Ghosn: “Japão prendeu-me de surpresa e eu surpreendi-os ao fugir”
Visto como uma referência na indústria automóvel, Ghosn diz-se vítima de um complô dentro da Nissan e volta a apontar o dedo à justiça nipónica, por não ter leis para os acusados se defenderem.
Carlos Ghosn, antigo presidente da Renault-Nissan, volta a apontar o dedo à justiça japonesa, dizendo que foi vítima de um complô contra si por ter demasiada influência no mundo automóvel. Diz que foi prejudicado por ser “estrangeiro e conhecido”.
Em entrevista ao El País (acesso livre, conteúdo em espanhol), o antigo executivo realça o seu papel na Nissan durante quase duas décadas, onde, a seu ver, conseguiu implementar “uma outra forma de gestão frente em relação ao modelo japonês”, entrando para liderar a recuperação da fabricante automóvel, com sede em Yokohama, no Japão.
Visto durante muitos anos como uma referência na indústria automóvel, Ghosn diz-se vítima de um complô dentro da Nissan. “Ao ter uma reputação tão forte, tornava-se difícil livrarem-se de mim sem destruirem a minha imagem. Por isso, começaram a dizer que era um ditador, um ganancioso…. Sou um homem determinado, não um ditador“, atira.
Para Ghosn, o ponto de viragem foi em 2017, quando passou a assumir “mais pressão sobre a administração, exigindo um plano de ação, após detetar uma quebra nos resultados“, explica. A partir daí deu-se uma “certa cisão com a equipa de direção e, sobretudo entre Hiroto Saikawa [a pessoa que o sucedeu à frente da Nissan] e José Muños”, explica. Questionado sobre a razão de terem feito um complô contra si, justifica a atuação por ser “estrangeiro e conhecido”.
Durante a entrevista, refere-se à justiça nipónica como “um ponto negro no país”, dando a entender que no Japão não há leis para se defender. “Não é certo que seja julgado no Líbano. Mas no Líbano, França ou Brasil há leis para me defender”, atira, acrescentado que 99,4% dos acusados no Japão são condenados.
Questionado sobre o dia que escolheu para fugir para o Líbano, 30 de dezembro, Ghosn explica que foi uma altura em que as pessoas “relaxam”. “Eles surpreenderam-me quando me prenderam, eu surpreendi-os ao fugir”, conclui.
Carlos Ghosn foi afastado dos cargos à frente da Renault e da Nissan depois de ser detido em Tóquio, a 19 de novembro de 2018, por alegadas irregularidades financeiras. Em finais de dezembro último violou as condições de liberdade sob fiança e fugiu do Japão para o Líbano.
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