Lehman Brothers, regulação e fintech, as “circunstâncias adversas” que levaram ao PER da Orey
Empresa sublinha que desde que entrou no negócio financeiro, "as circunstâncias revelaram-se, em geral, adversas", tornando o setor "muito menos atrativo".
Fundada em 1886, a histórica empresa de distribuição e logística Orey Antunes decidiu, em 2004, diversificar a atividade e entrar no setor financeiro. Ano e meio depois de ter anunciado que iria desinvestir neste segmento do negócio, a empresa-mãe pediu a abertura de um Processo Especial de Revitalização (PER) e explica que o setor tornou-se “muito menos atrativo” devido a um conjunto de “circunstâncias adversas”.
O PER diz respeito à Orey Antunes e foi apresentado na sequência do processo de desalavancagem e de aumento de rentabilidade que tem sido implementado nos últimos quatro anos. Apesar dos esforços, mantém-se um desequilíbrio financeiro de 12 milhões de euros, o que representa um risco de liquidez. O processo não abrange a Orey Gestão Imobiliária nem a Orey Financial já que a última já estava apenas a realizar os procedimentos necessários para encaminhar os ativos dos clientes e fechar a atividade.
“Em 2018, a SCOA [holding do grupo Orey] decidiu centrar a sua estratégia nos transportes e logística, tendo tomado a decisão, na sequência da venda do Banco Inversis, em julho de 2016, de descontinuar o negócio financeiro e de executar o desinvestimento dos ativos não operacionais no Brasil, nomeadamente os projetos Araras e OpIncrível”, refere a empresa liderada por Duarte d’Orey, no PER. “A decisão referida no parágrafo anterior colocou um ponto final na estratégia anteriormente seguida“.
A empresa sublinha que desde resolveu, em 2004, diversificar o negócio, “as circunstâncias revelaram-se, em geral, adversas”. Explica que o setor tornou-se “muito menos atrativo”, devido a quatro fatores:
- “A verificação de uma sucessão de crises, iniciada com a falência da Lehman Brothers, a que se seguiu a crise do subprime, a qual se arrastou não só pelos Estados Unidos da América, mas também pela Europa e, em concreto, por Portugal;
- A existência de margens substancialmente mais reduzidas no negócio, reclamando assim uma escala cada vez maior;
- O aumento significativo do peso da regulação; e
- O aumento da concorrência, desregulada, dos negócios da fintech“.
A presença da Orey no setor financeiro foi assim, segundo a empresa, pressionada pela conjuntura interna e forte competição no setor. Esta não é a única financeira a queixar-se. Após a crise, os reguladores apertaram o cerco para aumentar a proteção dos investidores e prevenir que situações que levaram à crise voltassem a repetir-se, nomeadamente ao nível dos deveres de informação e nos níveis de alavancagem.
A emergência das tecnológicas do setor financeiro gerou, por isso, contestação com bancos e financeiras e alegarem que estas não são obrigadas ao mesmo escrutínio que os grandes grupos. Os próprios supervisores financeiros têm alertado para os riscos e desafios de novas soluções, mas — apesar de as próprias fintech querem regulação específica — esta ainda não existe.
A Orey Financial pediu, em agosto, ao Banco de Portugal que lhe retirasse a licença para operar enquanto instituição financeira e já transferiu 87,76 milhões de euros em ativos dos clientes para duas dezenas de intermediários financeiros. Há 2,34 milhões de euros que ninguém reclamou e vão entrar num processo judicial para serem entregues à Caixa Geral de Depósitos.
O grupo, que teve prejuízos de 10,77 milhões de euros em 2018 e diz ter um desequilíbrio financeiro de curto prazo de cerca de 12 milhões de euros, está agora em negociações com os credores. Pede, no âmbito do PER, perdão de 90% a 95% sobre dívidas que ascendem a 50 milhões de euros, sendo que a Caixa Geral de Depósitos é o banco mais exposto à empresa.
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