos, só superada por uma emissão da Portugal Telecom, em 2012.
Nos últimos dois anos, a TAP tem procurado reduzir a exposição a dívida remunerada com taxa variável como forma de controlar os riscos que envolvem a empresa, tendo passado de uma dívida a taxa variável equivalente a 92% do endividamento total no fim de 2017 para 68% em março de 2019.
Além da alteração do perfil da taxa de juro, a TAP está igualmente a aproveitar as emissões de dívida para consolidar o passivo num prazo mais alargado através do refinanciamento de dívidas que se venciam num futuro próximo, mas também para reforçar a tesouraria e financiar a operação corrente.
A dívida líquida remunerada (excluindo leasings operacionais) da TAP situou-se em 691,3 milhões de euros, no final do primeiro semestre de 2019, o que representa um agravamento de 139,1 milhões (25,2%) face ao final de 2018. A TAP divulgou, também esta segunda-feira, novos resultados que mostram prejuízos de 111 milhões de euros entre janeiro e junho.
(Notícia atualizada às 18h35)
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